Protecionismo dos EUA deve acirrar com Trump e aumentar competitividade chinesa em máquinas no Brasil, diz Abimaq

Publicado em 02/12/2024 16:35

Logotipo Reuters

Por Patricia Vilas Boas

SÃO PAULO (Reuters) - O protecionismo norte-americano deve se acirrar no próximo ano com a novo governo do presidente republicano eleito Donald Trump, o que pode aumentar a competição chinesa no setor brasileiro de máquinas e equipamentos, afirmou o presidente-executivo da associação que representa a indústria, Abimaq, José Velloso.

"A política restritiva dos Estados Unidos já é um problema porque a China está buscando novos mercados, e entre eles o Brasil. Com o Trump, a gente acredita que isso vai se acirrar", afirmou o executivo à Reuters nesta segunda-feira, em evento de final de ano da entidade em São Paulo.

No setor de máquinas e equipamentos, de janeiro até outubro deste ano, os bens chineses responderam pela maior parcela (31%) das importações realizadas pelo Brasil, crescimento de 5,2 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2023, segundo dados da Abimaq. No mês de outubro, 40% do total importado teve origem da China.

Velloso comentou que desde a primeira eleição de Trump, os EUA têm intensificado uma política protecionista e acirrado sua guerra comercial com a China, levando o país asiático a buscar novos mercados, incluindo o Brasil.

O executivo relembrou as reivindicações do setor siderúrgico por uma maior alíquota de importação para produtos da China, as discussões do setor de varejo, principalmente o têxtil, sobre a gigante chinesa Shein, e a indústria automotiva que agora divide mercado com os automóveis elétricos e híbridos chineses.

"Isso vai se acirrar e aí pode aumentar o desvio de comércio da China vindo para o Brasil", afirmou, embora tenha dito que não acredita que Trump será "tão radical e agressivo" como tem se apresentado nos discursos e ao longo de sua campanha à Presidência.

"Se os Estados Unidos se isolam do México, do Canadá, do Brasil, começam a se isolar do mundo, ele vai fazer o jogo da China. Ele vai pegar esses países em desenvolvimento e vai jogar no colo da China", disse Velloso, acrescentando que os EUA são o maior parceiro comercial do Brasil em manufaturados.

Ele também descartou que os setores econômicos brasileiros dependentes do comércio chinês, como o agronegócio, aceitem qualquer "retaliação" à China semelhante à prometida por Trump.

"E nós da indústria de transformação ficamos no meio disso... É um problema que nós vamos ter que lidar nos próximos meses e acompanhar qual vai ser a política externa do Brasil e do Mercosul em relação ao aumento de importações da China."

Trump, que garantiu seu retorno à Casa Branca no mês passado, tem dito que irá impor grandes tarifas aos três maiores parceiros comerciais do país -- Canadá, México e China -- e no último final de semana afirmou que poderá taxar os países-membros do Brics em até 100% caso o grupo não se comprometa a não criar uma moeda comum do bloco de países emergentes ou não apoiar outra moeda que substitua o dólar.

"Eu acho que isso não vai acontecer, porque eu acho que os empresários, o setor, o mercado não vai fugir do dólar", disse o presidente-executivo da Abimaq. "Acho difícil que o empresário brasileiro saia do padrão dólar para um padrão Brics que não sabemos ainda qual é."

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Fonte:
Reuters

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário