Matrizes e bezerros passam fome no nordeste do MT
A imagem era de um verdadeiro holocausto. A equipe da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) - que estava na região nordeste do Estado, apostava que nenhuma delas chegaria ao seu destino, que era uma pastagem a 200 quilômetros da cidade. A velha frase “era só couro e osso” caía como uma luva para a descrição dessa situação.
“Mais de 70% do nosso rebanho esta passando fome, 20% de nossa pastagem morreu na seca do ano passado e a situação se agravou com o ataque das cigarrinhas e lagartas. O momento é crítico e nosso gado está passando fome e temos de tirar os animais daqui para comer em outros pastos”, fala desolado o presidente do Sindicato Rural de Vila Rica, Eduardo Ribeiro. Ele disse que nessas viagens “mais de 10% do gado morre no caminho e, para pior a situação, ninguém quer comprar nosso gado, pela distancia e falta de estrada e quando compram, pagam muito pouco. Ficamos sem saída, pois se não vendemos perdemos porque o animal morre”.
A Acrimat visitou durante uma semana a região nordeste do Estado e o que encontrou foi um cenário de muitos problemas. “Os produtores estão pedindo socorro e solução para os inúmeros problemas que enfrentam e isso é possível, pelo menos para amenizar a situação”, disse o superintendente da Acrimat, Luciano Vacari.
Uma das formas de amenizar a situação, segundo Vacari, é a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 7% para 3,5% para a saída do boi em pé para outros estados.
“Hoje a região nordeste conta com um rebanho de quase 6 milhões de cabeças e apenas dois frigoríficos do Friboi operam e se aproveitam da situação dos pecuaristas pagando um preço pela arroba de até seis reais a menos em relação às demais regiões”.
Os produtores de Canarana (a 827 quilômetros de Cuiabá) relatam que para abater o gado precisam andar mais de 300 quilômetros para receber um pouco mais pela arroba. “Em Água Boa, que fica a 110 quilômetros, pagaram na semana passada R$ 88 reais pela arroba do boi inteiro, em Paranatinga, 310 quilômetros de Canarana, R$ 94 e em São Paulo, 1.200 quilômetros daqui, conseguimos um preço de R$ 92 pelo mesmo boi. Isso mostra que o frigorífico mais próximo faz pressão e paga o que quer”, disse o presidente do Sindicato Rural de Canarana, Marcos da Rosa.
Ele ressalta que a redução do ICMS “vai mudar a atual realidade e tornar nosso gado mais competitivo, mas não basta só isso, pois precisamos de estradas para transportar nossos animais. Precisamos ser ouvidos e atendidos”.
MAIS - Para Eduardo Ribeiro, de Vila Rica, a saída é a redução do ICMS e também do preço da pauta do boi em pé, que hoje é de R$ 1.480 para fora do Estado e R$ 1.360 para dentro. A sugestão do presidente do Sindicato é de redução de 35% do preço da pauta e o fim da cobrança por estimativa dos frigoríficos de abate diário de 600 cabeças.
“O pecuarista paga 100% dos animais abatidos e os frigoríficos, se abaterem 1.200 cabeças/dia, pagam apenas 600, e isso não é justo, pois se os frigoríficos pagarem o abate real, o governo não vai perder receita com a redução do preço da pauta do boi em pé para nós”, explicou Ribeiro.
A Acrimat já enviou ao governo do Estado o pedido de redução do ICMS de 7% para 3,5%. Em 2009 o governo concedeu o a redução no período de abril a setembro para a região nordeste e alguns municípios da região noroeste. O resultado foi o aumento de mais de 1.000% na comercialização do gado em pé para outros estados. “Esperamos por uma resposta positiva por parte do Estado, pois a situação é crítica”, finalizou Vacari.
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