Preço de commodities sobe, ajuda exportadores, mas pressiona inflação
Publicado em 17/01/2010 18:46
Novo ciclo de Novo ciclo de alta das matérias-primas pode ser indicador de recuperação global, embora ameace estabilização
Passado o trauma da crise, os investidores estão provocando uma forte alta nos preços de combustíveis, minerais, metais e alimentos. O novo ciclo de alta das commodities é puxado pela demanda da China, pela busca dos investidores por ativos mais rentáveis e pela desvalorização do dólar. O fenômeno pode ser um sinal de recuperação da economia mundial, mas há quem diga que não passa de uma bolha, que vai provocar inflação em um ambiente ainda frágil de retomada.
O índice Commodities Research Bureau (CRB), principal termômetro dos preços das matérias-primas, subiu 44% entre fevereiro de 2009, quando atingiu o nível mais baixo, e este mês de janeiro. Boa parte do salto (16,6%) ocorreu no último trimestre do ano, quando as economias americana e europeia começaram a se recuperar. Os preços, porém, estão distantes dos recordes de 2007 e 2008, quando o temor de uma crise de alimentos assombrou o mundo.
Rico em recursos naturais, o Brasil é beneficiado pelo aumento das cotações das commodities. Empresas como Vale e Petrobrás vão turbinar lucros e assistir à valorização de suas ações. Mas, mesmo para o País, a situação não é tão simples. As commodities já estão subindo em reais, o que pode estimular o Banco Central (BC) a elevar os juros. "Sabe-se que ocorre uma inversão que precisa ser acompanhada", alerta o economista Affonso Celso Pastore.
Há uma diferença significativa no desempenho das matérias-primas industriais e dos alimentos. Os preços das commodities industriais dobraram. Um índice da revista The Economist aponta que as cotações desses produtos subiram 97% em 12 meses, enquanto o mesmo indicador para as commodities agrícolas avançou 32%.
O petróleo é a principal commodity e influencia os demais mercados. Depois de cair para US$ 43,6 por barril em fevereiro de 2008, chegou a US$ 67,7 em setembro e a US$ 80,5 na média mensal até 14 de janeiro. Como os sinais de recuperação da economia são dúbios, indicadores negativos nos Estados Unidos fizeram a cotação fechar a US$ 78 na sexta-feira.
Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, o petróleo deve oscilar entre US$ 75 e US$ 80 este ano, acima dos US$ 30 da média histórica, mas abaixo do recorde de US$ 140 em 2008. "Se o mundo voltar a crescer, o preço do petróleo vai subir forte." Ele diz que falta "petróleo novo" até que os investimentos de países emergentes gerem produção.
A tonelada do minério de ferro já atinge US$ 135 no mercado à vista, 68,5% acima do preço de referência de 2009. O movimento esquentou as negociações deste ano entre siderúrgicas e mineradoras. Para recuperar as perdas com a crise, as mineradoras pedem 30% de reajuste, mas as siderúrgicas chinesas oferecem 10%. Na quinta-feira, a corretora Merrill Lynch já previa, no entanto, alta de 50%.
"A Vale vai ser uma das empresas mais beneficiadas por essa alta de preço, porque falta minério de qualidade no mundo", disse o analista da SLW Corretora, Pedro Galdi. Segundo ele explica, as mineradoras adiaram os investimentos, mas a Vale não parou e ganhou mercado.
Os preços da celulose também se recuperaram. A tonelada saiu de US$ 480 em maio para US$ 560 em setembro e saltou para os atuais US$ 730, mas está abaixo dos US$ 840 pré-crise. Segundo o analista da Link Investimentos, Leonardo Alves, os chineses puxaram o mercado e, recentemente, os europeus voltaram a comprar. A participação do Brasil nas compras chinesas subiu de 7,3% em 2008 para 10,7% em setembro.
A China é um fator decisivo no novo ciclo de alta das commodities e explica a diferença de ritmo entre insumos industriais e alimentos. O país asiático saiu rapidamente da crise com um pacote de US$ 586 bilhões, voltado à infraestrutura, o que elevou a demanda por produtos como minério de ferro.
Para a sócia da Galanto Consultoria, Mônica Baumgarten de Bolle, a alta das commodities é sustentável por causa da demanda da Ásia. "Houve uma mudança no eixo de produção mundial a favor dos asiáticos."
O economista-chefe da RC Consultores, Fábio Silveira, discorda e diz que a alta do preço das commodities "é uma bolha desde sempre". Ele afirma que a economia dos EUA ainda está frágil e atribui o movimento dos preços ao excesso de liquidez no mundo, provocado pelas taxas de juros baixas e pelos bilionários pacotes de ajuda.
Nas commodities agrícolas, a tendência de alta só começou recentemente. "Se descontarmos a queda do dólar, o aumento dos preços não é tão expressivo assim", disse Guilherme Dias, professor da USP.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), os estoques de cereais para a safra 2009/2010 estão em 510 milhões de toneladas, um nível muito mais confortável que os 430 milhões da época da crise alimentar em 2007 e 2008.
Para o especialista em crise alimentar do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Shantanu Mukerjee, a tendência dos preços muda conforme o produto: cereais e carne variaram pouco, mas açúcar e leite subiram muito. "Não há temores de crise de alimentos. Mas em muitas regiões, como o leste da África, a situação já é precária."
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Fonte:
O Estado de S. Paulo
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