Países têm promovido ações de conservação do solo na produção de algodão sob um olhar sustentável
Em dezembro de 2013, a Assembleia Geral das Nações Unidasdeclarou o dia 5 de dezembro como o Dia Mundial do Solo, com o objetivo de sensibilizar as pessoas a respeito da importância do nossos na vida das pessoas. O solo é a base para o desenvolvimento sustentável. Sua saúde e equilíbrio são vitais para assegurar as condições produtivas adequadas dos diversos sistemas agrícolas e florestais.
Umas das ações em campo do Projeto Regional +Algodão, executado pela FAO, o governo do Brasil, representado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), e os governos de sete países parceiros da América Latina e do Caribe, é o trabalho de conservação do solo a partir de um olhar sustentável, que pode gerar mudanças profundas e permanentes nos sistemas produtivos. O projeto conta com sete países sócios: Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Haiti, Paraguai e Peru.
A coordenadora regional do Projeto +Algodão, Adriana Gregolin, explica que o algodão costuma necessitar de solos de média a alta fertilidade, conta com uma grande resistência a solos empobrecidos e que sofram com secas. Além disso, é um dos cultivos agrícolas com alta demanda de insumos químicos, concentrando ao redor de 24% do mercado mundial de pesticidas. “Por essa razão, é crucial a adoção de práticas para a mitigação dos danos e a recuperação da capacidade efetiva dos solos para reverter a degradação atual e, dessa maneira, contribuir para o desenvolvimento de uma agricultura de baixo impacto ambiental, social e econômico”, manifestou.
A partir de um evento regional que reuniu, em 2015, especialistas de vários países para discutir a produção sustentável do algodão e a importância do solo para seu desenvolvimento, foram definidas cinco áreas de ação, no âmbito do Projeto +Algodão: sistemas de produção de algodão integrados; manejo integrado de pragas e doenças (MIPE); sementes e variedades de qualidade, adaptadas à realidade do país; máquinas e equipamentos para a agricultura familiar; e o manejo sustentável e responsável dos solos e da água como recurso principal da atividade.
Divulgação de boas práticas e capacitação nos países
Um dos componentes-chave para os países sócios do projeto é a capacitação por meio de dias no campo, oficinas, cursos, parcelas de demonstração e validação de sementes e boas práticas tecnológicas. O objetivo é melhorar a utilização dos solos, especialmente no cultivo de algodão, e cultivos associados e de rotação, com a participação de agricultores familiares e técnicos de instituições nacionais.
As atividades em campo nos países contam com o apoio técnico das instituições brasileiras cooperantes: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Empresa Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba (Emater-PB), que se somam aos esforços das instituições públicas e privadas nacionais na busca por soluções para o setor algodoeiro.
Nas parcelas demonstrativas implementadas no Paraguai, Peru, Colômbia e Bolívia são gerados espaços para a formação de conhecimentos técnicos e de gestão para a mitigação de riscos sem deixar de trabalhar a perspectiva de gênero e os efeitos das mudanças climáticas, entre outros aspectos que atingem de forma particular cada país. Essas atividades estão dirigidas a distintos públicos como pesquisadores, técnicos extensionistas, agricultores e estudantes de nível técnico de escolas agrícolas.
“Um bom manejo dos solos gera um impacto positivo na renda de pequenos, médios e grandes produtores, associado à diminuição de custos e/ou o aumento da produtividade das culturas”, explicou Adriana Gregolin.
No Peru, as instituições participantes desta iniciativa são o Ministério da Agricultura e Irrigação do Peru (Minagri), o Instituto Nacional de Inovação Agrária (INIA) e a Direção Regional Agrária de Ica, de Lambayeque e de Piura e a Embrapa (Brasil). Para 2018, espera-se promover a incorporação de restos de cultivos ao solo como uma estratégia para melhorar sua composição de matéria orgânica e preparar o terreno para um próximo plantio.
Já no Paraguai, tem-se promovido alinhamentos estratégicos sobre o manejo sustentável do solo e de recursos naturais na produção algodoeira, por meio de um modelo diversificado entre algodão e alimentos - além de adubos verdes para aumentar a matéria orgânica e as capacidades produtivas do solo -, a partir da metodologia de capacitações presenciais, dias no campo e oficinas para intercâmbio de conhecimentos. Essas ações contam com o apoio do Programa Nacional de Manejo, Conservação e Recuperação de Solos, do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAG), de extensionistas da Direção de Extensão Agrária (DEAg/MAG), da Direção de Educação Agrária (DEA/MAG), de pesquisadores do Instituto Paraguaio de Tecnologia Agrária (IPTA) e da Embrapa (Brasil).
De acordo com Adriana Gregolin, os resultados das últimas safras no Paraguai mostram um aumento na produtividade do algodão produzido nas parcelas demonstrativas de 50%, em comparação com a média nacional. No Peru, obteve-se um aumento entre 80% e 200%, resultados alcançados a partir da aplicação de boas práticas e inovações promovidas pelas instituições parceiras nesta Cooperação Internacional.
Mais de mil pessoas no Paraguai e no Peru ampliaram seus conhecimentos em preparação de solo e fertilização, plantio mecanizado, manejo integrado de pragas e controle de crescimento das plantas, e manejo de pesticidas, além de uma melhora gestão dos custos na propriedade, graças às capacitações promovidas pelo Projeto +Algodão.
A importância dos solos e as boas práticas agrícolas
O solo sustenta o cultivo, entregando-lhe a matriz básica para o acesso à água, oxigênio e nutrientes necessários para seu crescimento. Entretanto, Adriana Gregolin advertiu que o modelo vigente de agricultura intensiva impacta diretamente nas propriedades físicas, químicas e biológicas, o que demanda gestão adequada do solo e da propriedade.
Práticas inadequadas como o excessivo uso de agroquímicos ou uma lavoura intensiva podem afetar as propriedades do solo, gerando um aumento da compactação e erosão; a perda do solo e de microrganismos benéficos, de matéria orgânica e da capacidade de retenção de água ou de alterações nos níveis naturais de fertilidade e pH. Essas e outras perturbações geram condições desfavoráveis para o bom crescimento e desenvolvimento dos cultivos que terminam por fragilizar as famílias agricultoras ao colocar em risco sua capacidade produtiva e sua segurança alimentar.
“O algodão sustentável é uma cultura que gera uma renda importante para as famílias agricultoras e pode ser um aliado na luta contra a desertificação e para frear a degradação das terras. Dessa maneira, contribui para deter a perda de biodiversidade dos solos, no marco da Agenda 2030 de Desenvolvimento Susstentável”, conclui Adriana Gregolin.
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