Pecuarista pode perder até 10% na venda de animais com fim da certificação de raça
A suspensão das certificações de raças por grandes indústrias nacionais – programa pelo qual frigoríficos auditavam rebanhos e pagavam prêmios pela melhor qualidade das carnes - foi mais um complicador no cenário já conturbado dos pecuaristas.
Os produtores recebiam bonificações de até 10% pela criação de raças específicas. Esse mecanismo garantia melhor resultado na atividade, mas o noticia do encerramento da certificação tem preocupado o setor.
Gedeão Silveira Pereira, vice-presidente da Farsul (Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul), conta que o fim da bonificação poderá reduzir em até 11% o valor do animal entregue. No estado, o boi sem certificação é comercializado na média de R$ 9,80/carcaça, enquanto o preço pago por certificação chega a R$ 10,90/carcaça.
A Marfrig informou que irá interromper o processo de certificação de animais das raças hereford, braford, angus e seus cruzamentos. “Infelizmente tínhamos inúmeros cortes de qualidade sem valorização no mercado, o que comprometia a rentabilidade”, diz Mauricio Manduca, gerente da mesa de negócios da Marfrig Global Foods, durante evento de pecuária em Ribeirão Preto.
A Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB), destacou que o contrato com a Marfrig venceria no final do mês, mas não houve interesse da empresa em renovação. Além disso, ressaltou que o acordo para o fim das certificações foi realizado antes da deflagração da operação Carne Fraca.
A ABHB acredita que deverá ocorrer redução de 20% a 25% no volume de certificações nos próximos meses. Mas, ressaltou que segue buscando novas indústrias frigoríficas parceiras gaúchas a fim de dar novas alternativas de bonificação aos produtores, bem como, suprir o mercado habituado a consumir a carne bovina com o selo de qualidade Carne Certificada.
No Rio Grande do Sul, Gedeão Silveira ressalta que o estado possui um volume elevado de indústrias frigoríficas de médio e pequeno porte, que continuam realizando a certificação e, possivelmente serão a alternativa de venda do produtor.
“Certificar tem custo, pois é preciso que o frigorífico coloque um técnico para avaliar a qualidade do processo. Mas, se mudarem as condições de mercado, nos mudaremos a estratégia”, argumentou Fabiano Tito Rosa, gerente de compra de gado da Minerva Foods.
Em nota, a JBS informou que segue com as certificações de raça e, “toda carne que entra nesse produto (rótulo e Angus Friboi) é certificada pela Associação Brasileira de Angus (ABA)". A empresa também argumentou que o volume de vendas dos rótulos certificados cresceu nos últimos anos.
Contratos a termo
Outra preocupação dos pecuaristas é a suspensão dos contratos a termo pelas indústrias frigoríficas. A prática era fortemente disseminada na atividade, consistindo em uma trava futura de um volume físico de bovinos entre indústria e produtor.
Antes era possível contratar um determinado volume a preço fixo, mas essa modalidade está suspensa por tempo indeterminado. As indústrias, porém, afirmam que o contrato a termo não estão totalmente parados.
A JBS divulgou comunicado onde ressaltou “que está suspenso é a compra com ‘preço fixo’, modalidade que representava 20% do total das compras estruturadas da empresa.
Segundo Fabio Dias, diretor de relacionamento com o pecuarista da divisão de carnes da JBS, seria uma irresponsabilidade a companhia fazer operações a termo sem poder se proteger na bolsa.
“As companhias precisava travar na bolsa para negociar com o pecuarista, o que está difícil. Para o pecuarista, uma saída são os contratos de opção de venda, os quais, na prática, ele compra um seguro para poder vender a arroba por um preço mínimo no mercado futuro ou negociar por um valor maior no mercado físico", diz Leandro Bovo, sócio da Radar Investimentos.
Bovo ressalta que a baixa liquidez do mercado futuro tem desestimulado os frigoríficos a realizarem as compras a termo. No passado, o número de contratos abertos na BM&FBovespa alcançou 70 mil, hoje esse volume chega a 10 mil, apenas.
Em entrevista ao Notícias Agrícolas, o gerente de confinamento da Usina Estiva (SP), Antônio Domingos Neto, afirmou que a dificuldade no fechamento de contratos a termo desde o final do ano passado, poderão refletir na intenção de confinamento neste ano.
"Os frigoríficos estão fazendo negócios apenas sem contrato, ou seja, com valor abaixo da BM&F, o que dificulta ainda mais a equalização das contas", diz Neto.
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