Senso de humor: ‘House of Cargos’ — a vida no topo do poder

Publicado em 02/03/2015 15:45
por Geraldo Samor, de veja.com.br

‘House of Cargos’ — a vida no topo do poder

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A terceira temporada de House of Cards — talvez o retrato mais fiel dos bastidores da política nas democracias contemporâneas — vai ao ar hoje na Netflix.

Desde que a série caiu no gosto da classe política, de empresários e do mercado financeiro, muita gente tem comparado o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, com Frank Underwood, o protagonista da série.

Numa entrevista recente ao Valor, Cunha disse que compará-lo a Underwood era “um absurdo”.

“Eu vi essa série. Existem três diferenças clássicas, ali: o cara é um assassino, o cara é um corrupto e o cara ainda é um homossexual. Não dá para eu aceitar essa comparação. É ofensiva”.

Para comemorar a terceira temporada da série sem ofender o deputado, VEJA Mercados criou sua própria narrativa: ‘House of Cargos’.

Nas quatro cenas abaixo, absolutamente fictícias, não há corrupção, assassinatos, e muito menos referências a orientação sexual.

Só existe Brasilia, em todo o seu esplendor.

 

Cena 1. O entregador de jornais ainda não havia arremessado a Folha de São Paulo no jardim do prédio quando Eduardo Cunha, num terno Zegna que acabara de comprar em Lisboa, pisou fora de seu apartamento funcional e tomou o elevador, naquela manhã extorsivamente úmida de janeiro.

Ao chegar ao térreo, trocou um bom dia com seu segurança, que o acompanhava desde os tempos em que ele era um desconhecido na política. Estava aí um homem em quem Eduardo confiava. Qualquer dia, faria dele diretor de um fundo de pensão; o cara estava, inclusive, terminando a faculdade de administração, como parte de um acordo que eles fizeram lá atrás (“você estuda e eu te ajudo”).

O terno, impecável, era praticamente a única coisa virgem a esta altura da vida de Eduardo Cunha, ainda mais naquela manhã, horas depois de ter sido eleito presidente da Câmara, sacramentando sua posição como o terceiro homem mais poderoso do Brasil.

Em Brasilia, todo mundo sabia que o “terceiro”, no caso, era quase sinônimo de “primeiro”. A Presidente Dilma, àquela altura, já era o que os americanos chamam de ‘lame duck president’ — um pato manco, incapaz de causar danos. O vice, Michel Temer, que Cunha conhecia há anos e com quem mantinha uma relação volátil, estava numa posição difícil.

Se o clima azedasse e o impeachment viesse, Temer teria que fazer ainda mais aquela cara de paisagem que caracteriza todos os vices. Somente ele, Eduardo, poderia botar para quebrar: decidir alianças, dar celeridade a procedimentos ou retardá-los, e, claro, romper acordos ao sabor da conveniência do dia.

O Brasil podia não estar em boas mãos — isto é subjetivo — mas estava nas mãos certas. Disto Eduardo tinha certeza.

Afinal, política não se faz com aquela coisa de “vem pra rua”. Quem manda mesmo é quem se elege e “vai pro gabinete” — e ele tinha o maior, o mais espaçoso, o mais poderoso deles.

De repente, a política fluminense — onde ele havia afiado seus dentes, onde tinha feito e desfeito governadores — parecia coisa provinciana. Agora, ele estava no topo, e a República ainda não sabia direito o tamanho daquele homem.

“Me aguardem,” pensava ele enquanto o Corolla preto, cantando pneu, ganhava o Eixão.

 

EduardoCena 2. Antes de mexer no tabuleiro que interessa, Eduardo Cunha sabia que tinha um dever de casa a fazer: agradar a base. Mesmo reinando agora dos píncaros do Poder, seria obrigado a manter no mínimo o semblante da velha rotina: visitar as igrejas evangélicas, dizer seus aleluias, dar os tapinhas nas costas dos pastores, ‘sentir’ a base. Essas viagens — frequentemente aos lugares mais deserdados da Baixada Fluminense ou da Zona Oeste do Rio — lhe eram tão excruciantemente desoladoras quanto as que seu colega americano, Frank Underwood, fazia ao Old South, sua terra natal.

“Quem são essas pessoas? O que eu estou fazendo aqui?” — ele pensava, enquanto doava a seu interlocutor o sorriso mais largo, o abraço mais caloroso e o olhar mais solícito de que o tal já fora recebedor.

Aquilo era um dom.

Sua promessa de que uma lei legalizando o aborto só passaria “por cima do meu cadáver” havia caído bem lá na base. Até o Malafaia lhe telefonara. Agora, era hora de meter mais cimento naquela laje. Ainda do carro, Eduardo ligou para um assessor no gabinete e pediu que puxasse dois projetos: um para impedir a adoção de crianças por casais gays; o outro, para criar o Dia do Orgulho Heterossexual. Ao desligar, sorriu apenas com o canto esquerdo da boca, um cacoete assimétrico que lhe acometia sempre que perpetrava uma maldade. (“Será que não estou pegando pesado no fundamentalismo?” cobrava-lhe, às vezes, sua consciência, geralmente na hora do banho.)

Ele sabia que a ‘elite branca’ iria criticá-lo por tomar aquele caminho de obscurantismo. Mas é disso que o povão gosta, e NINGUÉM entendia isso neste País melhor do que ele. Não ia ser agora, ao chegar ao topo, que ele ia se descuidar da base, esse bastião de legitimidade e fonte de desculpas para tudo. Mas sua mulher já o havia alertado para ter cuidado: até ele estava começando a acreditar naquelas bobagens.

Pensou na mulher.  Cláudia sabia puxá-lo de volta à terra quando Eduardo exagerava.  Só mesmo uma mulher forte e com opiniões próprias como ela para acompanhá-lo numa carreira tão meteórica.  Além de tudo, era uma excelente mãe e jornalista — a única pessoa naquela classe que ele era capaz de amar.

Eduardo tinha aguentado muita coisa para chegar onde chegou. Filiado ao PRN, foi presidente da Telerj no Governo Collor. Já pelo PPB, comandou a Cehab no governo Garotinho. Collor e Garotinho: dois amadores. Enquanto eles subiram e depois botaram tudo a perder, Eduardo só avançava.  Ele poderia lhes ensinar muito — senão sobre como conquistar o poder, sobre a arte de mantê-lo.  Já há algum tempo, Eduardo gostava da fama de mau que o acompanhava. Ainda se lembrava de como servira bem a ACM a alcunha de Toninho Malvadeza. Deixe que digam, que pensem, que falem…  No coração de Cláudia e nos grandes salões da República, Eduardo agora era o malvado favorito. Tom Jobim estava certo: o Brasil não é para principiantes.

 

DilmaCena 3. No jardim do Palácio da Alvorada, a Presidente Dilma estava irrequieta. Dali a alguns minutos, receberia seu nêmesis. O homem que ela sabia não ser flor que se cheire. O adversário que ela tentara derrotar, e que agora empunhava a faca e o queijo.

O desgaste de material — os quatro anos do primeiro mandato mais os oito com Lula — já se fazia notar. Nem as emas do Alvorada tinham mais graça. Ela, que adorava sentar ali de manhã e ler no laptop as notícias do dia — “o que a Folha vai inventar hoje? Como a VEJA vai me sacanear?” — agora preferia ficar na sala imensa, desenhada pelo velho comunista, assistindo televisão.

Descobriu tardiamente a série “Desperate Housewives”, que retrata a como a neurose rege a rotina nos subúrbios dos EUA. A ex-guerrilheira ria daquela gente tão bem de vida e tão ferrada da cabeça, se bem que ultimamente temia que ela mesma estivesse se tornando uma caricatura neurótica.

Enfim. Agora tinha que esquecer aquilo tudo e colocar a armadura. Dentro de poucos instantes, Eduardo Cunha estaria ali. A Presidente conversara com Temer na noite anterior, e este, para confortá-la, disse que não havia mágoa no coração de Eduardo, e que o encontro seria mais tranquilo do que a Presidente imaginava. Mas como confiar no Michelzinho? No clima atual, até os apelidos afetuosos estavam sob suspeição. Já não dava para saber, aquela altura do campeonato, para que time o Michelzinho torcia: o Situação Futebol Clube ou o Clube de Regatas Mudança Já.

O segurança apareceu na varanda que dá para o jardim e acenou com a cabeça: o homem havia chegado. “Isso vai ser uma m#$@%,” pensou a Presidente, atropelando uma ema no caminho de volta.

 

MichelCena 4. O encontro começou protocolar. Se aquilo ali fosse uma estória em quadrinhos, os balõezinhos com as falas não teriam a menor relevância: a política estava sendo jogada nos balões de pensamento.

Por um nanossegundo — o máximo que sua empatia durava com um adversário — Eduardo Cunha sentiu pena de Dilma Rousseff. Ele até respeitava a adversária, daquele jeito que um rottweiler respeita um pincher que luta e late bravamente pelo mesmo pedaço de carne. A Presidente estava visivelmente cansada. O mea culpa implícito que foi ter de nomear Joaquim Levy, a queda abismal em sua popularidade que o Datafolha havia capturado, e sua própria consciência de que a campanha não fora exatamente kosher… Dilma estava apática, fragilizada.

Mas, como dizia seu amigo Frank, “Para nós que estamos escalando rumo ao topo da cadeia alimentar, não pode haver compaixão. Só há uma regra: caçar ou ser caçado.”

Ele se sabia o predador; a presidente era sua caça. Era hora de deixar isso abundantemente claro.

“Vamos deixar de lado as cordialidades e ir ao que interessa,” disparou ele, abrindo os trabalhos.

“E o que seria isso?…” devolveu Dilma com enfado, mas já sabendo aonde a conversa ia.

“Esse negócio de carguinho, de ministério de m…, isso tudo ficou pra trás! Eu hoje represento muito mais do que o baixo clero.”

Ela atiçou: “E QUEM o senhor representa, exatamente?”

“Se a senhora não sabe, não deveria estar nesta cadeira.”

“Escuta aqui, seu filho d…”

“Bom DIAAAAAA!” berrou o Michelzinho, irrompendo na sala e evitando uma colisão frontal entre os poderes.

A tal governabilidade estava por um fio, mas sobreviveria mais um dia.

Por Geraldo Samor

 

El-Erian: Fed sobe juros até setembro; “fiquem líquidos”

Mohamed El-Erian, o ex-CEO da PIMCO e agora economista-chefe da Allianz, disse agora há pouco à CNBC que os investidores devem se preparar para um alta de juro nos EUA no meio do ano.

“Minha opinião é que teremos um alta de juro neste verão, até setembro, e não em setembro,” disse El-Erian, que passou boa parte de sua carreira investindo em mercados emergentes como o Brasil.

Quando começar, a alta dos juros nos EUA tende a fortalecer ainda mais o dólar e enfraquecer moedas emergentes como o real.

Ele previu que o Fed será bastante agressivo em comunicar que o aperto monetário vai começar, deixando claro para o mercado que esta será “uma longa jornada,” marcada pelo gradualismo.

E, quando o Fed finalmente começar a subir os juros, o banco central americano deve encerrar o ciclo de aperto quando a taxa estiver “bem abaixo” das média histórica de 4%.

Falando sobre os múltiplos da Bolsa americana (a relação entre o preço das ações e o lucro das empresas), El-Erian disse que os investidores deveriam começar a sair dos investimentos nos EUA (que estão com múltiplos relativamente altos) e comprar ativos europeus.

“O dólar ainda vai se valorizar mais, mas não vai ser linear. O que os investidores deveriam valorizar mais é liquidez, a habilidade de se reposicionar… não abandonem a liquidez,” disse El-Erian. “Estes mercados, estruturalmente, não são mais feitos para garantir liquidez.”

Por Geraldo Samor

 

Os caminhoneiros e a irrelevância dos sindicatos

Ivar Schmidt, líder do movimento que tem organizado a greve dos caminhoneiros, disse ontemao site de VEJA que “abomina sindicato, associação, federação, confederação. Esses segmentos tentaram nos representar nas últimas décadas e nunca resolveram nossos problemas”.

Veja só que curioso. Poucos sindicatos do mundo são tão protegidos quanto os brasileiros. A lei estabelece uma contribuição obrigatória dos trabalhadores – são R$ 3 bilhões que vão todos os anos para a conta de sindicatos, confederações e centrais sindicais. Os sindicatos tampouco precisam se preocupar com concorrentes, pois o governo reconhece apenas uma organização oficial por categoria.

E, apesar de todos os privilégios, os sindicatos não conseguem representar os trabalhadores. Os caminhoneiros, uma das categorias com maior massa de trabalhadores no país, consegue parar o Brasil a despeito do sindicato para o qual contribuem.

Eu disse acima “apesar de todos os privilégios”, mas talvez o correto seja “justamente por causa desses privilégios”. Nos países com liberdade sindical, onde o trabalhador pode escolher a associação que prefere e decidir se quer e quanto quer contribuir, os sindicatos precisam suar para conquistar associados. Organizam convênios, oferecem descontos em universidades e empréstimos a juros menores, têm piscinas, clubes, academias, anunciam na TV e representam os trabalhadores. A falta de dinheiro torna os sindicatos ativos e relevantes.

No Brasil, é contrário: com dinheiro garantido por lei (a lei inspirada na Carta del Lavoro, de Mussolini), o sindicato é tomado pela preguiça e pela irrelevância. O diretor sabe que seu caixa estará cheio mesmo se ignorar os associados. É difícil achar um trabalhador brasileiro que veja retorno no dinheiro que o governo lhe obrigou a pagar à entidade.A lei criada para proteger os sindicatos acabou por sabotá-los.

Irrelevantes, sobra aos sindicatos apenas a função cartorial da rescisão de contrato e a luta partidária, a favor daqueles que lhes garantem tantos privilégios. Foi o caso da patético ato em defesa da Petrobrás organizado esta semana pelo PT, com apoio da CUT e do Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo. Participantes do ato agrediram justamente os trabalhadores que deveriam representar.

Sindicalistas costumam desprezar o funcionamento do mercado e criticam quem acredita demais na mão invisível. Mal sabem que eles próprios estão sujeitos às forças do mercado.

(Leandro Narloch)

 

O cúmulo da cara de pau: desigualdade cubana é culpa do… capitalismo!

Igualdade na miséria, o resumo do socialismo. Fonte: GLOBO

Tenho uma regra que sigo religiosamente, sem jamais ter quebrado a cara com ela: jamais subestimar a cara de pau dos esquerdistas. Ela, assim como o universo de Einstein, tende ao infinito. Acha que exagero? Então veja a nova, publicada no NYT, ícone da esquerda caviar americana: a desigualdade cubana é culpa do capitalismo!

Com Cuba abrindo cada vez mais a porta para a iniciativa privada, o fosso entre os que têm e os que não têm — e entre brancos e negros — que a revolução procurou diminuir está cada vez mais evidente. E essa divisão deve crescer agora que os Estados Unidos estão aumentando a quantidade de dinheiro que os cubano-americanos podem enviar à ilha para US$ 8 mil por ano, bem acima dos US$ 2 mil, como parte do degelo histórico do presidente americano Barack Obama com Cuba.

[...]

— As remessas têm produzido novas formas de desigualdade, especialmente a desigualdade racial — explica Alejandro de la Fuente, diretor do Instituto de Pesquisa sobre Afrodescendentes na Universidade de Harvard. — Agora, as remessas estão sendo utilizadas para financiar ou criar empresas privadas, isto é, não apenas para financiar o consumo, como no passado.

[...]

Mas os mais pobres ficam frustrados ao verem o estado de bem-estar social se deteriorando e a vantagem que os cubanos com acesso a dinheiro de fora têm na nova economia.

— À medida que Cuba vem se tornando mais capitalista nos últimos 20 anos, vem se tornando também mais desigual — afirma Ted Henken, professor do Baruch College que estuda a economia cubana. — Essas favelas estão por toda a América Latina, e a tentativa da revolução de resolver a desigualdade foi eficaz até certo ponto e por um tempo. Mas, com o aumento do capitalismo, você tem algumas pessoas mais bem posicionadas para tirar proveito e outras não.

A obsessão da esquerda com a desigualdade é um fenômeno estranho, pois revela a inveja de seus membros, disfarçada de altruísmo e preocupação com os mais pobres. Notem que Cuba é um fosso de desigualdade hoje, pois a nomenklatura controla tudo e goza de privilégios e vida mansa, enquanto o restante da população vive na miséria. Mas não é essa desigualdade que incomoda a esquerda. É aquela entre os que antes estavam igualmente na miséria, e agora começam a prosperar um pouco em ritmo diferente.

Chamar Cuba de capitalista é uma piada de mau gosto. Mas o pouco de abertura que a ditadura comunista permitiu, por extrema necessidade, foi o suficiente para fazer com que alguns, mais ousados, empreendedores, esforçados ou sortudos, despontassem com algum sucesso comercial. Melhoraram de vida em relação aos demais miseráveis, mas sem subtrair nada deles. Não importa. O foco da esquerda não é a melhoria de vida de alguns com as tímidas reformas liberalizantes, mas o aumento da desigualdade entre eles e os que continuaram na mesma.

Eis aí a prova da infinita cara de pau da esquerda: já conseguiram culpar o capitalismo inexistente pelos problemas na ilha-presídio comunista. É mole ou quer mais?

Rodrigo Constantino

 

Brasil tem produtividade do trabalhador abaixo da Venezuela

Trabalhador

Já disse antes, mas não canso de repetir: a baixa produtividade do trabalhador brasileiro é nosso maior calcanhar de Aquiles, nosso grande ponto fraco. Não é trivial medir a produtividade, mas uma forma simples e aproximada é dividir o produto total pela quantidade de pessoas economicamente ativas. Claro que é uma forma meio grosseira, não leva em conta nuanças, a informalidade, etc. Mas dá uma ideia de quanto cada trabalhador produz por ano. E o Brasil é o lanterna no ranking, abaixo até da Venezuela:

O Brasil está atrás não apenas dos países desenvolvidos, como da grande maioria de seus pares na América Latina. Só está melhor que a Bolívia. Em 2013, a produtividade do trabalho no Brasil correspondia a 17,2% daquela dos Estados Unidos, país considerado referência para o indicador. Na comparação com o México, a relação era de 52,6%, com a Argentina ficava em 58,91% e com a Venezuela, 68%.

O indicador — da organização americana The Conference Board e reunido pelo professor do Instituto de Economia da UFRJ João Saboia — reparte o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto dos bens e serviços) por pessoa ocupada. Ou seja, o tamanho da economia dividido por seus trabalhadores. Aumenta-se a produtividade quando se produz mais com a mesma quantidade de recursos — seja de máquinas e equipamentos ou pessoas.

Isso é especialmente importante no momento em que a população brasileira está envelhecendo, com menos gente entrando para a força de trabalho nos próximos anos. Assim, é preciso que os trabalhadores se tornem mais produtivos para manter o mesmo nível de produção.

As razões por trás dessa baixa produtividade são conhecidas: reduzido investimento, pois o governo consome 40% de tudo o que é produzido pela iniciativa privada, sobrando pouco para se investir; má qualidade da educação; infraestrutura capenga; leis trabalhistas obsoletas que engessam o mercado de trabalho e criam regalias irrealistas e insustentáveis.

Todos esses problemas acabam tendo ligação com o excesso de intervenção estatal na economia e o fardo de um governo perdulário para a iniciativa privada. No Brasil, os trabalhadores precisam superar inúmeros obstáculos criados pelo governo, que vai abocanhando significativa parcela do que é produzido. Os sindicatos fortes conseguem benefícios para alguns, mas à custa da produtividade geral. Quem efetivamente produz precisa carregar os demais nas costas.

Quando se soma o total produzido pela quantidade de trabalhadores, eis o resultado lamentável que temos: uma das menores taxas de produtividade do mundo. O salário, como sabem os economistas, depende desta produtividade. Não é possível aumentar salários indefinidamente sem o correspondente aumento da produtividade. Esse aumento se mostrará insustentável e inflacionário.

O Brasil precisa urgentemente de reformas liberais que aumentem o dinamismo do mercado de trabalho e reduzam o fardo do setor produtivo. Concomitante a isso, faz-se necessário investir na melhor qualificação da mão de obra, o que não é sinônimo de jogar mais recursos públicos em nosso modelo fracassado de ensino. É preciso ter um elo maior entre formação técnica e mercado, o que só é possível com menos ideologia e intervenção estatal.

A palavra-chave do nosso progresso, que deveria ser uma obsessão de todos, é justamente a produtividade. Sem aumentar o que é produzido por trabalhador brasileiro, o país não vai para a frente. Ao contrário: corre sérios riscos de continuar regredindo, como tem feito nos últimos anos de incompetência na gestão econômica e distribuição irresponsável de benesses estatais. Conseguir ser menos produtivo do que a Venezuela é mesmo um feito e tanto. Parabéns, PT!

Rodrigo Constantino

 

Rumo à Venezuela?

Por Maria Lúcia Victor Barbosa *

A Venezuela está mergulhada no caos econômico e político depois dos sucessivos desgovernos de Hugo Chávez e do seu genérico, Nicolás Maduro. E quando a economia vai mal não há governo que resista, sendo inúteis a propaganda enganosa e a lábia populista que visa iludir o povo.

Maduro, vendo o chão correr age como todo déspota apelando para a força bruta, as prisões arbitrárias, a tortura, a constante intimidação dos adversários, a perseguição à mídia e, recentemente, a autorizou o uso de armas letais contra manifestantes desarmados.

Existe também o surrado recurso á teoria conspiratória, que se conjuga à vitimização forjada em documentações e gravações falsas. Desse modo, o falsário Maduro se apresenta como vítima de uma conspiração que objetiva um golpe de Estado. Em última instância, seu assassinato. Para tornar a pantomina mais real manda prender o prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledzma, que acusa de envolvimento nos protestos antigoverno de 2014. E como não podia faltar o tiranete da Venezuela põe a culpa de tudo nos Estados Unidos. Só faltou culpar Fernando Henrique Cardoso.

Recentemente a escalada de violência ceifou a vida de um jovem de 14 anos, morto com um tiro na cabeça quando participava de um protesto contra Maduro. Inventou-se, então, uma historinha segundo a qual manifestantes encapuzados tentaram rouba as motos de quatro oficias que dispararam e depois viram cair um corpo. De quem? Justamente do jovem “conspirador”.

 No seu relatório anual sobre o estado das liberdades no mundo, divulgado em 24 de fevereiro deste ano, a ONG Anistia Internacional, tão cara aos petistas, denunciou tortura e maus-tratos contra manifestantes e cidadãos venezuelanos. Indicou que pelo menos 43 pessoas morreram nos protestos de 2014 e 870 ficaram feridas. Houve violação dos Direitos Humanos e confrontos violentos entre manifestantes e forças de segurança, que contaram com apoio de grupos armados favoráveis ao governo. Ao menos 23 pessoas foram submetidas a torturas, espancamentos, ameaças de morte e violência sexual depois de serem presas pela Guarda Nacional e pelo Exército do Estado de Táchira.

A Anistia Internacional afirma ainda em seu relatório que 150 pessoas morreram nas prisões venezuelanas no primeiro semestre do ano passado. Também o Observatório Venezuelano de Prisões denunciou que entre 1999 e 2014, 6.472 presos morreram nas masmorras do país.

O que diz sobre isso o PT que se arvora em defensor de direitos humanos? Segundo nota afirma seu repúdio contra “quaisquer planos de golpe contra o governo de Nicolás Maduro.” “O Partido dos Trabalhadores tem acompanhado com atenção a situação politica venezuelana e expressa sua preocupação sobre fatos recentes que atentam contra a vontade popular”.  “O povo venezuelano deixou clara a opção pelo aprofundamento das políticas sociais iniciadas no governo Hugo Chávez”. Assina a nota de apoio incondicional a Maduro, Rui Falcão, presidente nacional do PT.

No evento em defesa da Petrobras (24/02/2015), na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, promovida pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), esteve presente Lula da Silva. Foi defender a Petrobras que demoliu, a democracia que despreza, os direitos humanos à lá Chávez. Num momento de arroubo vociferou: “Em vez de ficarmos chorando, vamos defender o que é nosso”. “Também sabemos brigar”. “Sobretudo quando o Stédile (chefe do MST) colocar o exército dele nas ruas”.

Portanto, o presidente de fato, temendo perder seu projeto de poder transformou-se em agitador confundindo o Brasil com porta de fábrica. No ataque raivoso atentou contra o Estado Democrático de Direito, investiu contra a Constituição.

Reza a Constituição, Art. 5º – XVII – “é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar”. E no parágrafo XLIV, lê-se: “constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático”.

O MST, com suas camisas e bandeira vermelhas, seus facões e enxadas a guisa de instrumentos de trabalho, sempre marchou unido como um grupo paramilitar. Seu histórico é de invasão de terras produtivas, destruição de gado, impedimento de funcionários das fazendas de ir e vir, ateamento de fogo às sedes, ameaça aos proprietários. Recorde-se que no ano passado Maduro enviou um de seus ministros ao Brasil para dar treinamento militar ao MST.

Em nota o Clube militar afirmou que só existe um Exército, o Exército brasileiro, o Exército de      Caxias. As demais instituições se calaram. Vale ainda lembrar, que enquanto o MST é recebido por autoridades, incluindo a presidente da República, o governo baixou seus punhos de aço contra os caminhoneiros por conta de uma greve que é justa. Estaremos indo rumo à Venezuela?

* Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

Dilma teme Lava Jato. Assinado: Jaques Wagner

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Jaques Wagner, o ombro amigo de Dilma Rousseff

Jaques Wagner, o ministro que ocupa a pasta Defesa pelo mérito de ter deixado a Bahia indefesa, declarou uma semana atrás que o país não deve parar para assistir “ao espetáculo da investigação” da Operação Lava Jato.

Agora, o também porta-voz da presidente Dilma Rousseff, volta à carga para blindar o governo, ameaçando o país.

Depois de proferir uma aula magna no Curso Superior de Defesa da Escola de Guerra Naval, no Rio, onde não sei se apresentou aos alunos as taxas de criminalidade baianas antes e depois de seu governo, Wagner afirmou que o pedido de investigação de políticos envolvidos no Petrolão causará “turbulência” no momento em que o país precisa de “calma e tranquilidade”.

Traduzo abaixo suas declarações:

“Qualquer fato novo com esse tipo de característica de denúncia, de inquérito, tira a tranquilidade momentaneamente de qualquer instituição. Não sei qual é a dimensão, nem a quem atinge. É bom no sentido de que as coisas estão funcionando e é ruim no sentido de que tem turbulência e o país precisa de calma e tranquilidade para tocar. Não a calma da omissão, mas de separar inquérito do funcionamento normal do País”.

Tradução: O “país” é Dilma. Tememos que seu nome seja envolvido no Petrolão e que o povo brasileiro associe ainda mais a corrupção ao seu governo, com o qual ela – a corrupção – está intimamente associada. A “calma da omissão”, para dizer o mínimo, foi da presidente durante 4 anos dos 12 de roubalheira do PT na Petrobras. Ricardo Pessoa disse à VEJA que minhas campanhas para o governo da Bahia receberam dinheiro da UTC, mas vou fingir que não sei quem pode ser atingido por qualquer fato novo…

“A melhor forma para que as investigações continuem é elas estarem ladeadas pelo funcionamento normal do país. Porque, se começarem a perturbar tudo, daqui a pouco muita gente vai dizer `acaba logo essa investigação porque o País precisa voltar à normalidade’. É óbvio que tem turbulência”.

Tradução: A melhor forma para que as investigações continuem é o PT parar de tentar “perturbar tudo”. A melhor forma para existir um funcionamento normal do Brasil é Dilma sair do governo. A turbulência é um alívio tremendo para um país em queda vertiginosa, mas é óbvio que estou aqui para culpar de antemão a Lava Jato por toda a instabilidade que nós petistas criamos…

“A CPI [da Petrobras] terá dificuldade de chegar além do Ministério Público Federal e do Judiciário (…) A CPI em si vira palco, mas dificilmente irá além do que a Polícia Federal já investigou”.

Tradução: A CPI da Petrobras é uma pizzaria, que conta os serviços do “garçom” Luiz Sérgio (PT-RJ), assim apelidado por apenas anotar os pedidos da alta cúpula do partido, e o presidente peemedebista Hugo Motta, um deputado da Paraíba que votou a favor da fraude fiscal de Dilma Rousseff no fim de 2014. Ambos tiveram suas campanhas eleitorais financiadas por empreiteiras enroladas com a Lava Jato, tendo Motta recebido R$ 451 mil da Andrade Gutierrez e da Odebrecht, o que corresponde a 60% de sua última campanha; e Sérgio, R$ 962,5 mil de Queiroz Galvão, OAS, Toyo Setal e UTC, o que corresponde a 39,6%. Motta assa 60% da pizza; Sérgio, 40%; enquanto nós fingimos de antemão que o problema é do Ministério Público Federal e do Judiciário…

Sobre o seguro-desemprego: “Não se quer tirar direitos, mas consolidar direitos. A pergunta que cabe é: o seguro desemprego é causa ou efeito da rotatividade de mão de obra? (O trabalhador) recebe seguro-desemprego porque sai do emprego ou sai do emprego para receber seguro-desemprego?’. Sempre que se fala de ser humano, todo mundo quer operar em zona de mais conforto”.

Tradução: Dilma cometeu estelionato eleitoral ao mexer nos direitos trabalhistas, o que prometera não fazer nem que a vaca tossisse. Como a vaca tossiu, vou aqui brincar de “Tostines vende mais porque é fresquinho ou fresquinho porque vende mais” para enganar os trouxas. Dilma, eu e todo o PT queremos operar em zona de mais conforto, mas, como de costume, culparemos todo mundo por isso…

por Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

 

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