O povo na rua e a dinâmica da crise: Dilma não terá paz, pouco importa o número de manifestantes
O povo na rua e a dinâmica da crise: Dilma não terá paz, pouco importa o número de manifestantes
Quantas pessoas vão à manifestação de protesto neste domingo? Cinquenta mil? Cem mil? Dois milhões? Querem saber? Para a dinâmica da crise, isso só teria importância se muitos milhões, muitos mesmo!, acima de qualquer expectativa, tomassem as ruas.
É claro que um protesto à altura daquele do dia 15 de março já deixará o governo de sobressalto, ainda mais desorientado e, pois, suscetível ao erro. Se, na contabilidade geral, houver, sei lá, 100 mil pessoas nas ruas, o que é gente pra diabo, os palacianos e seus acólitos na imprensa gritarão: “Mico!”. Talvez os próprios promotores do evento venham a ficar um tanto acabrunhados se assim for. E, no entanto…
E, no entanto, que diferença o eventual mico efetivamente faria para Dilma Rousseff? Ninguém deixará de achar o governo ruim/péssimo, migrando para o grupo do “regular” ou do “bom/ótimo”, porque os protestos terão reunido 100 mil pessoas em vez de 3 milhões. Não há voto de confiança ou avaliação generosa que resista a menos dinheiro no bolso, preços em disparada, economia acabrunhada, futuro incerto, pessimismo.
Os próprios jornalistas, que cometem o pecado de circular demais no meio político e de menos nas ruas, correm o risco de fazer avaliações apressadas. Um balanço ligeiro desta semana, a se considerar só o ambiente da corte, tenderá a concluir que Dilma já superou o pior da crise. Segundo essa hipótese, a semana anterior teria sido o fundo do poço, e esta que termina, o ponto de inflexão. De fato, importantes costuras foram feitas entre palacianos e cortesãos, mas isso conta muito pouco. Dilma não tem de se segurar no cargo até 31 de agosto de 2015, mas ate 31 de dezembro de 2018.
Até que a economia melhore para as pessoas, não para os indicadores que medem tendências, ainda será preciso piorar bastante. Se o Palácio conseguiu ou não isolar Eduardo Cunha; se o deputado está mais poderoso ou menos; se o senador Renan Calheiros passou a ser o homem da “estabilidade” em Brasília… Convenham: que diferença isso faz para os brasileiros que não vivem de descrever os humores dos políticos de Brasília?
Há mais: a cada enxadada que dá a Operação Lava Jato, surge um punhado de minhocas reais, potencialmente reais ou virtuais, pouco importa. A engrenagem hoje envolvida na investigação e nos vazamentos tomou gosto pela coisa. Já se abriram duas variáveis independentes na operação, que remetem para o Ministério do Planejamento e para o setor elétrico. A artilharia se volta agora para os estádios da Copa do Mundo, terreno fértil para escavar frustrações e humilhações.
Na superfície desse terreno, está aquele sentimento que varreu o país em 2013 e 2014, que contrastava a ruindade dos serviços públicos oferecidos pelo estado com a suntuosidade dos estádios, o que transformou o tal “Padrão Fifa”, antes uma referência de qualidade, em reivindicação situada entre a política e a ironia. E a ironia suprema, depois que estourou o escândalo da Fifa, foi saber que, de algum modo e em certa medida, sempre estivemos no Padrão Fifa — no caso, o da roubalheira.
Nas profundezas desse terreno minado pela indignação, ainda está a humilhação daqueles 7 a 1 para a Alemanha, a indicar que fomos roubados para nada. A força-tarefa da Lava-Jato, qualquer observador arguto já percebeu, tem um atilado senso de marketing. E pouco importará saber o percentual de dinheiro público e de dinheiro privado que financiou os elefantes brancos. Isso não acaba tão cedo.
Para arremate dos males, os que recomendam a Dilma correção de rumo procuram empurrá-la justamente para o modelo que se transformou na usina das crises. Não era mágica que sustentava aquele modelo, em si insustentável, mas o ciclo que se encerrou dos preços estratosféricos das commodities. O resto foi só gestão porca de uma janela que o mundo nos abriu. O PT se encarregou de transformar o que poderia ter sido o planejamento do futuro em alguns fogões, algumas geladeiras, cocô de curto prazo e votos.
Em entrevista à Folha neste sábado, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) sintetiza: “Ou o governo muda, ou o povo muda o governo”. E ele está se referindo justamente à economia. Mas mudar precisamente o quê? Na próxima cochilada que der nas contas públicas, o país pode ser rebaixado pelas agências de classificação de risco — e aí haverá gente com saudade do tempo em que o símbolo do mal era o FMI…
Querem saber? As pessoas sensatas deveriam torcer para que, neste domingo, houvesse nas ruas muitos e muitos milhões, um troço realmente acachapante, a indicar para Dilma que não dá mais. Isso também poderia evidenciar aos políticos que é chegada a hora. Creio na robustez do movimento, sim, mas não nessa monumentalidade.
E a pior coisa que poderia acontecer seria o insucesso do protesto. A presidente não teria o que fazer com ele. Seria um indicador não de otimismo, mas de desalento e de descrença, o que costuma anteceder decisões coletivas desastradas.
Não há como o povo na rua, neste domingo, ser o problema. Ele só pode ser a solução. É a continuidade do governo que nos lança no escuro, não a sua interrupção.
Assim, meus caros, bom protesto!
Por Reinaldo Azevedo
Presidente Dilma, não se sacrifique por mim! Troco por renúncia. Ou: Lá vem ela espancar Guimarães Rosa
Ai, que preguiça Dilma me dá! A cada vez que ela não tem o que dizer, lasca um Guimarães Rosa para preencher o vazio. Pior: é sempre o mesmo trecho, como um disco arranhado. É sempre o mesmo Riobaldo de “Grande Sertão: Veredas”, citado pela metade — que a memória ali é curta para mais de uma oração principal e uma subordinada. Vamos ver.
A presidente foi a Salvador nesta sexta participar do programa “Dialoga Brasil”, depois de entregar algumas unidades do Minha Casa Minha Vida em Juazeiro. Disse na capital baiana que vai trabalhar pelo país mesmo “debaixo da pressão, desfaçatez e intolerância”. É mesmo?
Sensatez foi o que se viu no Palácio do Planalto nesta quinta, com o presidente da CUT, o senhor Vagner Freitas, pregando luta armada. Querem maior prova de tolerância do que aquilo?
Então ficamos assim: no que me diz respeito, abro mão do sofrimento. Dilma pode fazer por menos. Não quero que se sacrifique por mim. Troco minha parte pela renúncia. E todos podemos ficar felizes!
Demonstrando que não há a menor chance de que venha a aprender alguma coisa, disse o seguinte:
“Vou fazer uma afirmação até um pouco pretensiosa: se tem uma coisa de que tenho orgulho foi do que fizemos no governo Lula e no meu governo em relação ao Nordeste. E isso eles [a oposição] jamais vão tirar de nós.”
Quem quer tirar o quê de Dilma? Ela é que traiu a esperança e a confiança de milhões.
E aí veio o Riobaldo pela metade:
“A vida quer da gente é coragem”. Ela se saiu com essa no discurso de posse, no dia 1º de janeiro de 2011, quando, então, chamou Rosa de “poeta da minha terra”. Sim, ambos são de Minas, mas Rosa não era poeta. Aliás, na ocasião, ela atribuiu ao escritor uma frase que é um dito popular: “O que tem de ser tem muita força”…
Políticos adoram fazer citações literárias, mais ou menos com o mesmo propósito com que antigamente se compravam livros de capa dura para enfeitar a estante.
Rosa está longe de me seduzir, sabem os meus leitores mais antigos, mas cumpre recuperar a fala mais completa de Riobaldo, que é um pouco mais do que essa tola valentia contra adversários que Dilma sugere. A inflexão, na obra, tem um caráter mais existencialista do que guerreiro, mesmo na boca de um ex-jagunço:
“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim de repente, na horinha em que se quer, de propósito – por coragem. Será? Era o que eu às vezes achava.”
Como se nota, é um deixar-se estar no mundo, em um propósito previamente definido, sem um projeto de poder, sem servir a um senhor que não seja a urgência de viver. Isso é precisamente o contrário do cinismo da política.
Acho Rosa superfaturado — já escrevi isso até em livro e apanhei o tanto proporcional à quase unanimidade que ele representa, engrossada por uma fatia enorme do que não o leram… Mas é evidente que ele não pode ser barateado assim.
Depois de fazer piadinhas sem graça com a palavra “pedalada”, o governador da Bahia, Rui Costa, afirmou o seguinte:
“Vejo gente que perdeu a eleição e não aceita. Quer maltratar o povo e criar o caos no país”.
O público, rigidamente selecionado, responde: “Não vai ter golpe” e “Olê, Olê, Olê, Olá/ Dil-má, Dil-má”.
Por Reinaldo Azevedo
Joaquim Levy sinaliza a banqueiros que vai aumentar impostos
Na reunião que teve na terça-feira passada com os maiores banqueiros do país, Joaquim Levydeixou-os convencidos de duas coisas.
Primeiro, Levy não tem a menor intenção de deixar o cargo.
Segundo, vai subir impostos.
Por Lauro Jardim
Confira a maxidesvalorização do real nos últimos doze meses, uma das causas da inflação alta
Sem alarde, o Brasil promoveu uma maxidesvalorização do real nos últimos doze meses — nada, claro, que estivesse na plataforma de campanha da reeleição de Dilma.
Só em 2015, o dólar se valorizou 30% ante o real. E, em um ano, 57%. Isso explica, em parte, a resistência da inflação, apesar dos juros tão altos.
Por Lauro Jardim
A crise não é Deus. O PT é a causa das causas causadas
Joaquim Levy falou a empresários nesta sexta (ver post anterior). Disse o óbvio: o ajuste fiscal é consequência da crise econômica, não causa. Mas a crise econômica, à diferença de Deus na teologia, está entre as causas causadas, entendem? Só Deus, meninas e meninos, pode ser considerado a causa das causas não causadas. Até parece que a crise que está aí é uma fatalidade. Não é, não.
Levy explica o óbvio. O governo petista navegou nos preços estratosféricos das commodities e incentivou o modelo ancorado no consumo. Não é que não tenha resistido à tentação apenas. Lula ancorou o seu discurso contra tudo o que veio antes na bolha. Mas aí a festa acabou. As commodities despencaram, e o país não havia se preparado.
Então entrou a genialidade de Guido Mantega, especialmente em parceria com Dilma. E ambos resolveram “estimular” a economia com incentivos, desonerações, um pouco mais de gastos, um pouco mais de consumo. A redução dos juros na porrada fez parte da patuscada. Colapsou.
Disse Levy: “Dada a fragilidade da economia, nós apenas mudamos a direção. Se nós olharmos o superávit, que atualmente é um déficit, o balanço estrutural fiscal já vinha se deteriorando desde 2012, e o que fizemos foi estancar essa deterioração. Na verdade, a economia já vinha se desacelerando. Não foi o ajuste fiscal”.
Sim, é isso mesmo. A crise está aí. Tem causa. Não é Deus. É possível chegar à origem. O PT é a causa das causas causadas.
Por Reinaldo Azevedo
Cerveró revela que assinou contrato superfaturado para pagar dívidas da campanha de Lula
Por Robson Bonin, na VEJA:
No início de 2007, a Petrobras experimentava uma inédita onda de prosperidade estimulada pelas reservas recém-descobertas do pré-sal. O segundo mandato de Lula estava no começo. Com a economia aquecida e o consumo em alta, a ordem era investir. A área internacional da companhia, sob o comando do diretor Nestor Cerveró, aportou bilhões de dólares na compra de navios-sonda que preparariam a Petrobras para a busca do ouro negro em águas profundas. Em março daquele ano, uma operação chamou atenção pela ousadia. Sem discussão prévia com os técnicos e sem licitação, a estatal comprou uma sonda sul-coreana por 616 milhões de dólares. E, ainda mais suspeito, escolheu a desconhecida construtora Schahin para operá-la, pagando mais 1,6 bilhão de dólares pelo serviço. Um negócio espetacular – apenas para a empresa que vendeu a sonda e para a construtora, que tinha escassa expertise no ramo. A Lava-Jato descobriu que, como todos os contratos, esse também não ficou imune ao pagamento de propina a diretores e políticos. O escândalo, entretanto, vai muito mais além.
Em delação premiada, o operador Julio Camargo, que representava a Samsung na transação do navio-sonda Vitória 10?000, confessou ter pago 25 milhões de dólares em propinas a diretores e intermediários, incluindo aí o próprio Cerveró. Com o esquema em torno da sonda revelado, faltava descobrir o papel da Schahin na operação. E é exatamente Nestor Cerveró, preso em Curitiba e agora negociando a sua delação premiada, quem revela a parte até aqui desconhecida da história. Em um dos capítulos do acordo que está prestes a assinar com o Ministério Público, o ex-diretor da área internacional conta que os contratos de compra e operação da sonda Vitória 10?000 foram direcionados à construtora Schahin com o propósito de saldar dívidas da campanha presidencial de Lula, em 2006. E, por envolver o caixa direto da reeleição do petista, a jogada foi coordenada diretamente pela alta cúpula da Petrobras.
Nos primeiros relatos em busca do acordo, Cerveró contou que o PT terminou 2006 com uma dívida de campanha de 60 milhões de reais com o Banco Schahin, pertencente ao mesmo grupo que administrava a construtora. Sem condições de quitar o débito pelas vias tradicionais, o partido usou os contratos da diretoria internacional para pagar a dívida da campanha. Então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli incumbiu pessoalmente Cerveró do caso. O ex-diretor recebeu ordens claras para direcionar o contrato bilionário da sonda à Schahin. Uma vez contratada pela Petrobras, a empreiteira descontou a dívida do PT da propina devida aos corruptos do petrolão. Para garantir o silêncio sobre o arranjo, a Schahin também pagou propina aos dirigentes da Petrobras envolvidos na transação. Os repasses foram acertados pelo executivo Fernando Schahin, filho do fundador do grupo, Milton Schahin, e um dos dirigentes da Schahin Petróleo e Gás. Fernando usou uma conta no banco suíço Julius Baer para transferir a propina destinada aos dirigentes da estatal para o banco Cramer, também na Suíça. O dinheiro chegou a Cerveró e aos gerentes da área Internacional Eduardo Musa e Carlos Roberto Martins, igualmente citados como beneficiários dos subornos.
Além de amortizar as dívidas da campanha de 2006, o contrato da sonda Vitória 10?000 serviu para encerrar outro assunto nebuloso envolvendo empréstimos do Banco Schahin e o PT. A história remonta ao assassinato do prefeito petista Celso Daniel, em Santo André, em 2002. Durante o julgamento do mensalão, ao pressentir que seria condenado à prisão pelo Supremo Tribunal Federal, Marcos Valério, o operador do esquema, tentou fechar um acordo de delação premiada com o Ministério Público. Em depoimento na Procuradoria-Geral da República, ele narrou a história que agora pode se confirmar no petrolão. Segundo Valério, o PT usou a Petrobras para pagar suborno a um empresário que ameaçava envolver Lula, Gilberto Carvalho e o mensaleiro preso José Dirceu na trama que resultou no assassinato de Celso Daniel.
Valério contou aos procuradores que se recusou a fazer a operação e que coube ao pecuarista José Carlos Bumlai, amigo pessoal de Lula, socorrer a cúpula petista. Segundo ele, Bumlai contraiu um empréstimo de 6 milhões de reais no Banco Schahin para comprar o silêncio do chantagista. Depois, usou sua influência na Petrobras para conseguir os contratos da sonda para a construtora. O próprio Milton Schahin admitiu ter emprestado 12 milhões de reais ao amigo de Lula. “O Bumlai pegou, sim, um empréstimo, como tantas outras pessoas. Mas eu não sou obrigado a saber para que o dinheiro foi usado”, disse recentemente à revista Piauí.
Eivada de irregularidades, a contratação da Schahin tornou-se alvo de investigação da própria Petrobras. A auditoria da estatal concluiu que a escolha da Schahin se deu sem “processo competitivo” e ocorreu a partir de índices operacionais de desempenho artificialmente inflados para justificar a contratação. Os prejuízos causados pela transação em torno da Vitória 10?000 foram classificados pelos técnicos como “problemas políticos”, que deveriam ser resolvidos pela cúpula da estatal. Não fosse pela Lava-Jato, a trama que envolve a campanha de Lula e os contratos na Petrobras permaneceria oculta nos orçamentos cifrados da estatal. A Schahin, que vira seu faturamento saltar de 133 milhões de dólares para 395 milhões de dólares durante os oito anos de governo Lula, seguiria faturando sem ser importunada.
O cerco, porém, está se fechando. Os números das contas usadas no pagamento de propinas no exterior e até detalhes das viagens de Fernando Schahin à Suíça já foram entregues pelos ex-dirigentes da Petrobras aos procuradores. Apesar dos claros sinais de fraude no processo, o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli defendeu a compra da sonda ao depor como testemunha de defesa de Cerveró na Justiça. Procurados, os advogados de Cerveró disseram que não poderiam se pronunciar sobre o andamento do acordo de delação com o Ministério Público. Os demais citados negaram envolvimento no caso. Ao falar da ordem para beneficiar a Schahin, Cerveró reproduziu a frase que teria ouvido de Gabrielli: “Veio um pedido do homem lá de cima. A sonda tem de ficar com a Schahin”. E assim foi feito. Cerveró ainda não revelou quem era o tal “homem”.
Por Reinaldo Azevedo
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