Pecuaristas apostam em boas condições do pasto para ganhar queda de braço com JBS
O abalo na política nacional provocado pela delação dos irmãos Batista donos do conglomerado que inclui a JBS também travou o mercado nacional do boi gordo. Pecuaristas e analistas relatam que desde a última quinta-feira (18) o volume de negócios é praticamente nulo.
Mas, a ponta da cadeia aposta no bom suporte das pastagens para ganhar a queda de braço com a maior processadora de proteína animal do mundo. Embora as cotações do boi gordo estejam até R$ 10 abaixo do praticado no ano passado, a intenção dos pecuaristas é evitar que os preços derretam.
Desde a semana passada a JBS assumiu postura de compra somente no prazo com 30 dias, mas os produtores se recusam a vender, com medo de calote. Na região de Juína, no Mato Grosso - estado com maior rebanho do país - o pecuarista e presidente do sindicato rural, José Lino, conta que a postura do produtor neste momento é de evitar as vendas.
"Ninguém quer vender a prazo. Aqueles que precisam estão negociando com outros frigoríficos da região para receber à vista, mas esses também já estão com as escalas alongadas".
Para evitar que os preços caiam ainda mais, a ordem é negociar somente a necessidade de caixa. Até que a fumaça nebulosa se dissipe, os produtores vão segurando seus animais na fazenda com custo menor, graças ao alongamento na capacidade de suporte das pastagens.
Em um ano atípico para a pecuária, as chuvas se estenderam até maio, beneficiando os pastos. Com essa 'vantagem', o setor espera ter pelo menos mais 30 a 40 dias de folêgo até que o mercado tenha definições mais claras.
É evidente que a queda no preço da arroba desde o início do ano já causou prejuízo aos produtores, mas o objetivo agora é manter 'frieza' nas negociações. "Temos notícias de que as escalas da JBS caíram pela metade. Eles não conseguem comprar e tem pecuarista tirando animais da programação, então, seguramente precisarão vir ao mercado mais cedo ou mais tarde", diz Lino.
Segundo o analista José Vicente Ferraz, da Informa Economics FNP, no levantamento mais recente - realizado na semana passada -, as escalas de abate da JBS atendiam em média até 30 de maio. Somado a isso, os estoques das câmaras frias garantiriam abastecimento até 3 de junho.
"Nosso entendimento é que empresa precisará continuar atendendo seus fornecedores do mercado interno e, principalmente, externo. Essa necessidade pode modificar a postura atual, mas não podemos prever qual será", acrescenta Ferraz.
A expectativa é que a empresa possa retomar os negócios a vista e/ou aumentar as ofertas de compra. Em praticamente todas as regiões do país, a JBS tem preço abaixo dos demais frigoríficos. Em Juína, enquanto os concorrentes pagam até R$ 118/@ pela vaca gorda, a empresa dos irmãos Batistas não oferta mais que R$ 116/@. Em Goiás a realidade é parecida, o vice-presidente institucional da Faeg (Federação de Agricultura do Estado), Eduardo Veras, conta que a diferença entre os frigoríficos é de R$ 5/@.
Esperamos que o cenário se desenrole o mais breve possível, porque "produtor está perdendo a capacidade de honrar seus compromissos financeiros", diz Veras. Segundo ele, a Faeg já organiza rodadas de discussão para buscar alternativas ao setor, como acesso ao crédito e prolongamento de custeio.
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Recuperar a JBS é interesse de todos
O escândalo gerado pelas delações dos empresários Joesley Batista e Wesley Batista, companhia que possui no Brasil 36 unidades de abate de bovinos, gerou um clima de apreensão na cadeia pecuária.
A empresa, que é a maior processadora de proteína animal do mundo, poderia causar sérios danos há produção nacional caso deixa-se de operar. Para José Vicente Ferraz, da Informa Economics FNP, "é de interesse de todos manter a JBS viva. Do governo, dos fornecedores e dos compradores."
Segundo ele, no mercado interno uma reestruturação do mercado a fim de absorver a demanda da JBS, poderia ocorrer no curto prazo. "Coisa de 2 a 3 meses acredito". Desde que o frigoríficos começou a crescer em todo o país, a JBS vem adquirindo unidades de abates em diversas regiões, mas sem operar. Na visão de alguns analistas e produtores, aquisição e reabertura desses matadouros por outras empresas, poderia ser a solução no curto prazo.
O grande problema está no mercado internacional. A JBS possui volume significativo de contratos no exterior e, uma possível dissolução significaria um retrocesso na política de vendas externas. "Uma recuperação desse mercado demoraria anos para ocorrer, e teríamos um problema de oferta interna", acrescenta o Ferraz.
Já na visão da analista, Lygia Pimentel, da Agrifatto, em caso de insolvência da JBS, as possibilidade estaria no fatiamento da empresa em companhias menores. "Nesse caso, ela seria comprada por diferentes companhias, inclusive grupos internacionais. Isso reduziria a concentração de mercado e certamente reaproximaria o fluxo de investimentos da empresa, colocando o mercado e, especialmente a pecuária, de volta aos seus trilhos."
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