Sombra artificial em confinamento reduz consumo de água do rebanho
Pesquisas de vários centros da Embrapa têm comprovado que a sombra proporciona, além de bem-estar aos animais, eficiência na produção. O experimento, realizado em São Carlos (SP), na Embrapa Pecuária Sudeste, avaliou o impacto do efeito do sombreamento artificial sobre as características fisiológicas, comportamentais e de desempenho de nelores.
Os animais que tiveram acesso à sombra consumiram diariamente, em média, três litros de água a menos que o gado que estava a pleno sol. Outro dado importante da pesquisa foi a produtividade hídrica – 10,37% maior para os nelores que estavam nos ambientes com sombra.
O especialista em manejo hídrico e pesquisador da Embrapa Julio Palhares, e a Zootecnista Taisla Novelli, doutoranda da Universidade de São Paulo (USP), analisaram os impactos da cobertura artificial em confinamento para o gado Nelore, considerado uma raça rústica, ou seja, que tolera altas temperaturas.
O pesquisador conta que o sombreamento promovido pela integração com árvores já é conhecido e utilizado por boa parte dos pecuaristas. O que tende a se tornar cada vez mais comum é a técnica de sombra artificial em confinamento. Nos experimentos, a estrutura utilizada foi uma tela com 80% de bloqueio da luz solar. Mas são vários os tipos de coberturas que podem ser usadas pelos produtores, de acordo com suas condições e necessidades.
Para Palhares, deve ser estimulada a implementação de tecnologias que ajudam a reduzir o impacto das mudanças climáticas e dar mais conforto aos animais e, ainda, melhorar a produtividade hídrica. Segundo ele, a sombra artificial influenciou no consumo de água e manteve o desempenho animal.
Resultados
A ingestão hídrica média individual dos bovinos, avaliada durante 76 dias, foi superior para os animais confinados a pleno sol em relação àqueles com acesso a sombra. O consumo médio diário dos nelores que estavam no sol foi de 40,63 litros de água por animal, enquanto o daqueles que estavam na sombra foi de 37,31 litros. De acordo com Novelli, essa diferença diária de 3,32 litros é significativa e imposta pelas condições a que os bovinos estavam expostos. “No ano de 2019, o Brasil abateu pouco mais de seis milhões de animais provenientes de sistemas confinados, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) de 2020. O que seria igual uma economia de mais de 1,5 bilhão de litros de água ou 1,5 milhão de metros cúbicos de água se todos os animais abatidos tivessem acesso ao tipo de sombra artificial utilizada durante o confinamento.
Em outro cálculo feito pela zootecnista, considerando o uso médio per capita rural de 100 litros por habitante ao dia (dados da Agência Nacional de Águas de 2019), a economia supriria o consumo anual de 42 mil habitantes que vivem no campo. “Dessa forma, sabemos que há um grande volume sendo consumido pela pecuária que poderia estar disponível para outras finalidades. Por outro lado, a escassez de informação sobre o número de animais em confinamento que possuem acesso às condições de sombra, e a falta de medição do consumo de água desses animais, impossibilita quantificar precisamente o volume que já estaria sendo economizado”, destaca Taisla Novelli.
Outro resultado importante foi a produtividade hídrica, 10,37% maior para os animais à sombra. A produtividade hídrica é a relação de quilogramas de peso de carcaça, por litros de água. “O objetivo é produzir o mesmo quilo de carne com menos litros de água”, afirma o pesquisador da Embrapa.
Para ele, isso é ambientalmente significativo e dá ao pecuarista e à cadeia produtiva informações sobre o desempenho hídrico do produto carne. “O modo como os pecuaristas usam a água, direta ou indiretamente, afeta a disponibilidade hídrica para toda sociedade”, conta Palhares.
Assim, o fornecimento de sombra pode auxiliar na conservação das fontes de água, além de apresentar benefícios produtivos, ambientais e econômicos. “Os animais são criados com bem-estar, o sistema de produção consome menos água, o consumidor ganha por ter um produto disponível com valores ambientais e de bem-estar animal”, explica o cientista.
A pesquisa
O experimento foi realizado na Fazenda Canchim, sede da Embrapa Pecuária Sudeste. Participaram do estudo 48 bovinos machos não castrados da raça Nelore, com 24 meses de idade e peso médio de 448 quilos. Os animais foram divididos em dois grupos. Um deles teve acesso à sombra artificial e outro, não.
O confinamento durou 96 dias. Nos primeiros 11 dias houve a adaptação à alimentação e à ingestão hídrica. Nos 76 dias posteriores, foram feitas as avaliações diárias do consumo individual de água e matéria seca dos grupos experimentais. Após esse período, os grupos foram divididos em três etapas de abate.
À medida que os animais deixavam o confinamento, os consumos de água e alimento daqueles que permaneciam continuaram sendo quantificados até o período máximo de 85 dias. Essa continuidade atendeu à exigência de metodologias utilizadas no trabalho que consideram o ciclo de vida todo do animal dentro da atividade de produção. O consumo de água no abate não foi considerado no estudo.
A dieta experimental de alto grão foi formulada com ingredientes utilizados em confinamento comerciais, entre eles farelo de soja, milho em grão moído, bagaço de cana in natura e suplementos minerais e vitamínicos. Foram usados aditivos alimentares e os níveis nutricionais ajustados buscando atender às exigências de manutenção e ganho dos animais de 1,5 Kg ao dia.
Aplicação nas propriedades
Ricardo Sechis é pecuarista da cidade de Nhandeara, interior de São Paulo, e está na atividade há mais de 30 anos. Sechis é um dos poucos produtores brasileiros que utiliza a sombra artificial em confinamento. Ele trabalha com as raças Angus e Wagyu. O confinamento na linha coberta, feito em estrutura metálica, tem 295 animais.
O pecuarista utiliza sombra desde 2012 e conta que a primeira opção pela cobertura foi devido à necessidade de sombreamento por questões de conforto térmico, porque as raças com que ele trabalha são mais sensíveis a altas temperaturas.
Segundo a médica veterinária da propriedade, Gabriela Sartori, os animais que ficam no sombreamento têm selo de sustentabilidade, selo rainforest e carne certificada. Ela conta que o desempenho animal e a lucratividade trazidos pela sombra nunca foram mensurados pela empresa, mas o bem-estar é perceptível. “Percebemos que, ao longo do dia, os animais buscam a sombra nos picos do calor. Nesses horários, eles sempre estão deitados, ruminando. Notamos que, quando é oferecida a sombra, os animais se encontram em uma condição mais confortável do que os que não têm essa disponibilidade”, ressalta Sartori.
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