O EX-“MENINO DO MEP” FALA DE NOVO. E, DE NOVO, NEM SIM NEM NÃO

Publicado em 01/12/2009 15:31 e atualizado em 01/12/2009 20:55



E as instâncias intermediárias entre o “sim” e o “não” continuam a ser testadas na história do “Menino do MEP”. João Batista dos Santos, então militante do Movimento de Emancipação do Proletariado, que esteve preso com Lula em 1980, falou com a Folha. À VEJA desta semana, indagado sobre o conteúdo do artigo de Cesar Benjamin  — segundo quem Lula lhe relatara que havia tentado violar, sem sucesso, o “menino do MEP”—, Santos respondeu: “Isso tudo é um mar de lama. Não vou falar com a imprensa. Quem fez a acusação que a comprove”. E só!

A resposta ao repórter Fábio Amato, na Folha de hoje, parece ainda mais enigmática.  Lula tentou subjugá-lo? “Não tenho nada para comentar sobre o assunto”. Num e-mail ao repórter, já havia escrito que nada diria a respeito, afirmando que se converteu a uma religião que o proíbe de mentir.

Santos, hoje com 6o anos, casado, oito filhos, chegou a se dizer “emocionado” com o relato que Cesar Benjamin fez de sua própria passagem pela cadeia, “sendo que aqueles mais ferozes da prisão foram amigáveis para com ele”. Se vocês se lembram, o articulista afirma que foi entregue, aos 17 anos, para ser usado pelos outros presos, mas que foi respeitado por todos. Santos se emocionou justamente com esse respeito.

Ele também criticou a Folha e afirmou que, se Octavio Frias de Oliveira, morto em 2007, estivesse vivo, o texto não teria sido publicado.

A questão

Ainda sobre o post abaixo:

Por que João Batista fez questão, sem que lhe tivesse sido perguntado, de informar que aderiu a uma religião que o proíbe de mentir?

Talvez seja confiança na lógica. Ocorre que, hoje em dia, muitos não distinguiriam de um fardo de alfafa essa forma de apreensão da realidade.


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DEIXEMOS QUE COMAM CAPIM. VAMOS LIDAR COM A LÓGICA, LEITORES!

 

A história do “Menino do MEP” virou realmente um enigma a ser decifrado pela linguagem. Ou nem tanto. Na Folha de hoje, o repórter Fábio Amato fala com João Batista dos Santos, militante do Movimento de Emancipação do Proletariado, que esteve preso com Lula em 1980. Em “Máximas de Um País Mínimo”, escrevo: “A lógica é uma iguaria do pensamento, mas há quem prefira comer capim”. Pois é…

A Folha indagou a João Batista se Lula, afinal, tentou ou não molestá-lo, conforme relato que o agora presidente fez a Cesar Benjamin, o que foi confirmado pelo cineasta Silvio Tendler — que viu naquilo, no entanto, só uma “brincadeira”. E João Batista dá algumas respostas que renderiam um pequeno tratado lógico.

Ao repórter, ele disse não ter nada a dizer sobre o relato de Cesar Benjamin. E emendou: “Sou convertido em uma religião que não me permite mentir”. Certo!

O que faz alguém que se ocupa da lógica? Lembra que uma religião que impede alguém de mentir certamente não o impede de dizer a verdade — ao contrário: que eu saiba, todas estimulam tal prática. Assim, notem:

1 - Se o episódio não aconteceu, e Batista afirmasse ter acontecido, então ele estaria mentindo,o que sua religião proíbe;

2 - se o episódio não aconteceu, e Batista negasse ter acontecido, estaria dizendo a verdade,o que sua religião permite;

3 - se o episódio aconteceu, e Batista afirmasse ter acontecido, estaria dizendo a verdade, o que sua religião permite;

4 -  se o episódio aconteceu, e Batista negasse ter acontecido, estaria mentindo, o que sua religião proíbe.

Prestem atenção à hipótese 2: A VERDADE SE ESTABELECERIA, e todos sairiam bem na fita: a) Lula, que, então, estaria livre da suspeita; b) ele próprio, que não carregaria na memória um evento desagradável; c) sua religião, que não teria sido desrespeitada.

No caso da hipótese 3, sua religião continuaria prestigiada, mas a reputação do agora presidente sairia arranhada, e ele próprio teria alguns contratempos.

As hipóteses 1 e 4 são vetadas a Batista: na 4, teria havido a tentativa de molestamento, mas ele preferiria preservar Lula e a si mesmo. Na primeira, ele não preservaria ninguém, nem os fatos. Todos saíram chamuscados.

A indagação óbvia é por que Batista não se fixou no item 2 e pronto. Estaria a resposta nos itens 3 e 4? O fato é que, depreende-se do texto, ele prefere não falar sobre o assunto porque não pode mentir.

Encerrando
Realmente comovente o silêncio quase unânime daquilo que os petistas chamam “mídia” sobre esse assunto. Mais do que isso: as vestais ficaram chocadas que isso tenha ido parar num artigo de jornal… Muitos se apressaram em negar o que o próprio Batista  — aquele que não pode mentir — não negou.

Assunto privado em cadeia pública, envolvendo aquela que era, então, a principal liderança sindical do Brasil e depois presidente da República??? Desde quando??? A censura exercida pelo estado é coisa gravíssima, mas morre junto com a democracia. A autocensura em razão de simpatias ideológicos ou da adesão ao politicamente correto é também grave — e costuma não ter cura.

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POR QUE OS DIÁLOGOS DO GENRO DO PRESIDENTE NÃO VÃO PARAR NA TV?


Na madrugada de sábado, publiquei o trecho da reportagem de VEJA desta semana que segue em azul. Não! Não o faço para minimizar a situação de José Roberto Arruda. Como já escrevi, espero que ele seja expulso do DEM e deposto: sem legenda, não poderá se candidatar a porcaria nenhuma no ano que vem. Acreditem: mesmo depois de tudo, é má sorte para o povo do Distrito Federal. Corre o risco de ficar entre Joaquim Roriz, aí em sua versão mais “pura”, e o PT. Mas isso não importa agora. Peço que leiam ou releiam o que segue. Volto depois:

Por Gustavo Ribeiro. Comento em seguida.
Não são raros os casos de chefes de estado que, vez por outra, se encontram na constrangedora situação de administrar fanfarronadas de parentes, amigos ou pessoas próximas. O presidente Lula não escapa dessa maldição. Ele já passou por essa situação algumas vezes, uma delas quando seu irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, foi pilhado pedindo dinheiro (”dois pau”) a um empresário do ramo de jogos. Agora, um genro do presidente aparece como protagonista de atos ilegais em uma investigação da Polícia Federal. O genro é Marcelo Sato, casado com Lurian, filha mais velha de Lula. Sato foi flagrado pelos policiais negociando o recebimento de 10.000 reais de um empresário ligado a uma quadrilha investigada por lavagem de dinheiro, operações cambiais clandestinas, ocultação de bens e tráfico de influência. Equivaleria a um certificado de boa conduta se tudo o que esses parentes e meios-parentes de Lula tivessem obtido de benefícios próprios em sete anos de governo fossem os “dois pau” para Vavá e os 10.000 reais para Sato, que deveria repassá-los a Lurian, conforme as gravações da PF. Mas a questão não pode ser colocada em termos de valores absolutos. É grave o caso de Marcelo Sato, oficialmente empregado como assessor parlamentar.
O marido da filha do presidente prestava serviços a uma quadrilha, ora acompanhando processos em órgãos federais, ora usando sua condição de “genro” para agendar reuniões dos suspeitos com autoridades do governo. Íntegra 
aqui

Voltei
Há a transcrição de conversas entre Sato e o empresário acusado de chefiar a quadrilha. Seu nome é João Nojiri, que acabou preso. Pergunto: não seria mesmo do balacobaco ouvir e “ver” esta conversa na TV? Sato se refere a seu sogro:

Nojiri: Tá, mas que horas você acha que é bom ir pra lá?

Sato: Ah, porque hoje ele vai receber o presidente de Guiné Equatorial. Era pras 15h. Ele tá atendendo agora a agenda das 13h45. Aí depois tem o presidente, tem a Dilma, tem o Múcio, aí a gente.

N: Então, mas que horas você acha que a gente tem que ir pra lá?

S: Umas 18h30, por aí. Em princípio, o Múcio tava pra umas 19h. Acho que ele vai antecipar tudo e a gente conversa com ele. Ele vai pro Chile e volta domingo. (…)

N: Onde você tá?

S: Agora eu tô aqui saindo do (Palácio da) Alvorada.

N: Você não quer encontrar antes da gente ir lá pro anexo?

S: Se você quiser ir pra lá, pode ir. Porque eu já vou acertar direitinho lá no gabinete agora, entendeu?

N: Pode deixar marcado. Deixa tudo certo. Tô falando pra conversar com você antes de eu te encontrar, pra ir junto pra lá.
Que que você quer fazer?

S: Quero sentar lá no Palácio agora, falar: “Vem pra cá tal hora, certinho, que a gente vai falar”

Nesta outra conversa, Nojiri procura falar com Lurian e aciona um certo Guilherme, amigo da filha do presidente Vejam pra quê.

Noriji: Eu precisava do rádio, do ID do rádio da Lurian.

Guilherme: Eu não tenho.

N: Achei que você tinha o radio dela.

G: Não, não tenho.

N: E como você fala com ela?

G: MSN

N: Tá bom, então. Eu estou conversando com ela por e-mail. Diz a ela que eu estou resolvendo a questão dela, de uma necessidade, até sexta feira. Para ela dar uma consultada na conta do marido.

G: Tem certeza que tem que ser na conta dele? Porque ele não vai dizer a ela que entrou e ele não autoriza a ficar checando conta…

Um hora e trinta e cinco minutos depois da primeira ligação, Nojiri manda sua secretária fazer dois depósitos de 5000 reais na conta de Marcelo Sato.

Noriji: Josi, aquele depósito. A Sacha te falou que tinha que fazer?

Secretária: Depósito do Village?

N: Não, o outro. Do Marcelo (Sato).

S: Tá aguardando um ok do senhor, se é pra fazer na conta dele ou na conta da esposa.

N: Faz na conta dele mesmo. Dois depósitos de 5, tá bom?.

S: Tá ótimo então. Vou falar pra fazer na conta dele.

Vinte minutos depois, João Nojiri liga para Marcelo Sato e informa sobre o depósito:

Nojiri: Oi, querido.

Marcelo Sato: Fala, querido. Tudo bem?

N: Eu estou fazendo um negócio pra você, tá? Tô sabendo que você tá precisando. Conta com isso.

M: Tá. Bom, a gente conversa direitinho…

Desfecho
Agora leiam trecho de uma reportagem na Folha de hoje:
O procurador da República em Florianópolis, Marcelo da Mota, recorreu ao Tribunal Regional Federal, de Porto Alegre, da decisão da juíza Ana Cristina Krämer, da 1ª Vara Federal Criminal de Florianópolis, que considerou nulas as acusações contra 31 denunciados na Operação Influenza por causa de grampos ilegais, autorizados apenas pela Justiça estadual.
No processo, Marcelo da Mota havia solicitado o encaminhamento ao Supremo Tribunal Federal de continuidade nas investigações de pessoas com foro privilegiado que apareciam nas gravações.
Entre os políticos citados nas gravações estavam o deputado federal Décio Lima (PT-SC), o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique (PMDB), e o assessor parlamentar Marcelo Sato Rosa, que trabalha para a deputada estadual Ana Paula (PT), mulher de Décio Lima. Sato é casado com Lurian, filha do presidente Lula.

Encerro
Entenderam? Certamente não preciso desenhar.

PS: POR FAVOR, NÃO DÊEM CURSO À LENDA DE QUE MARCELO SATO É SOBRINHO DA DELEGADA ELISABETE SATO, QUE ATUOU NO CASO CELSO DANIEL. ELES NÃO SÃO PARENTES!

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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