Inspetores de algodão em pluma recebem treinamento para a “certificação oficial”
Fortalecimento da confiança no Brasil, como origem, e, no algodão brasileiro, como produto; economia de tempo e recursos com burocracia e retrabalho e um mais que bem-vindo incremento no preço-base da commodity formam o tripé que alicerça a nova iniciativa da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), juntamente com o governo brasileiro, na meta de fazer o país galgar o patamar de maior exportador de algodão, até 2030. O Programa de Autocontrole para a Certificação de Conformidade da Qualidade do Algodão Brasileiro, chancelado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), é baseado nos moldes do tradicional e bem-sucedido “green card” americano, que representa uma espécie de passe livre da pluma dos Estados Unidos, com o pressuposto de que a análise do produto comercializado é fidedigna e dispensa esforços em rechecagem.
Na terça-feira (14), a Abrapa capacitou os primeiros inspetores designados pelos laboratórios de análise de algodão do país, para o programa. Eles vão aferir todas as etapas dos processos, desde o recebimento da “mala”, pelo laboratório, até a emissão do resultado da análise de HVI (High Volume Instrument). O treinamento ocorreu sob a supervisão da Superintendência Federal de Agricultura do Distrito Federal, SFA/DF, e foi aprovado pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov), do mesmo ministério. Novas capacitações estão previstas para inspetores de algodão em pluma, das unidades de beneficiamento, a partir de março.
O autocontrole, que é o cerne do programa, segundo o diretor-executivo da Abrapa, Marcio Portocarrero, vai simplificar etapas e dispensar a necessidade de rechecagem do algodão, pelos países de destino. Neste primeiro momento, a meta da Abrapa e do governo brasileiro é validar o sistema na China, e, como consequência, cotonicultores e Mapa acreditam que os demais compradores seguirão o mesmo caminho que o gigante asiático. “Trata-se de um processo auto declaratório. Parte-se do princípio de que as informações fornecidas são fidedignas, e, em caso de inconsistência nos dados, haverá punições cabíveis”, diz Portocarrero, comparando o programa à corriqueira Declaração de Imposto de Renda. Para ele, este modelo irá dispensar uma presença mais intensiva do auditor fiscal. “Essa mudança na operação irá representar agilidade, com ganho em torno de dez dias, entre a chegada do algodão ao porto e deste à indústria. Isso faz toda a diferença para quem compra e para quem vende”, conclui o diretor, que abriu os trabalhos durante a manhã, no treinamento.
Da sede da Abrapa, em Brasília, os inspetores partiram para a fazenda Pamplona, do Grupo SLC Agrícola, no município de Cristalina/GO, para entender em detalhes o processo, na Usina de Beneficiamento de Algodão (UBA), da propriedade rural. Para o presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel, pensar numa certificação oficial que ateste a conformidade na análise de algodão só é possível porque o Brasil fez o “dever de casa”, desenvolvendo e consolidando programas estruturantes na rastreabilidade e na qualidade dos laudos de análise.
“Nosso Sistema Abrapa de Identificação (SAI) começou em 2004. A entidade era então recém-criada e já tínhamos em mente a importância da rastreabilidade fardo a fardo da nossa pluma. Em 2011, começamos a desenhar o programa SBRHVI, que foi lançado para o mundo em 2016, mostrando que os laudos dos nossos laboratórios são confiáveis, padronizando a análise de fibra por instrumentos, no Brasil, e harmonizando os resultados aferidos”, diz Schenkel, referindo-se ao programa Standard Brasil HVI. Ele acredita que a certificação oficial será um grande passo para o algodão brasileiro, com resultados para todas as partes envolvidas nas transações comerciais com a commodity nacional.
Segundo Cid Alexandre Rozo, auditor federal agropecuário do Mapa, que juntamente com a também auditora federal, Tatiana Brito, conduziu o treinamento nos tópicos relativos aos processos no âmbito do ministério, o conteúdo foi dividido em conceito e prática. “A capacitação foi importante para uniformizar as informações, assim como para facilitar o entendimento, pelos inspetores, sobre seu papel, responsabilidade e o que se espera da atuação deles na certificação. Há uma série de procedimentos que precisam ser cumpridos, que precisam ser conhecidos e entendidos como chaves para a confiabilidade”, disse.
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