Algodão brasileiro em destaque em webinar internacional
O salto de produtividade do algodão do Brasil e a parceria de sucesso do benchmark entre a Associação Brasileira dos Produtores dos Produtores de Algodão (Abrapa) e a Better Cotton Initiative (BCI) mereceram destaque no webinar promovido pela BCI, nesta quarta-feira (02/09). O evento teve como convidados o diretor executivo do International Cotton Advisory Committee (ICAC), Kai Hughes, e o diretor de relações internacionais da Abrapa, Marcelo Duarte, com participação do CEO da BCI, Alan McClay e mediação do executivo da mesma entidade, Darren Abney.
O BCI Member Cotton Outlook foi o primeiro de uma série de três eventos online, que serão realizados pela ONG suíça, neste mês de setembro. Os convidados analisaram o mercado de algodão sob o impacto da Covid 19, e as perspectivas para 2021, tanto no nível da produção, quanto do consumo, na indústria e na ponta da cadeia de valor. A Abrapa apresentou as medidas que vêm sendo tomadas pela associação nacional e as dez filiadas estaduais, junto aos produtores de algodão, para garantir a saúde e segurança dos envolvidos na produção da fibra e para a redução de custos operacionais nas fazendas.
“Eu devo dizer que a Abrapa é uma organização com a qual a BCI tem muito orgulho de trabalhar, como parceiros de benchmark no Brasil”, enalteceu o CEO da BCI em sua fala de abertura, referindo-se à parceria que as duas entidades mantêm, desde 2013 no Brasil, quando foram unificados os protocolos de certificação do programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) com o da BCI. Hoje, de acordo com a entidade internacional, o país é o líder global em fibra sustentável de origem, chancelada pela BCI, com participação de 36% no montante licenciado em todo o mundo em 2019. “Dos 2,9 milhões de toneladas de algodão que o Brasil produz, 2,2 milhões de toneladas são licenciados pela BCI. Em 2020, a expectativa de licenciamento é em torno de 75% da pluma nacional”, explicou Marcelo Duarte. Atualmente, a BCI chancela 22% de todo o algodão produzido no mundo.
Em sua análise sobre os números da produção, demanda, estoques e preços globais, o diretor executivo do ICAC, Kai Hughes, destacou o salto em produtividade que o Brasil alcançou nos últimos anos. “Em 2019/2020, o Brasil aumentou sua produção em 5,4%, passando para 2,9 milhões de toneladas. É a maior produção de todos os tempos no país. Este incremento é explicado, majoritariamente, pelo crescimento de área e de rendimento de pluma. A média brasileira de produtividade alcançou um novo recorde, de 1753 kg por hectares em 2019/2020. Isso representa 1,6 vezes mais do que conseguiam duas décadas atrás. Que progresso o Brasil fez”, considerou Hughes.
Segundo o ICAC, a produção global de algodão em 2019/2020 foi de 26,2 milhões de toneladas, 1,8% a mais que na safra anterior, o que faz dela a segunda maior produção dos últimos cinco anos. A Índia foi a maior produtora, com 6,2 milhões de toneladas, seguida pela China, USA, Brasil e Paquistão. “A produção de algodão na China diminuiu por conta de baixo rendimento e da menor área plantada. Já nos Estados Unidos, a produção cresceu cerca de 8%, passando para 4,3 milhões de toneladas, em razão de aumento na área, que chegou a 4,7 milhões de hectares”, explicou. A projeção do ICAC para 2021 é de 25,1 milhões de toneladas, 4,2% menos que no ciclo que o precedeu, por conta dos preços internacionais mais baixos do algodão, que estão determinando uma diminuição de área nos maiores países produtores da fibra.
Ainda de acordo com o comitê internacional, o consumo mundial em 2019/2020 deverá ser de 22,7 milhões de toneladas; 12,7% a menos do que em 2018/2019. “Essa queda sem precedentes foi efeito da pandemia e das medidas de lockdown implementadas no mundo para conter o coronavírus”, disse Hughes. Segundo ele, nas duas últimas décadas, o algodão passou por três choques negativos, sendo o último, o que iniciou em 2019, por conta da pandemia. “Em 2008/2009, foi a crise financeira, que culminou numa grande recessão global; em 2010/2011, tivemos um período de alta especulação, preços e volatilidade altos. Acreditamos numa recuperação do consumo em 2021, de cerca de 7,2%, a depender do crescimento econômico e da demanda na ponta, passando para 24,3 milhões de toneladas”, antecipou.
A última previsão do ICAC indica um aumento nos estoques finais, em 2021, de 3% sobre 2019/2020, que já foram 17% maiores que o do ciclo anterior. “Portanto, os estoques finais seriam de 22,7 milhões de toneladas. Se eles aumentam, os preços internacionais do algodão tendem a decrescer”, ponderou. A pressão nos preços também se deverá à baixa demanda por fibras têxteis pelas marcas e varejistas. Hughes abordou ainda impacto da pandemia na prioridade que os consumidores estão dando a outros tipos de bens, na hora das compras, em detrimento do vestuário.
Algodão brasileiro x Covid
Marcelo Duarte, diretor de relações internacionais da Abrapa, apresentou as linhas-mestras das ações estratégicas empreendidas pela associação e suas estaduais para garantir a saúde, a segurança e a plena operação nas fazendas produtoras da fibra no Brasil. “Sabíamos quando a situação teve início, mas não podemos afirmar quando terminará. Nos preparamos para encarar uma conjuntura singular. A primeira coisa foi priorizar a saúde e segurança dos produtores e trabalhadores. As estaduais acompanharam muito de perto, certificando-se de que as fazendas estavam livres do problema e tomando todas as medidas necessárias”, disse Duarte.
A meta, segundo ele, era reduzir riscos e custos de produção. “Os produtores brasileiros trabalham amplamente com contratos futuros. Quando o cotonicultor planta, normalmente ele já vendeu 60% da sua safra futura. É uma grande responsabilidade”, mencionou. Dentre os pontos, ele destacou o investimento intensivo em tecnologia para aumentar a produtividade, e em controle biológico, incrementando a sustentabilidade e reduzindo custos de produção. O foco em qualidade e sustentabilidade também foi decisivo.
Duarte enfatizou o esforço dos produtores, via Abrapa e outros agentes, como os exportadores, para aumentar a eficiência da cadeia. “Tivemos de escoar uma safra recorde. Em alguns dos últimos meses, embarcamos mais de 300 mil toneladas de fibra, o que achávamos que não seria possível, mas foi. Melhoramos nossa logística, um problema que costumava ser muito grande para o agro brasileiro, e estamos evoluindo na solução dos gargalos”, concluiu Marcelo Duarte, que também fez um panorama sobre a cotonicultura no Brasil e a atuação da Abrapa.
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