“No calor dos fatos” e outras três notas de Carlos Brickmann

Publicado em 11/05/2016 11:11
no blog de AUGUSTO NUNES, de VEJA.COM.BR

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

Era um grande empresário, que assumiu a Folha e a transformou num dos maiores jornais do país. Dizia não ser jornalista. Mas era – e como! Ensinou-nos que o patrão era, sempre, Sua Excelência o Leitor. Ensinou-nos a buscar aspectos inéditos e verídicos das notícias. Elefante voando, peemedebista rejeitando cargos, tucano fazendo oposição, todas essas coisas estranhas têm de ser bem noticiadas e muito bem explicadas.

Mas nem com tantos anos de aula aprendemos a explicar o inexplicável. Por exemplo, como é que um governo sem governantes, em que neurônio virou piada e os aliados-inimigos se reúnem com hora marcada para redistribuir os cargos que já ocupam, com popularidade mensurável por um relógio quebrado, que reduziu a discussão política a uma disputa para saber quem é mais ladrão, nós ou eles, consegue sobreviver, mesmo que por alguns dias, depois de perder por níveis alemães a votação do impeachment?

E ainda acusam de golpistas quem os derrota na forma da lei. Não tem jeito: aproveitando os Jogos Olímpicos e a presença no Brasil da Pira Sagrada, atocha, Dilma!

A hora da festa

Você se diverte ao ver a equipe de Temer, quase toda importada de Dilma, discutindo moralização e ladroeira? Pois vai divertir-se ainda mais até o fim do mês, quando aparecer na Procuradoria-Geral da República a lista dos 316 políticos de Benê, que foi presidente da Construtora Norberto Odebrecht. Tem delação pra mais de metro.

Revelações

Episódios vividos nos últimos meses serviram para exibir o caráter de vestais que passeavam na orla com trajes de freira. Um exemplo? José Eduardo Cardozo, especialista em equilibrar-se à beira do precipício.

Dia quente

Este colunista deseja a todos um bom dia. E espera que haja bom senso e comedimento tanto nas comemorações quanto na raiva da derrota.

 

Valentina de Botas: Súcia e simpatizantes, tirem a mão desse impeachment, que não pertence a Cunha, Temer ou à oposição: ele é de milhões de indignados

Na biografia que Lira Neto escreveu de Getulio Vargas, é impactante ver como o ditador acalentou a própria morte por 20 anos. Ao contrário do que sustentam seus adoradores, o ato irreversível não foi consumado por alguém torturado pelas pressões dos adversários. A tortura de Vargas era a perda do poder – a desonra inadmissível – e o suicídio foi determinado pela alma tirânica de quem não suportava viver sem mandar.

Dilma Rousseff se diz vítima de um golpe que não ousa denunciar em nenhum órgão internacional sério; vê-se alvo de “manhas e artimanhas” enquanto usa, para a defesa impossível, o advogado-geral da União que ataca a União; sente-se atingida pela conspiração de Michel Temer como se as prerrogativas institucionais do vice se submetessem às conveniências dela; choraminga a vingança de Eduardo Cunha como se ele votasse por 513 deputados – enfim, Dilma é torturada pela expectativa de perder o poder, inadmissível para a mulherzinha autoritária.

Há alguns dias, circularam notícias de que a presidente, negando a realidade enquanto rumina tais confusões, planejava um ato grandiloquente. E, como não se trata de uma figura com a lucidez trágica de Vargas, mas apenas de uma fraude tosca, grandiloquência obriga ao ridículo, patético ou apenas idiota: Dilma Rousseff se acorrentaria à cadeira de presidente. Ora, a súcia acorrentou-se ao poder há 13 anos e, eleita, a czarina da roubalheira tornou-se elo das cadeias que atariam o PT ao poder por décadas. Quando milhões de indignados arrebentam o projeto odioso, a quem repele a democracia e estranha a dignidade, nada resta senão arrastar correntes entre balbucios delirantes de vigarice.

Enquanto não se parte a corrente de vez, no prolongamento dramático da agonia do país que tenta socorrer a meninazinha de olhos verdes que Quintana chamou de esperança, o PT e comparsas seguem fazendo política como a entendem: forçando o Brasil a perder mais tempo, dinheiro, credibilidade dos investidores e algum remanescente respeito internacional para que a súcia ganhe umas horas a mais acorrentada e, assim, o aberrante Waldir Maranhão despontou para o vexame planetário e a cassação tardia.

Com uma rápida consulta às normas da Câmara, descobre-se que o anúncio da anulação do impeachment, na dublagem do grotesco presidente interino, seria o maior disparate em 190 anos de história daquela Casa. Mas e daí? Se a súcia reconhecesse leis, competência, decoro ou honestidade, não teria trazido o país à desolação.

Pleno de equívocos técnicos e morais, o ato bisonho escancara o gozo perverso desses cafajestes xexelentos asfixiando o país para não romperem as correntes com o poder e é a cena sem cortes, o nu frontal, do que tramaram Ricardo Lewandovski e Marco Aurélio, no STF, se Teori Zavascki não tivesse se antecipado para suspender o mandato de Eduardo Cunha e afastá-lo da presidência da Câmara. A exótica dupla togada se preparava para acatar recurso que ensejaria o pedido de cancelamento das sessões para a admissibilidade do impeachment.

Olhem aqui, súcia e simpatizantes, tirem a mão desse impeachment, ele não pertence a Cunha, Temer ou à oposição: ele é meu; é seu; é de milhões de indignados. Essas e outras ciladas avisam que a meninazinha de olhos verdes – não esqueçamos, adverte o poeta, o nome dela é esperança – continuará ameaçada e é preciso que os indignados se reúnam em torno dela na calçada para protegê-la da tirana que arrasta correntes.

 

José Casado: Três sílabas e R$ 1 bilhão

O pedido de desculpas da Andrade Gutierrez é uma ótima notícia num ambiente tumultuado por um governo que há muito perdeu a bússola e agora fenece por inanição política (Publicado no Globo)

Apaga-se o velho governo entre manhas e artimanhas, como as ofertas sedutoras ao presidente interino da Câmara que o estimularam a ridicularizar a Casa que comanda, ao tentar “anular” uma decisão tomada há 23 dias por um colégio de 511 deputados, em ritual definido pelo Supremo, e já repassada ao Senado.

O processo de impeachment, é útil lembrar, começou pelo voto de 72% da Câmara, na acachapante maioria de 367 deputados. A esquálida base governista somou 137 votos, sequer alcançou 27% dos presentes.

Essa “brincadeira com a democracia”, na qualificação do presidente do Senado, teve as digitais do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo. O principal resultado foi expor como tresloucado seu agente na Câmara, o deputado Waldir Maranhão, que, acusado de abuso de poder, agora deve enfrentar um processo de destituição ou cassação de mandato.

O antigo governo submerge em tumulto, sob o olhar sorridente da presidente Dilma Rousseff e a súbita afonia de Lula.

A nova administração ainda não ascendeu. Pelas vacilações do vice Michel Temer, expostas na semana passada, corre risco de emergir prisioneira de um modo arcaico de fazer política, cujo réquiem vem sendo entoado por multidões nas ruas, há três anos, e a exumação avança nos inquéritos sobre corrupção nas empresas estatais.

A tensão atual é um derivativo da travessia para mudanças impostas à geração de políticos como Lula, Dilma e Temer. Sobram evidências da marcha na transição do convívio coletivo com a impunidade do esbulho dos cofres públicos, em privilégio de poucas e ineficientes empresas, para uma sociedade disposta a premiar com recursos coletivos a iniciativa privada focada na subsistência da competição no mercado.

Nessa perspectiva, ganha relevância o “pedido de desculpas ao povo brasileiro” anunciado ontem pelo grupo Andrade Gutierrez: “Reconhecemos que erros graves foram cometidos e, ao contrário de negá-los, estamos assumindo-os publicamente. Entretanto, um pedido de desculpas, por si só, não basta: é preciso aprender com os erros praticados e, principalmente, atuar firmemente para que não voltem a ocorrer.”

Às três sílabas da palavra (“desculpas”), adicionou o compromisso de indenização de R$ 1 bilhão ao Estado. O valor equivale a US$ 272 milhões, pelo câmbio de ontem, e corresponde a 13,5% da receita líquida da empreiteira. Garante seu lugar entre as dez corporações globais mais penalizadas desde 2008, logo abaixo da francesa Techinp (US$ 338 milhões), acima da japonesa JGC (US$ 218 milhões) e da alemã Daimler (US$ 185 milhões).

Acionistas e executivos da Andrade Gutierrez fizeram a coisa certa, na trilha aberta pela concorrente Camargo Corrêa, primeira entre empreiteiras acusadas nos inquéritos sobre corrupção a aceitar um compromisso judicial para mudar de forma radical as relações com políticos, partidos e governos.

A Andrade Gutierrez diz acreditar que “a Operação Lava Jato poderá servir como um catalisador para profundas mudanças culturais, que transformem o modo de fazer negócios no país”.

É ótima notícia num ambiente tumultuado por um governo que há muito perdeu a bússola e agora fenece por inanição política.

 

RADARTVVEJA: Oposição espera ter entre 54 e 56 votos pela abertura do processo

A oposição espera ter entre 54 e 56 votos favoráveis à abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff no senado.

Se a senadora Rose de Freitas (ES) vier a votar — ela teve um princípio de AVC e é dúvida — a favor do impeachment, será possível chegar aos 56 votos, segundo planilha do senador Romero Jucá (RR).

Caso esse placar se confirme, será um número suficiente para aprovar o impeachment definitivamente, depois da conclusão do processo.

PT quer que Dilma antecipe desfecho, (VERA MAGALHÃES)

O Senado deve abrir nesta quarta-feira, formalmente, processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Em mais uma sessão que devera ser longa e tensa , os senadores devem referendar o relatório do tucano Antonio Anastasia, que recomenda a abertura do processo. Com isso, ela será automaticamente afastada do mandato pelo período de ate seis meses.
Pouco importa se, neste momento, Dilma sairá pela porta ou descerá a rampa. Pouco adianta a presidente evitar o que seria um símbolo do fim de seu mandato, porque nem o PT acredita que, depois de seis meses, ela tenha condições de voltar ao cargo.
Na verdade, assim que o Senado anunciar a troca da guarda na presidência, o PT começará tirar o pe do discurso do golpe e torcer para que o calvário de Dilma seja abreviado.
Se o processo levar mesmo os 6 meses, seu desfecho se dará em setembro, às vésperas da eleição municipal que já se anuncia um pesadelo para os candidatos petistas no Brasil todo.
Somar o desgaste do governo Dilma e da Lava-Jato ao julgamento final da presidente é tudo que os petistas não querem.
Por isso, descendo ou não a rampa, Dilma deve ter seu destino selado neste 11 de maio.
 
 

Depois do desastre, o esquecimento

EDITORIAL DO ESTADÃO

Com o malogro da desesperada tentativa de procrastinar o processo de impeachment usando como mão do gato a lamentável figura do presidente interino da Câmara dos Deputados, Dilma Rousseff acabou perdendo o que lhe restava de dignidade antes de perder o mandato de presidente da República. O Senado Federal deve aprovar hoje a admissibilidade do impeachment por crime de responsabilidade, decisão que implicará o afastamento da presidente por até 180 dias ou até a cassação definitiva de seu mandato, o que a esta altura é dado como coisa certa mesmo – embora eles não admitam publicamente – pelos partidários de Dilma. E, por se tratar de um julgamento eminentemente político, o destino de Dilma está desde já selado também pela manifestação da vontade amplamente majoritária do povo brasileiro.

A base legal para o processo que permite o impedimento de Dilma são as “pedaladas” fiscais e os decretos que liberaram recursos sem autorização prévia do Congresso. Trata-se, como toda questão legal, de assunto sujeito a controvérsia. A controvérsia, aliás, é o fundamento do princípio democrático do direito à ampla defesa. Neste caso, quem tinha competência constitucional para decidir se a discussão do impeachment é admissível ou não era a Câmara dos Deputados. Uma maioria de mais de dois terços dos parlamentares decidiu que o processo deveria, sim, ser encaminhado ao Senado Federal, para confirmar a admissibilidade e, nesse caso, julgar o mérito do processo, decidindo se Dilma deve ou não ser afastada do cargo. É claro que essa ampla maioria de deputados refletiu o sentimento também majoritário dos brasileiros, do mesmo modo que estarão se comportando hoje, e certamente se comportarão no julgamento final, os senadores da República.

Pesam, na formação da repulsa que a imensa maioria dos brasileiros manifesta pelo governo lulopetista, a recessão econômica em que o País foi jogado pela gestão irresponsável da presidente; a redução do poder aquisitivo da população e o aumento inédito do desemprego; a Operação Lava Jato revelando até que ponto o governo se comprometeu com a corrupção, transformada em método político; e as mentiras deslavadas com as quais Lula, Dilma e a tigrada enganaram a Nação durante anos.

O Senado dará prosseguimento hoje a um processo eminentemente político que prosperou porque tem lastro jurídico suficiente, apesar dos protestos de Dilma e seus cada vez mais escassos seguidores. O fato é que, se o governo estivesse sendo bem-sucedido, Dilma não teria tido a necessidade de cometer os crimes das “pedaladas” e dos decretos ilegais com os quais tentou mascarar a falência fiscal do País.

Fosse outro o seu estofo, diante da inevitabilidade do impeachment, Dilma Rousseff teria a dignidade de pensar no Brasil em primeiro lugar. Em vez disso, tenta incendiar o País à custa da inconsequência política e da falta de genuíno sentimento democrático dos “movimentos sociais” que o PT manipula.

Mesmo sem renunciar a seu direito de se defender jurídica e politicamente, Dilma não precisaria ter promovido o vergonhoso espetáculo da apropriação de espaços públicos, como o Palácio do Planalto, para promover manifestações partidárias e de entidades que sobrevivem à custa de recursos públicos contra instituições como o Parlamento e o Judiciário. Dilma poderia ter-se poupado, e ao País que jurou defender, da ignomínia de ter patrocinado a divulgação internacional de sua visão da crise brasileira, que implica desmoralizar as instituições nacionais, rebaixando o Brasil ao nível de uma republiqueta bananeira submetida a um “golpe” urdido pelas “elites”.

Mas Dilma e o PT – Lula, como de hábito, quando a coisa aperta permanece atrás da moita – renderam-se ao que neles há de mais primário, na tentativa de “construir um discurso político” que lhes garanta a sobrevivência depois do desterro. Mas, principalmente no que concerne a Dilma, é razoável cogitar de sobrevivência política, tendo ela jogado no lixo 54 milhões de votos?

É hora de Dilma Rousseff começar a se preparar para o destino que o Brasil lhe reservou generosamente: o esquecimento.

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Fonte:
Blog Augusto Nunes, de veja.com

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