Algodão: Dados da inflação nos EUA e temores de recessão seguem pesando sobre futuros em NY
Em mais um dia marcado pela forte influência do mercado financeiro entre as commodities, agravado pelos dados de inflação nos Estados Unidos reportados nesta quarta-feira (13) em 9,1% - acima das expectativas do mercado - o algodão volta a ser um destaque negativo entre as agrícolas. As perdas chegaram a superar 4% entre os futuros da pluma negociados na Bolsa de Nova York. Perto de 12h (Brasília), porém, o recuo era de pouco mais de 1% entre as posições mais negociadas. O principal contrato - o dezembro/22 - tinha 89,59 cents de dólar por libra-peso.
O mercado dá sequência a um intenso movimento de perdas muito atrelado ao macrocenário e aos temores cada vez mais próximos de uma recessão. Mesmo fundamentos que neste momento poderiam ser importantes para trazer algum suporte às cotações têm sido insuficientes.
O boletim mensal de oferta e demanda trazido pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) nesta terça-feira (12) indicou uma safra menor no país nesta próxima temporada em dois milhões de fardos se comparada a 2021/22. Mais do que isso, na última segunda (11), os números semanais de acomapanhamento de safras mostraram que são apenas 39% das lavouras de algodão em boas ou excelentes condições no país.
"Apesar dos fundamentos serem altistas para o preço, o cenário macro negativo acaba prevalecendo. Alguns fatores levaram a esse movimento como crise energética na Europa pelo possível corte do gás russo para o continente, novos lockdowns na China por Covid na cidade de Wugang e, novamente, o medo de recessão econômica", explica a analista de mercado Bruna Stewart.
Ao lado de Bruna, mais especialistas do setor falam não só sobre as quedas vertiginosas do mercado do algodão, mas também sobre como essa é uma commodity ainda mais suscetível à crises como a atual, bem como fica também mais exposta aos impactos da especulação e da volatilidade pela forma como é comercializada. As operações começam nas bolsas, passam pelas indústrias e, por ficarem mais tempo em aberto, acabam ampliando, portanto, essa exposição.
Dessa forma, nem sempre o mercado do algodão irá, portanto, responder efetivamente a seu quadro fundamental. As sucessivas e agressivas baixas para a pluma chegam mesmo diante de problemas sérios que têm sido registrados em regiões importantes de produção norte-americanas.
"A safra do oeste do Texas está dizimada, não vejo como alguém pode estar vendido e não entendo por que aqueles que estão comprados estão liquidando suas posições agora",afirma John Robinson, professor de economia agrícola da Texas A&M University ouvido pela CNN Business, lembrando que um quadro semelhante a este foi registrado pelo mercado do algodão em 2008, durante outra grande crise.
Neste ambiente, ainda segundo Robinson, cotonicultores estão se alinhando e se unindo para pedir e promover mudanças no mercado da commodity e na forma como ela é comercializada, em especial na ICE, a bolsa de Nova York.
No Brasil, os impactos também são sentidos e os preços no mercado nacional são os mais baixos desde novembro do ano passado, de acordo com o Cepea.
"A pressão sobre os valores vem sobretudo das desvalorizações externas do produto, já que, no Brasil, a disponibilidade de pluma da nova safra ainda não é expressiva e boa parte dos lotes tem sido destinada ao cumprimento de contratos. Assim, os atuais preços domésticos da pluma são os menores desde novembro de 2021 e já operam abaixo da paridade da exportação", afirmam os pesquisadores da instituição.
O Notícias Agrícolas, há algumas semanas, vem destacando ainda a importância do monitoramento sobre o comportamento do contrato dezembro/23, que poderia testar níveis abaixo dos custos de produção para o produtor brasileiro para a próximas safra.
"Ressalta-se que negociar a pluma no mercado brasileiro vinha sendo mais vantajoso do que exportar desde também novembro do ano passado", complementa o Cepea.
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