Café: Volatilidade foi a principal característica do mercado em março, diz CNC
Grande volatilidade foi a principal característica do mercado futuro do café arábica em março. Ainda sob a influência do clima, o vencimento mais líquido do Contrato C da ICE Futures US chegou a atingir a máxima de fechamento de US$ 2,0595 na primeira quinzena, nível mais alto desde 2012, para depois despencar 14% até o final do mês. Segundo a Agência Bloomberg, analistas consideram que a oscilação observada em fevereiro e março no mercado do café arábica já é a maior desde os anos 2000.
Com a persistência do veranico sobre as origens brasileiras, consultorias e traders cortaram suas estimativas para a próxima safra do País, aumentando a preocupação do mercado quanto à redução da oferta de café, frente à atual demanda aquecida. A importadora Wolthers Douqué reduziu em 10% sua estimativa para a produção nacional, projetando agora um volume de 47,7 milhões de sacas. A queda estimada pela consultoria F.O. Licht foi de 8 milhões de sacas, para um total de 48 milhões. Já a Pharos Commodities Risk Management projeta 48,374 milhões de sacas, ante as 54 milhões de sacas anteriores. Por outro lado, as estimativas que circulam no mercado para a safra 2014/15 do Brasil variam significativamente, reforçando o elevado nível de incerteza que gera a volatilidade dos preços.
Esse cenário ocasionou expressivo movimento de compra de contratos pelos fundos de investimento, sustentando a alta das cotações do café na Bolsa de Nova York na primeira semana de março. Segundo a Commodity Futures Trading Comission (CTFC), o saldo líquido comprado dos fundos no mercado futuro e de opções de café arábica da ICE Futures US aumentou de 27.866 lotes, no dia 25 de fevereiro, para 43.416 lotes, em 25 de março.
Na segunda quinzena do mês passado, as cotações do arábica perderam fôlego com a aproximação das chuvas de outono sobre as regiões produtoras brasileiras e o aumento da comercialização do café, pois as origens aproveitaram a alta dos preços do início do mês para reduzir seus estoques. A realização de lucros por parte dos investidores também contribuiu para o movimento de queda. Porém, como o veranico já causou danos irreversíveis em muitas lavouras cafeeiras, houve um limite para essa queda, sendo atingida a cotação mínima de fechamento do vencimento maio do contrato C de US$ 1,7115, no dia 21.
Há evidências que as chuvas do mês de março não foram suficientes para recuperar o déficit hídrico acumulado no primeiro trimestre. Segundo a Somar Meteorologia, a precipitação acumulada ficou abaixo da média climatológica do mês. Além disso, a Pharos Commodities Risk Management estima que o volume de chuva em março no Sul, Cerrado e Zona da Mata de Minas Gerais ficou entre 50% e 60% abaixo da média histórica.
Uma das consequências do clima adverso será a antecipação da colheita brasileira de arábica e conilon, que ocorrerá entre 15 e 25 dias mais cedo, conforme levantamento realizado pela Agência Reuters. No Sul de Minas Gerais, a colheita do arábica deverá intensificar-se no início de maio, quando o período normal seria no final do referido mês. No Espírito Santo, a colheita do conilon deverá adiantar-se do início de maio para meados de abril. No entanto, a Epamig estima que os produtores precisarão de maior volume de café em coco para encher uma saca, já que os grãos estão mal granados, miúdos e chochos. Ou seja, o rendimento da safra 2014/15 brasileira será significativamente menor.
A verdade é que a tendência de intensa volatilidade continue no mercado, até que sejam apurados números concretos sobre as perdas qualitativas e quantitativas da safra brasileira. O Citigroup, por exemplo, estima que os preços poderão variar entre US$ 1,50 a US$ 2,25 a libra-peso.
O vencimento maio do contrato C da ICE US encerrou o mês com perda acumulada de 270 pontos, a US$ 1,779 por libra-peso. No entanto, a alta registrada no primeiro trimestre é de aproximadamente 50%. A média de março foi de US$ 1,9 por libra-peso, valor 36% superior ao do mesmo período do ano passado.
Os estoques certificados de café da Bolsa de Nova York apresentaram redução de 28 mil sacas, encerrando o mês em 2,59 milhões de sacas. Esse volume é 5,5% inferior ao registrado em março de 2013, de 2,74 milhões de sacas.
Também sob influência das expectativas de aperto no quadro de oferta e demanda mundial de café, diante das condições climáticas adversas no Brasil e no Vietnã, os preços futuros do robusta na Bolsa de Londres apresentaram comportamento semelhante aos do arábica em Nova York. Na primeira quinzena do mês, foi atingida cotação máxima de fechamento de US$ 2.200 por tonelada no vencimento maio do contrato 409.
A expressiva alta foi estimulada pelo cenário de valorização do arábica em uma situação de baixos estoques nas torrefadoras, o que impulsionou a demanda pelos grãos de conilon, mais baratos. A retração das vendas pelos produtores do Vietnã e notícias de que o clima frio e seco pode afetar a próxima safra daquele país, conforme divulgado pela Associação de Café e Cacau (Vicofa), contribuíram para a valorização dos preços futuros do robusta.
Porém, seguindo a tendência de Nova York, as cotações apresentaram significativa queda na segunda quinzena do mês, atingindo mínima de fechamento de US$ 2.037/t, em 20 de março. Como o ritmo de queda da bolsa londrina é menos intenso que o da ICE – graças à retração das vendas vietnamitas –, observa-se estreitamento da arbitragem entre ambas, que passou de US$ 1,08 no início do mês para US$ 0,83 no último dia de março, para os vencimentos maio dos respectivos contratos. A inversão do spread entre os vencimentos maio/julho do contrato 409 indica preocupação quanto ao aperto na oferta de robusta no curto prazo.
Embora tenha sido observado um aumento na liquidez da comercialização vietnamita diante da alta de preços registrada desde fevereiro, o volume estocado nas propriedades é recorde, estimado em 850 mil toneladas na semana encerrada em 7 de março, de acordo com pesquisa realizada pela Bloomberg.
Segundo o Escritório Geral de Estatísticas do Vietnã (GSO, em inglês), foram embarcadas 824 mil toneladas de café até o mês de março, volume 4,6% inferior às 864 mil toneladas registradas entre os meses de outubro de 2012 e março de 2013. Observa-se perda de receita de exportação do país asiático no período analisado, de 14,3%, o que estimulou a retração das vendas.
No acumulado de fevereiro, as cotações do contrato 409 com vencimento em maio de 2014 apresentaram alta de US$ 51, encerrando o mês a US$ 2.094/t. A média mensal de US$ 2.107/t foi 2% inferior à do mesmo período do ano passado.
Em relação aos estoques certificados monitorados pela NYSE Liffe, houve continuidade da tendência de redução em março, quando o volume contabilizado foi de 398 mil sacas, 80% inferior ao total apurado no mesmo período do ano antecedente.
Refletindo a tendência internacional, no mercado doméstico brasileiro os preços do café apresentaram comportamento volátil, com desvalorização na segunda quinzena, principalmente para a variedade arábica. O indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) para o arábica encerrou o mês com perda acumulada de 2,7%, sendo cotado a R$ 396,35 no último dia de março. Já a variedade conilon não teve variação significativa do indicador, que, no dia 31, estava em patamar próximo ao do início do mês, a R$ 257,07.
De acordo com a instituição, a liquidez foi muito baixa no mercado nas últimas duas semanas do mês, em função do menor patamar de preços e da desvalorização do dólar ante o real. A cotação do dólar no Brasil sofreu desvalorização acumulada de 3,2% em março, encerrando a R$ 2,2694.
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