CNC alerta que preços baixos ameaçam sobrevivencia de mais de 196 mil familias de cafeicultores
BALANÇO SEMANAL — 02 a 06/03/2015
CONSELHO INTERNACIONAL DO CAFÉ — Nesta semana, integramos a delegação brasileira que representou o País na 114ª Sessão do Conselho Internacional do Café da OIC. Antes do encontro, o CNC apresentou seu posicionamento em relação a diversos temas relevantes ao setor para a Embaixada do Brasil, os quais foram debatidos com a comitiva nacional e integrados às ações a serem adotadas pela delegação, que foi composta por: Rodolfo Osório de Oliveira, diretor do Departamento do Café; João Cruz Reis Filho, secretário de Agricultura de Minas Gerais; deputado federal Evair Vieira de Melo; deputado federal Silas Brasileiro e Márcia Chiarello, presidente executivo e assessora do CNC, respectivamente; Natália Fernandes, assessora técnica da CNA; Embaixador Claudio Frederico de Matos Arruda; e pelos representantes da Embaixada do Brasil em Londres, Conselheiro Joaquim Pina e Paulo Márcio Rodrigues.
O início da sessão foi marcado pela apresentação da admissão de observadores e por retrospectiva e comportamento do mercado mundial na temporada 2013/14 e as perspectivas para 2014/15. Também foi realizado um debate a respeito da redistribuição dos votos no fórum, no qual se definiu que, com exportação média de 31,6 milhões de sacas e uma participação de 31,7% nos embarques mundiais, o Brasil terá 271 votos, representando 13,55% do total.
— Cafés do Brasil: o Embaixador Claudio Frederico de Matos Arruda, atendendo à nossa solicitação, apresentou ao Conselho Internacional o vídeo elaborado pelo CNC que promove a sustentabilidade do setor cafeeiro no Brasil. O material mostrou às delegações dos países importadores e exportadores a pujança da cafeicultura nacional, enaltecendo o caráter familiar da produção, a organização em cooperativas, a rígida legislação ambiental e a rica biodiversidade, a preocupação social, a proteção à infância e o maior volume de produção certificada/verificada do planeta. Garantindo a divulgação global deste trabalho, o link para acesso ao vídeo foi disponibilizado no site e nas redes sociais da OIC e também pode ser conferido no Youtube, em suas versões em português (https://youtu.be/CD-MBMdOEaw) e inglês (https://youtu.be/OjS-pEY0tVU).
— Cenário mercadológico: o chefe de operações da Organização Internacional do Café, Mauricio Galindo, apresentou o atual cenário do mercado mundial, destacando que, após duas temporadas consecutivas de excedente na oferta, em 2014/15 será registrado déficit, frente à produção global prognosticada em 142 milhões de sacas e ao consumo de 149 milhões de sacas. Ele reportou que os estoques acumulados ajudarão no abastecimento do mercado, mas não indefinidamente, o que deve resultar em alta nos preços, haja vista que a demanda continua aquecida, especialmente nos mercados tradicionais, e há grande potencial de crescimento nos países emergentes e nos produtores.
Galindo explicou que a queda brusca dos preços ao longo de fevereiro ocorreu em função do retorno das chuvas no Brasil — ainda que não permitam a recuperação das perdas ocasionadas pelo grave cenário de falta d’água, altas temperaturas e déficit hídrico registrado em 2014 e janeiro de 2015 no País —, o que acelerou as vendas e fez as exportações mundiais somarem um volume recorde de aproximadamente 112 milhões de sacas, superando as 108,9 mi/scs de 2013 e o maior volume anterior, de 2012, com 110,8 mi/scs. Ele apresentou que todos os indicadores do arábica recuaram, enquanto o do robusta subiu levemente, fato que deve criar certa resistência para a continuação das quedas nos preços dos arábicas.
A delegação brasileira, por meio do posicionamento apresentado pelo CNC, transmitiu que o estresse hídrico prolongado de 2014 e o veranico de janeiro deste ano ocasionaram danos consideráveis e irreversíveis nas lavouras cafeeiras do Brasil, conforme demonstrado no quadro anexo. Portanto, foi comunicado que o retorno parcial das chuvas em algumas áreas produtivas, em fevereiro, serviu apenas para possibilitar a granação dos frutos que estão nas plantas e não mais para recuperar os chumbinhos que não vingaram.
Reiteramos que é nítida, até o momento, a menor quantidade de frutos nos pés, com a má formação das rosetas, bem como a desuniformidade dos grãos, o que, inegavelmente, já impactará de forma negativa na safra 2015. O estágio de desenvolvimento dos cafezais no campo indica que a produção seguinte também tende a ser comprometida, dado o menor desenvolvimento dos internódios do cafeeiro, que, em média, encontra-se com um atraso de dois a quatro nós. Assim, certamente não observaremos o crescimento padrão de cerca de 15 nós ao longo de todo o ano, afetando o volume a ser colhido em 2016, haja vista que são nesses nós que nascem os frutos das safras futuras.
Frente às incertezas quanto ao tamanho das colheitas brasileiras 2015 e 2016, surgiu grande especulação no mercado e as cotações estão se comportando de forma volátil, dificultando o planejamento da atividade. Para trazer maior clareza ao mercado, o CNC informou que contratou a Fundação Procafé para levantar, no campo, com fundamentos técnicos, o real tamanho das perdas na produção desta temporada e os impactos esperados na safra do próximo ano. A credibilidade das estatísticas que estão sendo levantadas justifica-se pela Procafé ser gerida por agrônomos com elevado conhecimento e capacidade técnica, já que são oriundos do quadro de funcionários do extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC).
— Promoção do consumo: o Conselho Nacional do Café voltou a defender que, no âmbito da OIC, sejam estimuladas discussões para a criação de uma iniciativa visando a promoção global do café, a qual inclui o desenvolvimento de estratégias de marketing para incrementar e fidelizar o consumo da bebida, principalmente nos mercados não tradicionais. Acreditamos que a Organização é o fórum ideal para, em conjunto com outras nações produtoras, captarmos recursos para a construção de um plano eficiente de promoção, em nível mundial, dos benefícios do café para a saúde e sua interface com esportes e bem-estar.
— Transferência de tecnologia: o Conselho Nacional do Café também reforçou, junto à delegação brasileira, a necessidade de cautela na condução da política de cooperação internacional do País no que se refere à transferência de tecnologia. Entendemos que não devemos incentivar e facilitar a transferência dos conhecimentos tecnológicos e científicos desenvolvidos com o empenho de valiosos recursos da nação aos concorrentes, sob a pena de sofrermos as consequências do aumento da oferta desses países, ocasionando preços mais aviltados aos produtores, com graves impactos econômicos e sociais nos municípios cafeeiros.
Enfatizamos que um quadro de preços baixos retira a possibilidade de renda da pequena monocultura do café, desenvolvida em mais de 196 mil estabelecimentos da agricultura familiar, distribuídos em 1.468 municípios brasileiros. Em consequência, esses pequenos produtores apenas teriam como opção abandonar o campo, gerando inchaços e instabilidade social nas cidades, com elevada possibilidade de aumento da violência, dada a falta de empregos e infraestrutura.
— Financiamento: o 5º Fórum Consultivo sobre Financiamento do Setor Cafeeiro promoveu uma troca de opiniões sobre como estruturar um projeto com eficácia para obter financiamento, aprofundando as questões discutidas na edição anterior, em setembro de 2014. O evento contou com apresentações de diversos bancos multilaterais e de agências financiadoras sobre a mecânica do financiamento de projetos de desenvolvimento do setor cafeeiro e os fatores chaves para a elegibilidade ao crédito. Estiveram presentes representantes do Banco Mundial, Banco de Desenvolvimento da Ásia, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Banco de Desenvolvimento Africano, IDH, DEG, USAID, Fundo de Desenvolvimento de Commodities, Fundo Comum para Commodities e Rabobank.
— AIC 2007: em 22 de setembro de 2014, a OIC acolheu a ratificação do Acordo Internacional do Café pela Bolívia, que vinha aplicando o AIC provisoriamente. Madagascar realizou o depósito de um instrumento de ratificação em 26 de novembro, assim, em 31 de dezembro do ano passado, integravam a OIC 46 Governos Membros. Considerando-se que a União Europeia é constituída por 28 nações, ao todo são 73 países que participam do Acordo. Benin, Guiné, Nigéria e República Democrática do Congo assinaram o AIC 2007 e estão finalizando processos internos para se tornarem Membros.
— Projetos no âmbito da OIC: foi informada uma nova conjuntura envolvendo o financiamento de projetos pelo Fundo Comum para os Produtos Básicos (FCPB), que tem substituído o financiamento através de doações pelo financiamento por meio de empréstimos reembolsáveis, agora concedidos a projetos com potencial para gerar lucros. Esse fato gera desafios para a OIC, entre os quais se destaca a transformação do papel da Secretaria da Organização de uma câmara de compensação, que abria caminho para a aprovação de projetos, para se concentrar na construção de relações com as instituições financiadoras, na facilitação do acesso aos doadores e no encaminhamento de projetos aos organismos apropriados.
— Estatísticas: foi identificado que o cumprimento do Regulamento de Estatística pelos membros exportadores piorou durante o ano, de maneira que, em média, 68% deles conseguiram atender à exigência de fornecer informações de maneira completa ou satisfatória, enquanto, entre os importadores, o cumprimento chegou a quase 100%.
Ciente dessa deficiência no que diz respeito aos países produtores, ganhou ainda mais importância o posicionamento que teve o CNC para a urgente necessidade de aperfeiçoamento e da existência de números confiáveis para inibir a geração de múltiplas projeções, sem fundamentos técnicos, de especulações e da consequente pressão sobre as cotações, fatores que dificultam o planejamento dos investimentos das nações cafeeiras.
Isso porque entendemos que a identificação das atuais deficiências no sistema de coleta e geração de estatísticas da OIC e o delineamento de estratégias para sua solução permitirá que a instituição tenha um papel mais ativo como fonte de informações, promovendo a transparência da economia mundial do café.
No encontro, também foi ressaltado o trabalho da mesa-redonda informal composta pela equipe de estatística da OIC e por especialistas de todo o setor cafeeiro, incluindo analistas independentes, consultores e representantes de grandes empresas do comércio. Em 2014, o foco principal foram os números do consumo, a respeito do qual esses profissionais constataram que os dados da Organização estavam condizentes com os dos especialistas, mas recomendaram uma revisão da metodologia utilizada para calcular o consumo na União Europeia. No ano safra 2014/15, a mesa-redonda examinará os dados da produção e a questão do equilíbrio global entre oferta e demanda.
— Fórum Global do Café: o representante da delegação italiana, Sergio Monti, apresentou informações atualizadas sobre os preparativos para o Fórum Global do Café, que ocorrerá nos dias 30 de setembro e 1º de outubro de 2015, na semana em que a OIC realizará suas reuniões na Expo Milão, na Itália. O evento será aberto ao público e seu conteúdo foi desenvolvido com o apoio de proeminentes pesquisadores e de institutos de pesquisa, abordando três virtudes do café: prazer, saúde e sustentabilidade. A programação preliminar conta com painéis que envolverão temas como ‘Café e Prazer’, ‘Café e Saúde’, ‘Café e Artes Criativas’, ‘Café e Sustentabilidade’ e ‘Café e Solidariedade’.
— Considerações e posicionamento: Além de participar de todas as reuniões do Conselho Internacional do Café da OIC, o CNC realizou uma audiência prévia, no dia 28 de fevereiro, com o diretor executivo da Organização, Robério Silva, na qual apresentou as preocupações do setor produtor da cafeicultura brasileira, externando, claramente, uma dúvida em relação à previsão do consumo frente à afirmação que a entidade fez sobre a necessidade de produzir mais café, ao passo que o Brasil e os demais produtores se queixam da dificuldade de permanência na atividade diante da falta de renda.
Também questionamos qual será o papel que a OIC passaria a desempenhar, dentro dessa reestruturação que vem sendo discutida, embora não constante no AIC 2007, para que possa ter atuação que apresente ao mercado a necessidade de resultados para os produtores. Nesse contexto, destacamos que somente através de estatísticas com números corretos, exatos, é que poderemos gerar o equilíbrio entre oferta e demanda para evitar excessos e, consequentemente, o aviltamento de preços.
Ainda antes da Sessão do Conselho Internacional, no dia 1º de março, foi realizada a já mencionada audiência na Embaixada do Brasil, oportunidade na qual fizemos questão de deixar claro o posicionamento do CNC, em nome dos produtores de café do Brasil, apresentado na reunião anterior, do dia 28, aos executivos da Organização.
Já ao longo da rodada de reuniões da OIC, fizemo-nos presentes mostrando aos demais players que a oscilação de preços ao produtor tem contribuído para o desinteresse na permanência do homem no campo, afetando diretamente os pequenos produtores que não possuem outra atividade, o que deixa a eles, como única opção, o êxodo rumo à cidade grande, que, por sua vez, não está preparada para recebê-los, situação que pode causar uma convulsão social.
MERCADO – Em contato com representantes das demais nações produtoras em Londres, duas das expressões que mais ouvimos foram “insatisfação” e “sofrimento” no que diz respeito aos preços praticados atualmente no mercado. Apesar disso, voltamos a observar, nesta semana, que as cotações futuras do café voltaram a cair, ainda sob influência do dólar fortalecido, principalmente no Brasil, e da ocorrência de chuvas em parte do cinturão produtor nacional. O clima especulativo é forte no mercado, alimentado pelas incertezas quanto ao volume e à qualidade da colheita brasileira que se iniciará dentro de dois meses.
A Somar Meteorologia informou a ocorrência de chuvas sobre a parte norte da região Sudeste nesta semana, principalmente sobre a Zona da Mata de Minas e o Espírito Santo. Mesmo assim, devido à grave situação de estiagem no Estado capixaba registrada nos últimos meses, a produção de conilon deverá registrar retração, contribuindo para o encolhimento da oferta brasileira em 2015, já que as principais origens de arábica enfrentaram dificuldades decorrentes do déficit de chuvas e das altas temperaturas desde janeiro de 2014.
No entanto, o principal fator de depreciação das cotações internacionais continua sendo o dólar fortalecido ante o real. O cenário econômico e político no Brasil levou a divisa norte-americana, na quarta-feira, a ultrapassar a barreira dos R$ 3,00, nível não atingido desde agosto de 2004. Ontem, o dólar comercial foi cotado a R$ 3,0115, acumulando expressiva alta de 5,3% na semana.
Com isso, na Bolsa de Nova York, o vencimento maio do Contrato C foi cotado, na quinta-feira, a US$ 1,3505 por libra-peso, acumulando queda de 545 pontos em relação ao final da semana passada. Na ICE Futures Europe, as cotações do robusta também apresentaram tendência de baixa. Ontem, o vencimento maio/2015 encerrou o pregão a US$ 1.875 por tonelada, com perdas de US$ 32 desde o final da semana anterior.
Seguindo o cenário externo, os preços do café se desvalorizaram no mercado físico brasileiro, que continuou retraído. Na quinta-feira, os indicadores calculados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) para as variedades arábica e conilon foram cotados a R$ 428,64/saca e a R$ 296,04/saca, respectivamente, com variação de -0,8% e 1,8% no acumulado da semana.
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