Câmara Setorial do Algodão e Derivados (CSAD) aponta produção e exportações recordes
De julho de 2018 a junho de 2019, o Brasil deve fechar o ciclo de exportações de algodão da safra 2017/2018 em 1,27 milhões toneladas, confirmando sua nova posição de segundo maior exportador da pluma, atrás dos Estados Unidos. Para a safra em curso, 2018/2019, a estimativa é de que os embarques se aproximem dos dois milhões de toneladas de pluma. Os números vêm na esteira de uma produção recorde, de cerca de 2,83 milhões de toneladas, que estão sendo colhidas em 1,63 mil hectares de área plantada, com produtividade de 1,73 mil quilos de pluma por hectare. Os dados foram divulgados durante a segunda reunião da Câmara Setorial do Algodão e Derivados (CSAD) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), realizada na última sexta-feira, 29 de junho, em Mogi das Cruzes/SP. A Câmara é presidida pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e possui representantes dos principais elos da cadeia produtiva. Na ocasião, reuniu-se durante a programação do XVIII Anea Cotton Dinner and Golf Tournament, evento realizado pela Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea).
De acordo com a Anea, o aumento de participação do algodão brasileiro na China foi significativo no período, com volume chegando a 430 mil toneladas, batendo o recorde de 2011/2012, que ficou na casa das 300 mil toneladas. O país asiático agora passa representar entre 35% e 40% de todo o algodão exportado pelo Brasil, ante 10% registrados nas últimas safras. “Esse aumento se torna ainda mais relevante, se considerarmos que, no período, o algodão brasileiro, que até então representava menos de 10% das importações chinesas, passa agora a estar presente em 25% do montante importado por aquele país”, afirma o presidente da Anea, Henrique Snitcoviski. A nova realidade tem demandado ao setor planejamento logístico para garantir o cumprimento dos prazos. “Em dezembro, o Brasil conseguiu embarcar 227 mil toneladas de algodão em um único mês. Temos de manter um ritmo semelhante durante todo o ano. Uma mudança nos processos, já que, tradicionalmente, os embarques se concentravam no segundo semestre”, disse Snitcoviski.
Balanço das exportações
De acordo com a Abrapa e a Anea, na safra 2018/2019, as exportações de algodão devem chegar perto de dois milhões de toneladas. “Agora, o balanço entre o segundo semestre deste ano e o primeiro do próximo deve ficar muito mais equilibrado. Historicamente, as exportações nesse período eram divididas em 70% e 30%, respectivamente. Agora, elas ficarão em cerca de 55% e 45%. Com volume maior, os embarques precisam acontecer ao longo de 12 meses”, pondera Snitcoviski.
Para Milton Garbugio, esse fluxo constante é positivo para o Brasil. “Temos produto de qualidade. Com regularidade, vamos conseguir proteger mercados que já foram conquistados e continuar ganhando espaço em outras praças”, afirma.
Desempenho da Indústria
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit) credita ao momento econômico de incertezas o desempenho aquém do esperado da indústria nacional. Os dados apresentados pelo presidente da entidade, Fernando Pimentel, apontaram queda de quase um 1% no varejo, e de 2,5% na produção, em 2019. “Nossa expectativa é de terminar o ano mais ou menos equilibrados, no zero a zero, com crescimento em torno de 0,5% na produção e de 1 a 1,5% no varejo”, disse. “O consumidor não está gastando. O varejo caiu e a produção, consequentemente. Isso pode se reverter no segundo semestre se passar a Reforma da Previdência”, acredita.
Para Pimentel, a economia está sem tração pelas dúvidas em relação à Reforma da Previdência. “Estamos trabalhando dentro do Congresso Nacional com a nossa agenda de competitividade em favor das reformas. Passando a previdenciária, desanuvia um pouco o ambiente e partimos para a tributária, que para as empresas é mais relevante”, pondera.
O aumento na produção de algodão e a qualidade do produto nacional são vistos como vantagens competitivas pelo presidente da Abit. “Contudo, precisamos trabalhar em outros atributos, mesclando fibras, investindo em novas aplicações para a matéria-prima, além da roupa. O mundo tem mais de 100 milhões de toneladas de consumo de fibras, dos quais o algodão representa 25 milhões e o poliéster, entre 55-60 milhões. É uma realidade”, concluiu.
Qualidade
De acordo com Milton Garbugio, somente a escala não seria suficiente para garantir a aceitação do algodão do Brasil no mercado internacional. “Se não tivéssemos chegado aos patamares de qualidade a que chegamos, não encontraríamos comprador. Por isso, trabalhamos para manter o status e destacar outros diferenciais da nossa pluma, como a sustentabilidade e a confiabilidade no cumprimento dos contratos por parte dos produtores e dos resultados da análise”, diz. Garbugio mencionou os programas da Abrapa, como o Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que opera em benchmark com a Better Cotton Initiative (BCI), ONG suíça e referência em licenciamento de algodão sustentável, o Standard Brasil HVI (SBRHVI), que trata da padronização da análise instrumental de pluma, e o Sistema Abrapa de Identificação (SAI), de rastreabilidade.
Marketing
A Ásia recebe em torno de 97,5% do algodão que é exportado pelo Brasil, sendo os maiores compradores China (35%), Indonésia (15%), Vietnã (13%), Bangladesh (11%) e Turquia (7%). O aumento da participação da pluma nacional no blend da indústria asiática está levando os cotonicultores e o Governo brasileiro a desenhar uma estratégia de conquista de espaço e de proteção de mercados no continente. Junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e ao Ministério das Relações Exteriores (MRE), através da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), a Abrapa deve abrir, em alguns meses, um escritório permanente na Ásia. “Já promovíamos missões anuais de intercâmbio, mas agora esse trabalho de estreitamento de laços será diário”, adianta Garbugio.
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