CHINA: Agora sim, a crise externa começa a contagiar o Brasil, já em grave crise interna
Cuidado com aquilo que deseja, pois pode acontecer. Os petistas ignoraram esse alerta, e abusaram da desculpa esfarrapada de que nossa crise era resultado da “crise internacional”. O resto do mundo ia bem, os emergentes crescem bem mais do que o Brasil, com bem menos inflação. A nossa crise, como cansei de mostrar aqui, era totalmente “made in Brazil”, produto da incompetência e da irresponsabilidade do governo.
Mas agora sim, o clima lá fora está azedando, e bem rápido. A China está no epicentro do furacão. Após várias medidas intervencionistas do governo chinês para estimular sua economia e o mercado de ações, parece que ficou evidente ser impossível inflar artificialmente os ativos para sempre. A bolsa chinesa está em queda livre, e chegou a cair 8,5% esta noite, zerando o ganho que tinha no ano. As perdas desde o pico de junho já chegam a quase 40%!
A desvalorização do yuan, numa “guerra cambial” deflagrada pelo PCC, jogou mais lenha na fogueira. Apesar de sua relevância para a economia global, o fato incômodo é que a China continua a ser uma “caixa preta”, e os analistas não conseguem ter clareza e transparência dos dados. As estatísticas oficiais, por exemplo, são questionáveis e poucos confiam totalmente nelas. A simbiose entre estado e empresas, especialmente os bancos, gera enorme risco no país.
Será que a “bolha chinesa” está mesmo estourando, como alguns investidores previram? Difícil saber. Só o tempo dirá. Mas há um crescente clima de pânico tomando conta dos mercados globais por medo de uma crise mais severa na segunda maior economia do mundo. Os instrumentos de estímulo do governo ficam cada vez mais limitados, pois as rodadas expansionistas já foram fortes demais.
Uma crise aguda na China contagiando o mundo todo: eis tudo aquilo que o Brasil não precisava agora, num momento em que já enfrenta suas agruras por conta das trapalhadas do governo petista. Seria a tempestade perfeita, que poderia realmente colocar o Titanic Brasil a pique, depois de já ter batido no iceberg PT. Uma confluência de vetores muito cruel, que já fez o Ibovespa voltar, em dólares, para o patamar mínimo de 2008, ano da maior crise mundial desde o crash de 1929.
O Brasil, como todos sabem, é um “China play”, ou seja, a era da nossa bonança teve tudo a ver com o crescimento chinês acelerado e sua demanda voraz pelas commodities que produzimos. O Brasil tinha ganhado na loteria e rasgou o bilhete, gastou por conta como uma cigarra irresponsável. O que vai acontecer se os ventos chineses, que já tinham parado de soprar em nossa direção, mudarem e começarem a jogar contra o Brasil? Se a China realmente afundar, não terá “acordão” com Renan Calheiros capaz de segurar a cabeça de Dilma no lugar…
Rodrigo Constantino
Bovespa fecha em queda de 3%, menor patamar desde 2009; dólar, em R$ 3,55, maior desde março de 2003
Leiam o que informa a VEJA.com. Ainda voltarei ao assunto.
O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores de São Paulo, fechou nesta segunda-feira com queda de 3,03%, no menor patamar em mais de seis anos, influenciado pela onda de pânico que dominou os mercados globais por temores ligados à desaceleração da economia chinesa. O giro financeiro totalizou 7,3 bilhões de reais. No pior momento, logo após a abertura, o índice de referência do mercado acionário brasileiro chegou a desabar 6,5%.
As principais bolsas da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia tiveram o pior dia desde 2008 e encerraram o pregão desta segunda-feira com fortes perdas, pressionadas pelo tombo nas ações da China e novos temores sobre o crescimento global. Nesta segunda-feira, o Xangai Composto, principal índice acionário chinês, fechou em queda de 8,5%, anulando os ganhos de todo o ano.
A sessão europeia começou tensa, com uma forte onda de vendas. As bolsas de Frankfurt, Paris e Madri chegaram a cair 7%, mas reduziram as perdas no fim dos negócios. O índice europeu Stoxx 600 fechou em queda de 5,33%, aos 342,01 pontos, o maior recuo porcentual desde o auge da crise financeira mundial, em dezembro de 2008. Se a queda do índice prosseguir nos próximos dias, agosto poderá terminar como o pior mês desde setembro de 2002, quando foi registrado recuo de 14,1%.
O temor de um colapso dos preços das commodities também afetou as negociações das ações em Frankfurt. Assim, as ações da RWE recuaram 9,11% e da E.ON perderam 8,60%. O índice de referência DAX teve baixa de 4,70%, para 9.648,43 pontos. A Bolsa de Paris fechou em queda de 5,35%, aos 4.383,46 pontos, o maior recuo desde novembro de 2011. As ações de companhias altamente expostas à China se destacaram entre as perdas – os papéis da siderúrgica ArcelorMittal recuaram 9,48% e da empresa de energia Total cederam 7,90%. O índice FTSE-MIB, da Bolsa de Milão, recuou 5,96%, fechando em 20.450,43 pontos. A Bolsa de Madri caiu 5,01%, para 9.756,60 pontos, e a de Lisboa cedeu 5,80%, para 4.981,26 pontos.
Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones registrou a maior queda diária em pontos de sua história no início do pregão desta segunda-feira, de 1.089 pontos. Antes da abertura do mercado em Nova York, os futuros do Dow Jones, da Nasdaq e do S&P 500 chegaram a cair cerca de 5%. O NYSE Group, operador da Bolsa de Nova York, invocou a raramente usada “regra 48″, que relaxa algumas regras de operação na tentativa de garantir uma abertura suave dos negócios. A regra é usada quando as operações antes da abertura da sessão regular estão especialmente voláteis. No fechamento das bolsas americanas, o índice Dow Jones caiu 3,57%, enquanto o S&P 500 recuou 3,94% e a Nasdaq caiu 3,92%.
Os temores com a economia da China também fizeram com que as commodities tivessem forte baixa, prejudicando o desempenho de ações de mineradoras e petroleiras. Em Londres, o índice FTSE-100, onde essas companhias têm bastante peso, teve a décima sessão consecutiva em queda e fechou em baixa de 4,67%, aos 5.898,87 pontos. Essa foi a maior queda porcentual diária desde março de 2009. Entre as principais baixas, os papéis da Glencore recuaram 13,02% e da BP perderam 7,32%.
Dólar
O dólar fechou com alta superior a 1,5% nesta segunda-feira, no patamar de 3,55 reais, o maior nível em 12 anos. A valorização frente ao real reflete a intensa aversão ao risco dos investidores que, com o derretimento das bolsas chinesas, preferem aplicar o dinheiro em ativos e dívidas de países considerados mais seguros, como Estados Unidos e Europa.
Em números mais precisos, a moeda subiu 1,62%, a 3,55 reais na venda, maior cotação de fechamento desde 5 de março de 2003, quando foi negociada a 3,55 reais. No ano, até agora, o dólar já subiu 33,62%. Na máxima da sessão de hoje, o dólar chegou a se valorizar 2,43%, indo a 3,58 reais, nível mais alto no intradia desde 27 de fevereiro de 2003, quando alcançou 3,60 reais. A alta, no entanto, perdeu a força, seguindo o movimento dos mercados externos e o noticiário econômico positivo – nesta segunda, o governo anunciou que vai cortar 10 dos 39 ministérios.
“O mundo, de fato, ‘derreteu’ hoje. As medidas adotadas pela China para incentivar a economia não foram suficientes para segurar a desvalorização do mercado acionário chinês. Primeiro, o governo estimulou uma forte desvalorização do iuane. Depois, elevou a quantidade de títulos que as companhias de seguros podem deter e prometeu mais crédito para financiar operações em bolsa. Isso não foi suficiente”, afirmou o analista da Gradual Investimentos André Perfeito.
“São forças de pânico, não há racionalidade. Em um dia como hoje, não há nada a fazer: é esperar e ver o quanto o dólar sobe”, avalia o economista da 4Cast, Pedro Tuesta. Ele ressaltou, no entanto, que o avanço visto mais cedo foi exagerado. Além disso, ponderou que, “se não houver recuperação (da China), o Fed preferirá adiar (a alta dos juros). Os danos foram significativos”, referindo-se ao Federal Reserve, banco central norte-americano, que está na iminência de elevar os juros nos Estados Unidos.
As bolsas de Xangai e Shenzhen desabaram mais de 8% nesta sessão, reforçando o quadro de preocupações com a China, que vem afetando o apetite por ativos de risco, como aqueles denominados em reais, nos mercados globais.
“A China deu início ao pânico no mundo hoje. Aliado a isso, a gente tem grande vulnerabilidade por causa das incertezas políticas”, disse o especialista em câmbio da Icap Corretora, Ítalo Abucater, para quem o dólar deve chegar a 4 reais ainda este ano, mas encerrará 2015 no patamar entre 3,70 e 3,80 reais.
Por Reinaldo Azevedo
Descendo a ladeira (Por Ricardo Noblat)
Dilma é a presidente do “sem”.
Sem programa de governo.
Sem equipe que preste.
Sem base de apoio no Congresso.
Sem interlocutores de confiança nos partidos.
Sem apoio popular.
Sem futuro?
Apesar disso, contava com dois fiadores desde o início do seu segundo mandato: Joaquim Levy, Ministro da Fazenda, e Michel Temer, o vice-presidente a quem entregou a coordenação política do governo.
Em breve ficará sem Temer.
“Eu não posso desembarcar. Eu sou o vice”, repetiu Temer à exaustão quando colegas do PMDB cobravam seu afastamento do governo.
Em uma conta grosseira, metade ou pouco mais de metade do partido torce pela queda de Dilma para que Temer a substitua.
Do governo, em definitivo, ele não desembarcará. Seria uma covardia. Afinal, foi eleito junto com Dilma.
Desembarcará, sim, da coordenação política. Porque desembarcado já foi pela própria Dilma.
É no que dá ter-se juntado com uma pessoa que não sabe lidar bem com seus semelhantes.
Dilma pediu socorro a Temer depois de convidar Eliseu Padilha, ministro da Aviação Civil, para assumir a coordenação política do governo. Ouviu um sonoro “não”. Foi humilhada.
O que teria acontecido se o vice-presidente também tivesse dito “não”?
Temer disse “sim” porque acreditou na chance de sair do anonimato reservado aos vices direto para a boca do palco. De fato foi parar ali.
Mas ao protagonismo, condição sem a qual político algum sobrevive feliz, não correspondeu o exercício de fato do poder. Dilma não lhe delegou poderes. Temer acabou boicotado pelo PT.
No regime presidencialista brasileiro, a cooptação de aliados se dá com a distribuição de cargos para que roubem e permitam roubar, e de dinheiro destinado à construção de obras nos redutos eleitorais de deputados federais e senadores.
Temer prometeu cargos e dinheiro e não entregou. Por fim, pregou que “alguém” unificasse o país. Dilma entendeu que esse “alguém” seria ele, e detestou. Perdeu a confiança em Temer.
Tomou-lhe a coordenação política sem dizer que o fazia. Passou, ela mesma, a distribuir cargos e autorizar a liberação de dinheiro para obras eleitoreiras.
Até que a taça transbordou para o lado de Temer: foi quando Dilma entendeu-se diretamente com Renan Calheiros, presidente do Senado.
Em troca do empenho do governo para que ele escape da Lava Jato, Renan inventou a “Agenda Brasil”.
Trata-se de… De nada sério.
Renan reuniu mais de 40 projetos que tramitam no Congresso e batizou-os de “Agenda Brasil”.
Dilma fez de conta que a agenda poderá salvar seu governo do buraco e aproximou-se de Renan.
Atropelado, Temer concluiu que chegara a hora de devolver a Dilma a tarefa que ela lhe deu e tomou sem aviso prévio. Chega! Basta! Estou fora! E assim será.
O que Dilma ganhará com a troca de Temer por Renan? Um aliado capaz de barrar no Congresso as pautas bombas de Eduardo Cunha, o presidente da Câmara denunciado à Justiça por corrupção e lavagem de dinheiro.
O comportamento errático de Dilma é típico de quem não entende e não gosta do serviço que faz, e tampouco se cerca de quem entende, embora possa gostar.
É assim que ela pretende se arrastar pelos próximos 40 meses de mandato. Talvez consiga. Não se depõe presidente só porque ele governa mal.
O preço que o país pagará por um governo desastroso será gigantesco, todavia. Aumenta o desemprego. Haverá dois anos consecutivos de crescimento negativo.
Quem sabe essa não será a única forma de aprendermos a votar melhor?
(por Ricardo Noblat)
'Dilma pode sobreviver à turbulência?', questiona jornal britânico "The Observer" (na FOLHA):
A edição do jornal britânico "The Observer" deste domingo (23) trouxe um perfil da presidente Dilma Rousseff e questionou se a petista terá condições para sobreviver à crise que se instaurou em seu governo.
A reportagem, assinada pelos correspondentes Jonathan Watts e Bruce Douglas, relembra o passado de ex-guerrilheira de Dilma e pontua os principais dilemas de seu segundo mandato, inclusive o embate com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
Segundo o semanário, que é publicado aos domingos, Dilma optou pelo silêncio como estratégia para enfrentar a turbulência.
"Isso [silêncio] se provou uma virtude e um defeito em uma carreira pitoresca de ativista estudantil a tecnocrata para líder da sétima maior economia do mundo", diz o jornal.
"Nos anos 1970, Rousseff foi detida e torturada durante a ditadura militar sem delatar os nomes de seus camaradas do submundo marxista", acrescenta.
"Atualmente, no entanto, sua falta de vontade para se engajar em um debate e construir alianças é amplamente visto como um fator chave em uma crise política que a tornou a presidente mais impopular desde a redemocratização", finaliza.
De acordo com o periódico, menos de um ano depois de ser reeleita, a presidente enfrenta uma "coalizão fragmentada, uma economia claudicante e o maior escândalo de corrupção na história do país".
O jornal lembra que há insatisfação mesmo entre os mais pobres, que formam a base eleitoral de Dilma.
"A hostilidade era esperada das famílias de classe média, branca e rica, mas Rousseff também desapontou muitos dos que a colocaram no poder", diz.
SEM BRILHO
O semanário compara o governo de Dilma com o de seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e diz que, durante seu mandato, o PT "perdeu o brilho".
"Diplomatas admitem reservadamente que a presidente tem pouco interesse na política externa. Ambientalistas condenam sua aprovação do fraco código florestal, a construção da hidrelétrica na floresta amazônica e o desenvolvimento de combustível fóssil pela Petrobras".
Segundo o "The Observer", comparada com Lula, falta a Dilma "calor pessoal".
No entanto, o jornal diz que a "honestidade" é um trunfo da presidente e lembra que, em entrevista recente a uma revista alemã, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a descreveu como uma "pessoa honrada".
"Sob sua presidência, nunca se investigou tantos malfeitos", assinala "The Observer".
O semanário destaca, no entanto, que "a falta de vontade de participar do 'clube do bolinha' da política brasileira, na qual menos de 9% do Congresso é composto por mulheres e corrupção é uma rotina, explica em parte seus problemas atuais".
O jornal lembra o embate de Dilma, quando ainda era ministra de Minas e Energia, com o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a ponto de ela ter quebrado o protocolo durante a posse do peemedebista, deixando o Congresso pela porta por onde entrou, de modo a evitar cumprimentá-lo.
"Cunha, agora presidente da Câmara, parece não ter perdoado ou esquecido o deslize. Apesar de pertencer ao partido aliado de Rousseff, ele concorreu contra o candidato de Dilma à presidência da Câmara e venceu."
"Desde então, ele tem se provado o espinho mais afiado do lado da Rousseff. As tentativas dela de controlar os gastos e aumentar os impostos para reordenar as finanças públicas foram frustradas por um Congresso hostil, orquestrado por Cunha. Além disso, a apresentação dos procedimentos de impeachment é sua prerrogativa individual. Ele já deu indicações de que pretende seguir esse caminho".
REELEIÇÃO
O jornal assinala ainda que, antes de se tornar presidente, Dilma nunca havia sido eleita para qualquer cargo político.
"Ela foi uma escolha controversa para substituir Lula, mas inicialmente se provou um sucesso com os eleitores, facilmente vencendo a eleição de 2010 e conduzindo o boom econômico e levando a cabo uma política de redistribuição de renda que lhe assegurou seus índices de aprovação a 80%".
"A subsequente desaceleração do crescimento erodiu sua sustentabilidade, mas ela ainda conseguiu enfrentar os protestos de 2013 e as vaias das multidões da Copa do Mundo no ano seguinte para assegurar sua reeleição em 2014".
"Desde então, os aliados vêm firmemente abandonando a sua base", diz o jornal.
Segundo o semanário, "as alternativas para Dilma? renúncia, impeachment ou golpe" seriam provavelmente piores para o país.
"O dilema parece ter sido reconhecido por empresários e pela mídia tradicional, que vem recentemente atenuando as reivindicações pela remoção da presidente pelo temor de que o país perca o grau de investimento", finaliza.
Temer já está fora da coordenação política; a “macrocoordenação” é só o modo elegante do pedido de demissão
Michel Temer já está fora da coordenação política. Aconteceu até antes do esperado. A razão é simples. Do lado de lá, há uma trupe de trapalhões e prepotentes. Para todos os efeitos, o vice avisou que está fora, vamos dizer, do varejo. Não negocia mais emendas e cargos — a parte, vamos dizer, material do apoio da base aliada. Eliseu Padilha, da Aviação Civil, o peemedebista que o ajudava nessa função, mandou dizer que também não quer mais saber desse assunto.
Temer é vice-presidente da República. A exemplo de Dilma, foi eleito, e ela não pode demiti-lo. Para todos os efeitos, ele continua na macrocoordenação, na interlocução política com o Congresso. É uma forma de não caracterizar um rompimento. Na prática, no que diz respeito ao interesse imediato de Dilma, isso não quer dizer nada. Para o país, é positivo que continue a acompanhar a política. Em algum lugar, tem de estar um ponto de equilíbrio.
Afirmei hoje de manhã aqui que nunca antes na história do país tantos trapalhões se juntaram ao mesmo tempo num só governo. O caso da decisão de reduzir ministérios — já escrevo a respeito — o prova de sobejo.
Há tempos o vice vinha deixando clara a sua insatisfação com o modo como as coisas se desenhavam. Arcava com o ônus de ser coordenador, mas sem espaço para trabalhar. Pior: tinha de enfrentar a sabotagem instalada no próprio Palácio do Planalto. Tornada pública a decisão de se afastar, Dilma não teve o trabalho de pegar o telefone para chamá-lo para conversar.
Há uma incompetência maníaca na companheirada. Reitero: do ponto de vista da temperatura da crise, para Dilma, essa macrocoordenação não quer dizer nada. É a forma como um vice-presidente sai do governo sem poder deixar a sua função de estado.
Por Reinaldo Azevedo
Dilma e o ministro sem pasta – A presidente decidiu que ela própria vai às compras. Dará errado!
A bagunça no governo deveria ser matéria de curiosidade científica. Vejam as dificuldades criadas para Michel Temer exercer a coordenação política, o que o levou, na prática, a deixar o cargo. Quem anunciou o corte de ministérios e a possível redução da máquina foi Nelson Barbosa, do Planejamento, que não tem nada com isso, em companhia de Gilberto Kassab (Cidades), que também não tem nada com isso. Ocupam-se ainda da interlocução política Jaques Wagner (Defesa), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) e Aloizio Mercadante (Casa Civil).
É pouco? É pouco! Dilma agora escalou para fazer a interlocução no Congresso e, eventualmente, cuidar das miudezas das quais Temer não quer mais saber ninguém menos do que Giles Azevedo, seu assessor especial, que a acompanha desde que ela era secretária de Energia do Rio Grande do Sul.
Nesta segunda, em seu gabinete, ele já se reuniu com deputados do PT, do PCdoB, do PMDB e do PP para tentar montar uma estrutura que blinde a presidente e o governo nas CPIs do BNDES e dos fundos de pensão. Assim, temos aquela penca de ministros fazendo a “descoordenação política”, sob uma espécie de comando de um olheiro de Dilma. A presidente atrai para si mais uma função para ser mal executada. Isso joga o varejão político dentro do Palácio do Planalto, que é algo que todo presidente deve evitar, em vez de estimular. Todas as eventuais contrariedades cairão no colo da própria presidente.
Mais: Dilma está mandando um braço seu, pessoal, terçar armas com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, na Casa que este conhece como a palma da mão. Este é um daqueles momento sublimes, que não são raros na trajetória de Dilma, em que ela atravessa a rua só para pisar na casca de banana.
Giles é um assessor discreto e, até onde se sabe, nunca se meteu em sujeira, mas sua influência no Congresso é muito inferior a zero. Tende a ser mais problema do que solução.
Fico imaginando o inferno em que se transformou a vida da presidente, obrigada a ouvir de cada interlocutor uma avaliação. Pior: a sua agenda é hoje regulada pelo improviso e pelas necessidades da hora, sem nenhum planejamento. O caso da redução dos ministérios o evidencia com sobras. Na eleição de outubro, ela rechaçou a ideia e disse que isso era coisa de quem tinha viés tecnocrático, antipovo. Eis aí.
Dilma decidiu ela própria ir às compras. Vai dar errado.
Por Reinaldo Azevedo
Redução de ministérios: um anúncio atrapalhado, com ministro do Planejamento atuando como se fosse da Casa Civil…
Como se dizia antigamente, no tempo em que isto não gerava medo em ninguém: “Pelas barbas do profeta!”. O governo tem agora um novo chefe da Casa Civil, um novo porta-voz e um novo coordenador político, tudo sintetizado no… ministro do Planejamento, Nelson Barbosa — que, por sua vez, não planeja. Exercem ainda essas múltiplas funções Jaques Wagner (Defesa), Aloizio Mercadante (Casa Civil), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) e Gilberto Kassab (Cidades). Ou, por outra, na prática, ninguém faz nada. Ou alguém já viu cão de muitos donos bem alimentado? Não existe. Por que isso?
Depois de uma reunião da coordenação política, coube a Nelson Barbosa, ao lado de Kassab, anunciar que a presidente vai fazer uma espécie de pequena reforma administrativa. Devem ser cortados dez dos 39 ministérios, com redução do número de secretarias. Fosse uma mudança feita, vamos dizer, em tempos de paz, seria uma boa notícia. Anunciada quando o governo está no buraco, sei lá. Parece apenas que se trata de uma maneira de fingir que as coisas estão acontecendo.
O governo pretende reduzir também o número de cargos comissionados diretamente ligados à estrutura federal — estimados, atualmente, em 22 mil. Na mira, também está a diminuição de despesas de custeio, que atinge até a conta de luz das pastas. É… Para quem gasta US$ 100 mil em limusines numa viagem aos EUA, parece prudente, não é mesmo?
Afirmou Barbosa:
“Até o fim de setembro, vamos apresentar uma reforma administrativa. [...] A redução de dez ministérios como referência é a meta. Vamos avaliar com todos os ministros, com todos os órgãos envolvidos, tanto do ponto de vista de gestão como do ponto de vista político, de eficiência das políticas públicas”.
Considerado que essa era uma medida cobrada por muita gente, é claro que o anúncio deveria ter sido feito depois que o plano já estivesse pronto. É tão óbvio, é tão elementar, é tão primário! Agora, tem início a especulação sobre quais pastas serão cortadas e a luta dos partidos para não perder espaço na Esplanada. É muita gente ruim reunida, produzindo caca. E por que é um ministro do Planejamento, ladeado pelo das Cidades, a fazer o anúncio, com aquele seu ar meio soturno?
Barbosa falou até sobre a saída de Temer da coordenação política:
“O vice-presidente tem sido vital na construção da agenda do governo e de sua aprovação no Congresso. Eu tenho certeza de que qualquer que seja o cargo que ele achar melhor que possa desempenhar, vai continuar sendo um importante agente de apoio e de construção de solução [para o governo]“.
Certo! Da próxima, Dilma chama o ministro da Pesca para anunciar os novos passos da economia…
Não tem jeito, não, gente! Se derem limão, cachaça e açúcar para Dilma, ela produz nitroglicerina.
Para encerrar: alguém é capaz de me dizer que diabos faz Aloizio Mercadante no governo? Só a presidente deve conhecer a sua missão secreta…
Por Reinaldo Azevedo
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