Lula aumentou o crédito mas não diminuiu a desconfiança entre produtores rurais

Publicado em 02/01/2011 13:46

 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está longe de ser uma figura querida entre produtores rurais. Mas foi no governo petista que o crédito ao agronegócio, segmento que responde por 25% das riquezas produzidas no País, registrou seu maior salto.

A diferença entre o valor liberado para o financiamento da safra no final de 2002 e o valor previsto no plano agrícola e pecuário 2010/2011 é de 361%. Isso significa que enquanto o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) deixou R$ 21,7 bilhões para custeio, comercialização e investimentos, Lula reservou R$ 100 bilhões, quase cinco vezes mais. "O ponto positivo do governo Lula foi o aumento do volume de crédito", afirma o deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), um dos representantes da bancada ruralista no Congresso.

O aumento do crédito oficial foi acompanhado por um crescimento de 21,1% na produção de grãos no período e um forte avanço na venda de alimentos e matérias-primas no mercado internacional. Em 2003, as exportações do agronegócio somaram US$ 30,6 bilhões. Em 2010, até novembro, esse valor era de US$ 70,3 bilhões, mais que o dobro.

Desde o início de sua gestão, Lula buscou diminuir a resistência dos líderes do agronegócio ao seu nome e ao PT, por conta da histórica relação de intimidade e apoio do partido ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST). O avanço do crédito, entretanto, não foi suficiente para Lula garantir a vitória de Dilma Rousseff (PT) nos cinturões agrícolas. Nas regiões com forte laço com o agronegócio, como Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a petista foi derrotada pelo tucano José Serra.

A questão ambiental, com a entrada em vigor (a partir de junho) das exigencias do atual Código Florestal, é a maior incógnita para o Governo Dilma. As questões fundiárias, a divisão das terras agrícolas com indigenas e quilombolas, as invasões do MST, a falta de renda (causada pelo câmbio) formam o outro conjunto que deixou agricultores sempre arredios aos encantos do Governo Lula. 

Medidas do BC devem acabar com a 'festa do crédito'

Dirigentes de bancos centrais costumam fazer uma piada sobre sua função na sociedade. O objetivo de seu trabalho, dizem, é desligar o som quando uma festa está muito animada. O chiste encaixa-se nas ações que o Banco Central (BC) adotou no início de dezembro para esfriar o crédito no Brasil. Em decorrência das mudanças, a expectativa de bancos e analistas é de que o ritmo de concessão de empréstimos desacelere em 2011.

Oficialmente, executivos de instituições financeiras mantêm estimativas elaboradas entre setembro e novembro, quando prepararam o planejamento para o próximo ano. Por esses números, o crédito terá expansão ao redor de 20%, exatamente na média dos últimos anos. Nos 12 meses encerrados em novembro, por exemplo, a concessão de empréstimos avançou 20,8% - 20,9% entre empresas e 20,8% entre pessoas físicas.

Nos bastidores, profissionais admitem que o aumento dos depósitos compulsórios (dinheiro que fica parado no BC) e o aperto nas regras para financiamento de carros e consignado, entre outras, vão desacelerar a expansão para a faixa de 15% ou menos.

O cuidado ao falar do assunto é explicado pelo fato de que os quatro maiores bancos de varejo do País têm ações negociadas na Bovespa. No momento em que afirmam publicamente que vão emprestar menos, o recado entendido pelos investidores é o de que a expansão do lucro também vai desacelerar. O jornal O Estado de S.Paulo procurou os quatro maiores (Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander) para falar do assunto, mas apenas o Bradesco respondeu.

"Nossa estimativa de crescimento de 20% para o crédito está mantida, porque acreditamos que eventuais reduções de demanda em alguns produtos, como automóveis, serão compensadas pela alta em outros, como consignado", afirma o diretor do Departamento de Empréstimos e Financiamento do Bradesco, Octávio Lazzari Junior.

O otimismo do executivo toma por base o desempenho esperado para a economia brasileira. Se não vai crescer perto de 8% como em 2010, o ritmo de 2011 não pode ser desprezado. "Ainda continuaremos a ver o ganho efetivo de renda decorrente da mobilidade social", diz. "Além disso, a taxa de desemprego vai permanecer baixa."

O analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, projeta alta do crédito geral entre 14% e 18%. Mas faz distinção entre pessoas físicas e empresas. "As medidas recentes do governo deixaram claro que o objetivo é esfriar as concessões em um dos segmentos (pessoas físicas)", diz. "Entre as empresas, o objetivo é oposto: como quer estimular o investimento na economia, o governo precisa que o crédito para empresas continue forte". Por isso, aposta em alta maior de empréstimo às pessoas jurídicas.

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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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