Foco de cobiça, Fosfertil foi desprezada na privatização

Publicado em 28/01/2010 06:21 e atualizado em 09/03/2020 14:30
Principal alvo da Vale neste que é o maior negócio já fechado no segmento de fertilizantes no Brasil, a Fosfertil teve seus dias de maria-fumaça antes de se tornar a locomotiva que estimulou e continuará a puxar a expansão da produção do insumo no país, que ainda depende de importações.

O "desprezo" pela companhia ficou evidente no início dos anos 90, quando sua privatização, consumada em 1992, começou a ser desenhada. Na ocasião, empresários de peso do ramo se recusaram a participar do grupo que viria a arrematá-la, por US$ 200 milhões.

Administrada pela holding Petrofértil, da Petrobras, desde o momento seguinte em que foi constituída pela mesma Vale, em 1977, a empresa de fato tornou-se rapidamente a maior produtora nacional de matérias-primas para adubos, mas às custas de prejuízos que atingiram US$ 150 milhões entre 1980 e 1992 e de uma ineficiência crescente.

Sob greves e manifestações contrárias, em 1992 a Fosfertil passou a ser controlada pelas empresas Manah, com fatia de 23,06%, Solorrico (23,06%), IAP (23,06%), Fertibrás (12,76%), Fertiza (10%) e Takenaka (6,18%), todas de capital nacional e proeminentes na área na época.

O número de funcionários da Fosfertil caiu de 4,9 mil para 2,5 mil em 2002, e os custos anuais foram reduzidos em US$ 60 milhões num primeiro momento, em movimentos que colaboraram para torná-la mais ágil. Nos primeiros dez anos de privatização, os investimentos da companhia somaram US$ 640,5 milhões, e a receita mais do que dobrou, para quase US$ 500 milhões. Um dos aportes de peso foi a aquisição, em 1993, da então estatal Ultrafertil, que ampliou o foco de atuação da Fosfertil para o nitrogênio, além do fosfato que ela já dominava.

Paralelamente à expansão houve a consolidação do setor, e as participações dos grupos nacionais passaram a ser disputadas a tapa por grandes múltis, até que as americanas Bunge e Cargill (depois Mosaic, sua controlada), além da norueguesa Yara, em um segundo momento, obtiveram o controle da holding Fertifos, que atualmente tem 56,73% da Fosfertil.

Na prática, os rumos da empresa há anos vinham sendo definidos pela Bunge, dominante na holding. Tanto que esta propôs, em 2006, a incorporação de sua divisão de fertilizantes pela Fosfertil, o que resultaria em uma companhia com faturamento anual de R$ 5,5 bilhões. Tornavam-se públicas as divergências entre as sócias, já que Mosaic e Yara barraram o processo na Justiça.

As rusgas não chegaram a atrapalhar os resultados da empresa, que batiam recordes até a crise do ano passado, influenciada pela guinada cambial e pela desaceleração das vendas que se seguiram ao debacle financeiro de setembro de 2008 nos EUA. Com a paradeira do mercado brasileiro, a Fosfertil viu sua receita líquida recuar 29,2% nos nove primeiros meses de 2009 em relação a igual período do ano anterior, para R$ 1,905 bilhão.

No mesmo intervalo de comparação, o lucro líquido de R$ 679 milhões transformou-se em prejuízo de R$ 40 milhões, comprometendo, conforme fontes de mercado, o ritmo de investimentos em curso - inclusive o projeto Salitre, em Patrocínio (MG), orçado em cerca de R$ 2 bilhões.

Investimentos esses cada vez mais cobrados pelo governo Lula, interessado em reduzir a dependência brasileira de fertilizantes importados. A crise cuidou de reduzir um pouco essa dependência, que nos últimos anos ficou entre 70% e 75%, mas qualquer retomada tende a ampliá-la, a não ser que os aportes bilionários que o segmento espera da "nova" Fosfertil sejam acelerados.

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Fonte:
Valor Econômico

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