Superávit primário: Levy negocia como contar ao mercado que meta terá um corte de mais de 45%...

Publicado em 23/06/2015 19:12
por REINALDO AZEVEDO, de VEJA.COM (+ Editorial do estadão e Juan Árias, do El País)

Superávit primário: Levy negocia como contar ao mercado que meta terá um corte de mais de 45%. Ou: Ministro, comece a rever também 2016 e 2017!

É curiosa a situação de Joaquim Levy, ministro da Fazenda. Ele terá de convencer o mercado e as agências de classificação de risco daquilo que eles já sabiam: o Brasil não vai cumprir a promessa de fazer o já modesto 1,1% de superávit primário. O ministro já começou a negociar com o Congresso o que é factível: praticamente, a metade disso: 0,6%.

Todo mundo já sabia que aquele 1,1% era inviável, mas Levy insistia na marca porque temia que um recuo pudesse dar a entender falta de compromisso do governo com as contas públicas. Ocorre que a aplicação do ajuste fiscal está sendo mais lenta do que ele imaginava. E parte dele já foi descaracterizado, diminuindo a economia. Se, antes, insistir no 1,1% demonstrava a solução de compromisso, continuar com isso agora afetaria a credibilidade do governo, já que todo mundo sabe que não vai acontecer.

Quando se fala em 1,1% ou 0,6% do PIB, a diferença parece irrelevante. Bem, trata-se de uma redução de mais de 45% da meta. Quando se transforma isso em grana propriamente, os R$ 66,3 bilhões que o governo pretendia economizar se transformam em R$ 36,16 bilhões. Sim, leitor, você pode se perguntar que diabo de negócio é esse em que, num prazo de três meses, as contas são refeitas com uma diferença de mais de R$ 30 bilhões. É a administração pública brasileira.

Até maio, na medição de 12 meses, em vez de superávit, o país tinha era déficit primário: havia saltado de 0,46% no fim de 2014 para 0,76%. No acumulado até abril, no entanto, o superávit havia chegado a R$ 32,448 bilhões. Ocorre que o governo tradicionalmente gasta bem mais no segundo semestre do que no primeiro.

Bem, já que Levy terá de arrumar um discurso para se explicar ao mercado, convém já rever as metas de 2016 e 2017, não é? Afinal, o governo prometeu uma economia de 1,2% do PIB no ano que vem e de 2% em 2017. Bem, também isso não vai acontecer.

Por Reinaldo Azevedo

 

Editorial do Estadão: Lágrima de crocodilo

Fazendo eco às pesquisas que demonstram que o apoio popular e a aprovação ao governo continuam despencando, Luiz Inácio Lula da Silva, como se não tivesse nada a ver com isso, faz duras críticas à presidente da República que colocou no Palácio do Planalto, escancara seu estilo populista ao dar conselhos à sucessora e tem o caradurismo de afetar consternação e se queixar do “ódio que está na sociedade”.

O estarrecedor depoimento de Lula, diante de líderes religiosos que reuniu em seu instituto em São Paulo na semana passada, foi relatado pelo Globo no sábado.

O ex-presidente falou aos líderes religiosos no momento em que era divulgada mais uma pesquisa Datafolha dando conta de que caiu para 10% a aprovação popular a Dilma Rousseff e subiu para 65% o índice de brasileiros que consideram seu governo ruim ou péssimo. “A Dilma está no volume morto”, ironizou Lula, acrescentando que ele próprio está no mesmo nível e o PT ainda mais abaixo.

Com o cinismo que seus admiradores preferem interpretar como “visão pragmática” das questões políticas, Lula endossou de modo geral as críticas feitas por seus interlocutores ao governo, a Dilma e ao PT e ainda botou lenha na fogueira na tentativa de convencê-los de que os problemas apontados são consequência da teimosia de sua sucessora, que se recusa a seguir os conselhos que recebe do mestre.

Tendo ao lado o ex-ministro Gilberto Carvalho, que manifestava aprovação a todas as intervenções do chefe e a elas acrescentava argumentos, Lula desfiou críticas a Dilma e ao governo que ela comanda: “O Gilberto sabe do sacrifício que é a gente pedir para a companheira Dilma viajar e falar”. “Numa reunião em Brasília eu disse a ela: companheira, você lembra qual foi a última notícia boa que demos. Ela não lembrava.” “Estamos há seis meses discutindo ajuste. Ajuste não é programa de governo. Depois de ajuste vem o quê?” “Os ministros têm de falar. Parece um governo de mudos.”

Não se dando ao trabalho de disfarçar o tratamento de líder para liderada que pretende impor em seu relacionamento com a presidente da República, Lula contou: “Acabamos de fazer uma pesquisa em Santo André e São Bernardo, e a nossa rejeição chega a 75%. Entreguei a pesquisa para a Dilma, em que nós só temos 7% de bom e ótimo. E disse para ela: isso não é para você desanimar, não. Isso é para você saber que a gente tem de mudar, que a gente pode se recuperar. E entre o PT, entre eu (sic) e você, quem tem mais capacidade de se recuperar é o governo, porque tem iniciativa, tem recurso, tem uma máquina poderosa para poder falar, executar, inaugurar”.

Lula garantiu que nos encontros que mantém regularmente com a chefe do governo tenta convencê-la da necessidade de se expor publicamente, fazer contato pessoal “porque na hora em que a gente abraça, pega na mão, é outra coisa”. E resumiu: “Falar é uma arma sagrada”, ressalvando que não se trata de falar na TV ou no rádio, mas “olho no olho”.

Está claro que, apesar de achar que entende de política mais do que ninguém, Lula é incapaz de – ou não quer – perceber que de nada mais adianta Dilma Rousseff sair por aí anunciando planos mirabolantes e fazendo promessas maravilhosas pela razão simples de que perdeu a credibilidade. Pelo menos dois em cada três brasileiros não acreditam nela. De resto, os conselhos de Lula recendem a populismo barato e a vigarice chinfrim: para ele, o importante é levar o eleitor “na conversa”.

Embora permissivo quando se trata de si próprio, da família e dos amigos, Luiz Inácio Lula da Silva se comporta com uma arrogância e uma presunção que o levam a colocar-se sempre acima do bem e do mal.

Subiu na vida pública transformando os adversários políticos em inimigos a serem destruídos. E agora demonstra uma consternação hipócrita, como o fez no encontro com os religiosos: “Jamais vi o ódio que está na sociedade. Família brigando dentro de família, companheiro do PT que não pode entrar em restaurante…”.

Lamentava, com lágrimas de crocodilo, estar colhendo o amargo fruto que plantou.

(O Estado de S. Paulo)

 

Caiado: “Não existe democracia quando se prende Leopoldo López por fazer oposição. Se bolivarianismo avançar no Brasil, amanhã seremos nós as vítimas”

Ronaldo Caiado (DEM-GO) discursou no plenário do Senado sobre a situação da ditadura venezuelana aliada do PT.

Ele fez parte da comitiva de senadores brasileiros que sofreu um cerco de milicianos em Caracas na semana passada e foi impedida de visitar os presos políticos de Nicolás Maduro.

Um deles, o líder de oposição Leopoldo López, detido há mais de um ano na prisão militar de Ramo Verde, encerrou nesta terça-feira sua greve de fome iniciada há 30 dias. O anúncio foi feito por meio de uma carta, lida por sua mulher, Lilian Tintori, um dia após as autoridades eleitorais definirem a data das próximas eleições legislativas, uma das exigências de López.

Lilian também havia escrito uma carta ao marido pedindo que ele suspendesse a greve de fome. Ambos os documentos podem ser vistos no fim deste post.

Abaixo, seguem alguns trechos do discurso de Caiado. Volto em seguida:

“Não existe preso político em uma democracia. Somente em modelos que não aceitam oposição, dissidência política.”

“Um relatório mostra que aquele país é uma farsa de democracia: 43 mortos, 878 feridos, 3.351 prisões políticas.”

“Esse relatório não foi produzido pela oposição, pelo senador Ronaldo Caiado. Foi produzido pela Anistia Internacional, órgão da ONU.”

“É estarrecedor o último levantamento feito: os juízes não podem proferir nenhuma decisão contrária ao governo venezuelano.”

“Decisão tem que ser de acordo com a vontade do governo Maduro. Se não cumpre regra, é imediatamente transferido, compondo uma lista negra.”

“Alguns senadores que lutam para instalar espécie de bolivarianismo tupiniquim reagiram dizendo que fazíamos uma ‘ingerência’ na Venezuela.”

“Fomos em viagem oficial e partimos da prerrogativa de fiscalizar, cláusula prevista em acordo do Mercosul do qual todos somos signatários.”

“Reafirmo a incoerência em suspender o Paraguai, por tirar do poder o presidente Lugo, amigo de Lula, e se calar pelo que acontece na Venezuela.”

“O Paraguai foi expulso por agir supostamente contra a democracia. Todos esses fatos que a Anistia Internacional informa não são um atentado à democracia?”

“Não foi a oposição, mas um jornalista da Folha que relatou a confissão de um policial: tratou-se de uma sabotagem ao grupo de senadores brasileiros.”

“A importância em defendermos a democracia e o respeito aos direitos humanos na Venezuela também se reflete aqui, onde o bolivarianismo também ameaça.”

“Não existe democracia quando se prende Leopoldo López por fazer oposição. Se bolivarianismo avançar no Brasil, amanhã seremos nós as vítimas.”

Retomo, com uma única ressalva, que já faço há anos:

É comum que os críticos do PT apontem a “incoerência” do suposto partido em suas relações exteriores, o que é até compreensível dados os dois pesos, duas medidas de sempre.

Mas as atitudes dos petistas em geral são absolutamente coerentes: eles chamam de “democracia” e defendem contra a “ingerência” de opositores qualquer governo aliado, mesmo que seja uma ditadura; e fazem “ingerência” em qualquer governo adversário quando seus aliados locais sofrem reveses, como ocorreu em Honduras e no Paraguai.

Há coerência na imoralidade. Há coerência na canalhice. Chamá-las de incoerência é rebaixar o modus operandi intencional do movimento geo-político comunista a um erro circunstancial que ainda poderia ser corrigido.

Não se combate essa gente sem expor 100% a má-fé de suas ações.

Lilian anuncia

Lilian

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Leopoldo carta

Leopoldo carta 2

“A vocês, irmãos e irmãs, peço com o coração na mão que assumamos com humildade as conquistas obtidas neste protesto e que juntos, todos, suspendamos a greve de fome”

Leopolodo carta 3

* Veja também aqui no blog:
Comitiva chapa-branca vai à Venezuela: Lindbergh, leva os 10 milhões!

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

 

Brasil precisa de sangue novo, por Juan Árias (do El País)

Algo está murchando no Brasil. Sem esperança? Tudo dependerá de se o gigante, hoje cansado e mal-humorado, terá um final melancólico como o dos dinossauros, que ninguém até hoje sabe por que desapareceram para sempre, ou se tem à espera o final encantador da mitológica Ave Fênix.

Essa ave da mitologia egípcia que há cinco mil anos morria sem morrer de fato, já que acabava renascendo de suas cinzas fecundadas pelo sol, transformada em símbolo de recuperação. Claro que estou me referindo não ao Brasil como país, que continua sendo um gigante por natureza e precioso por seu povo, um calidoscópio rico de etnias, culturas, criatividade e crenças religiosas, mas me refiro a sua grave situação política, econômica e ética.

“Há algo de podre no reino da Dinamarca”, se diz quando uma situação política começa a se deteriorar, parafraseando Shakespeare em Hamlet. E algo não funciona na política brasileira se o mais otimista de seus cidadãos, o carismático ex-presidente Lula da Silva, que criou o mantra hiperbólico “nunca antes na história desse país” para propagar suas maravilhas, confessa a um grupo de religiosos que ele, a presidenta Dilma Rousseff e seu partido, o PT, estão “no volume morto”.

Antes de completar os seis meses de seu segundo governo, Dilma aparece, de fato, com 65% de rejeição popular, que atinge todas as regiões do país e todas as classes sociais.

Lula, em seu discurso para líderes religiosos, que deveria ter permanecido secreto, confessou todo o pessimismo que o aflige. Pergunta-se a Lula qual notícia boa o governo deu ao país depois da última vitória que consagrou Dilma. Ele diz que perguntou à presidenta e “ela não se lembrava”. Também não se lembravam os senadores, nem os deputados, nem os sindicalistas do PT.

Um governo, disse Lula aos religiosos, que “só sabe dar más notícias” e onde, talvez por isso, existe um grande “mal-humor no país”, em que, diz ele, “nunca vi tanto ódio”.

Criticou Dilma por ter prometido na campanha eleitoral algo que ele considera sagrado: “Nunca vou mexer nos direitos do trabalhadores”. E Dilma, diz Lula, está mexendo. “Disse que não faria cortes e está fazendo”. E por isso, segundo ele, “a oposição a acusa sabiamente de ter mentido”.

O ex-sindicalista reclamou que no Palácio do Planalto agora só entra “gente fina”, enquanto que ele recebia até os “catadores de papel”. E os religiosos presentes ao encontro acusaram o PT de ter abandonado os pobres.

Horas depois de seu discurso, Lula tomou conhecimento da nova pesquisa Datafolha que registrou não apenas a queda na popularidade de Dilma, mas também na dele. Se as eleições fossem realizadas hoje, o oposicionista Aécio Neves, do PSDB, que disputou a Presidência com Dilma no ano passado, ganharia, por exemplo, de Lula por 10 pontos. E isso nunca havia sido visto no país, onde Lula aparecia como ganhador indiscutível em qualquer das disputas e com todos os adversários.

E se o governo e o PT estão no fundo do poço, segundo Lula, também não estão melhores os outros partidos, nos quais não aparece no horizonte uma possibilidade de renovação geracional, com candidatos alternativos à atual política velha, gasta e corrupta. Hoje a sociedade brasileira está mais viva e com vontade de mudança do que o mundo político.

Todos os países passam por crises e ciclos históricos, de decadência ou de glória. O Brasil vive atualmente momentos de forte desencanto, que se traduzem em um aumento visível da violência e da intolerância racial e religiosa, algo inédito até pouco tempo atrás nesse país que, mesmo em seus piores momento, soube ser fiel a sua vocação de “povo cordial e tolerante”.

Muitos me perguntam aqui e na Espanha como e quando vai acabar esse momento difícil de definir, mas que dói na carne para os brasileiros. Nenhum profeta tem a resposta. Talvez, no entanto, não sirvam mais os remendos, os arranjos das crises do passado, os velhos truques de mudar para que tudo continue igual.

Se a crise chegou ou está chegando ao “volume morto”, segundo Lula, a resposta precisa ser radical, talvez dolorosa, mas indispensável: o Brasil precisa mudar, começando pela busca urgente pelos que hoje são conhecidos como “cidadãos globais”, líderes novos, possivelmente jovens, não contaminados com as práticas corruptas da política, capazes de olhar o Brasil e fora dele com o olhar novo de uma sociedade que já não é a de ontem, que cresceu, que pensa e analisa melhor as coisas. E que deseja contar e participar.

O Brasil precisa de mais do que remendos de reformas, iniciar um novo ciclo que ofereça confiança para todos: trabalhadores e empresário, cultos e analfabetos. E, por isso, cortar nove bilhões de reais da Educação parece um crime.

Em sua confissão, Lula propõe como remédio a Dilma para sair de sua situação a antiga fórmula que ele usou para governar e criar consenso. Disse ele: “Política é olhar no olho da pessoa, passar a mão na cabeça, beijar”.

Li em um casamento da classe C, a nova classe média do Brasil, a dois trabalhadores, a frase de Lula, e me comentaram, mexendo a cabeça: “Não, não adianta mais só fazer carinho. Queremos que ofereçam a nossos filhos a possibilidade de serem mais do que nós fomos. E que roubem menos.”

O Brasil tem hoje líderes capazes de falar com linguagem nova à nova classe média oriunda da pobreza, para a qual já não basta mais os abraços e carinhos de Lula?

(Juan Árias, no El País)

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Fonte:
Blog Reinaldo Azevedo, veja.com

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