Protótipo de colheitadeira beneficiará agricultores familiares produtores de algodão
Um protótipo de colheitadeira de algodão de uma linha, adaptado para pequenas áreas de produção beneficiará agricultores familiares brasileiros e dos países parceiros do projeto + Algodão: Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Haiti, Paraguai e Peru. O protótipo, desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Algodão), instituição técnica cooperante do projeto, teve os primeiros testes iniciados em 2019 no Brasil, no município de São Desidério, na Bahia. Também já foi testado em áreas de pesquisa nos municípios de Barbalha, no Ceará, e Apodi, no Rio Grande do Norte.
Este ano, o processo de validação continuará em outros estados, com o transporte da máquina para testes na cidade de Catuti, Norte de Minas Gerais.
Desenvolvido pelos pesquisadores da Embrapa Algodão, Odilon Reny Ribeiro e Valdinei Sofiatti, o protótipo de colheitadeira de uma linha pode colher 1 hectare a cada 3,5 horas, equivalente a 120 hectares em 30 dias. Com um rendimento na primeira validação de 389 kg de fibra de algodão por hectare e um custo 70% menor em comparação à colheita manual, esse protótipo, quando validado, pode se tornar uma opção altamente viável para os pequenos produtores de algodão na América Latina, bem como para as suas organizações e cooperativas.
Para os testes de validação dessa tecnologia em Catuti, foi assinado um acordo no âmbito do projeto regional +Algodão entre a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Cooperativa de Produtores de Algodão de Catuti (Coopercat).
A Coopercat será responsável pelo transporte da colheitadeira mecanizada de Campina Grande, na Paraíba - sede da Embrapa Algodão – até Catuti, em Minas Gerais, percorrendo uma distância de aproximadamente 1.500 quilômetros. Em Catuti, serão colhidos 80 hectares em áreas que pertencem a agricultores familiares associados à Coopercat, cooperativa que integra a Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa). Segundo Lício Augusto de Sairre, diretor-executivo da Amipa, o protótipo de colheitadeira será de “fundamental importância para os agricultores do Norte de Minas”.
O diretor da Associação explica que a colheita mecanizada traz vários benefícios para o pequeno agricultor, já que a colheita manual gera um alto custo de produção e pela dificuldade de conseguir mão-de-obra capacitada e disponível para ir a campo. Além disso, Lício de Sairre explica que a colheita manual gera um grande risco de contaminação da pluma já que quando são colocados grupos de trabalhadores para colher o algodão de forma manual, a pluma é contaminada por materiais que estes trabalhadores levam para lavoura como, por exemplo, embalagens plásticas. O diretor da Amipa acrescenta que o mercado prefere comprar algodão que seja colhido de forma não manual, ou seja, com o uso de colheitadeira mecanizada para evitar este tipo de contaminação.
Monitoramento dos testes em campo
Com o sistema de monitoramento dos testes de validação com a máquina serão obtidos relatórios quinzenais de registro das atividades, bem como registros fotográficos. Além disso, serão realizadas reuniões mensais com todos os parceiros do projeto para avaliar os resultados. A Embrapa fará o acompanhamento técnico por meio de vídeo chamadas. Segundo o diretor da Amipa, a Associação também vai apoiar os testes com a análise laboratorial em Uberlândia da qualidade da fibra do algodão que será colhido em Catuti com o protótipo de colheitadeira.
Após a validação em campo, espera-se que o processo de desenvolvimento da máquina continue nos países parceiros do projeto, em conjunto com a Embrapa e as instituições técnicas destes países. “Nós estamos muito otimistas com o trabalho da máquina e essas etapas são importantes para verificar possíveis problemas que venham a surgir e atender aos pequenos produtores não só do Brasil, mas todos os agricultores do projeto + Algodão”, diz Odilon Ribeiro, pesquisador da Embrapa. O objetivo é facilitar e promover o acesso a novas tecnologias e inovações para o trabalho de campo na agricultura familiar, no âmbito do projeto de cooperação Trilateral Sul-Sul + Algodão.
Para a ABC/MRE e FAO, essa inovação é considerada um avanço tecnológico a favor da agricultura familiar na América Latina, que enfrenta um grande desafio com a colheita manual de algodão.
Sobre o protótipo em desenvolvimento para agricultores familiares produtores de algodão, Adriana Gregolin, coordenadora do projeto +Algodão, ressalta que uma das linhas de ação do projeto é justamente “conectar iniciativas dos países produtores de algodão da América Latina, para buscar inovações em termos de pesquisa, máquinas, técnicas sustentáveis de manejo e produção agrícola, entre outros, incluindo os diferentes modelos de produção e segmentos de produtores”.
Para os testes do protótipo nas parcelas dos agricultores, a Coopercat seguirá todas as recomendações de segurança, diante do atual contexto da pandemia do COVID-19, mantendo as medidas de distanciamento social e outras necessárias para garantir a saúde e evitar o contágio do vírus por parte de agricultores e técnicos.
Mais algodão na América Latina
O projeto regional + Algodão, iniciado em 2013, é uma iniciativa trilateral de Cooperação Sul-Sul realizada pelo governo brasileiro, por meio do ABC/MRE, da FAO e de sete países parceiros, com o objetivo de contribuir por meio do sistema algodão-alimentos para a superação da pobreza rural e garantir a segurança alimentar e nutricional. Por meio de sistemas produtivos diversificados e de uma visão integral da cadeia de valor do algodão, são desenvolvidas iniciativas de cooperação com os países por meio de intercâmbio de boas práticas, promoção de inovações e tecnologias, geração de conhecimento, entre outras.
“O projeto +Algodão visa o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e de boas práticas de produção; a criação de alianças público-privadas estratégicas; o fortalecimento da associatividade entre os produtores; e a geração de novas oportunidades para acesso a mercados, de maneira inclusiva e sustentável”, finaliza Adriana Gregolin, coordenadora regional do projeto.
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