Apesar de carta de retratação, Carrefour deve sofrer impactos negativos na demanda do consumidor em suas lojas
A carta do grupo Carrefour que deverá ser entregue ao ministro da Agricultura do Brasil, Carlos Fávaro, chegou à imprensa e pode ser o primeiro passo para estancar a profunda e severa crise que se instalou na gigante varejista desde o último dia 20. No entanto, Fávaro já afirmou que o pedido de desculpas só será aceito uma vez que houver uma clara "confissão de erro" na carta, já que as últimas declarações do CEO global do grupo, Alexandre Bompard, foram desrespeitosas com os produtores do Mercosul - em especial os do Brasil, em função de seu tamanho no comércio de carne bovina com a União Europeia.
Em entrevista, o ministro afirmou ainda que o embaixador francês no Brasil, Emmanuel Lenain, "se ofereceu, falando com o nosso secretário de relações internacionais, Luis Rua, para ser um intermediador de uma proposta para apaziguar este assunto. Estão intermediando com o grupo francês Carrefour uma fala de retratação por parte da companhia”.
Abaixo, confira a carta na íntegra:
Ao Excelentíssimo Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil,
Senhor Carlos Fávaro,
A declaração de apoio do Carrefour França aos produtores agrícolas franceses causou discordâncias no Brasil. Como Diretor-Presidente do Grupo Carrefour e amigo de longa data do país, venho, respeitosamente, esclarecê-la.
O Carrefour é um grupo descentralizado e enraizado em cada país onde está presente, francês na França e brasileiro no Brasil.
Na França, o Carrefour é o primeiro parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo. A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais.
Do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim. São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produtores conhecemos.
O Grupo Carrefour Brasil é profundamente brasileiro, com mais de 130.000 colaboradores, se desenvolveu e continua se desenvolvendo sob minha presidência em parceria com produtores e fornecedores do Brasil, valorizando o trabalho do setor produtivo e sempre em benefício de nossos clientes. Nos últimos anos, o Grupo Carrefour Brasil acelerou seu desenvolvimento, dobrando tanto o volume de seus investimentos no país quanto suas compras da agricultura brasileira. Mais amplamente, o Brasil é o país em que o Carrefour mais investiu sob minha presidência, o que confirma nossa ambição e nosso comprometimento com o país. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil.
Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito as normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas.
O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos. Asseguro, Senhor Ministro, nosso compromisso de longo prazo ao lado da agricultura e dos produtores brasileiros.
Aproveito a oportunidade para renovar os protestos de estima e consideração.
Atenciosamente,
Alexandre Bompard
Diretor-Presidente do Grupo Carrefour
Apesar da carta, os desdobramentos das declarações de Bompard na rede social X na última semana continuam a aparecer. Inclusive, uma carta aberta assinada por diversas associações do setor produtivo já foi assinada, os parlamentares da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) pedem ações do governo federal no Congresso Nacional e a não entrega de produtos às lojas do Carrefour no Brasil por grandes frigoríficos continua. De acordo com a Abrafrigo (Associação Brasileira dos Frigoríficos) acredita ainda que a "decisão pelo boicote cabe a cada empresa".
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Até este momento, a apuração mostra que grupos como JBS, Marfrig e Masterboi não têm feito novas operações com o Carrefour. Há relatos que chegam a todo momento sobre lojas desabastecidas do grupo, em todo o Brasil, no entanto, a empresa afirma que o desabastecimento não procede. Veja seu posicionamento:
"É improcedente a alegação de que hoje há desabastecimento de carne nas lojas do Grupo Carrefour Brasil. Tal alegação, veiculada sem identificação de fonte, contribui para desinformação. A comercialização do produto ocorre normalmente nas lojas. Nenhuma loja está desabastecida", traz a nota do Carrefour.
Ainda assim, especialistas do setor afirmam que diante do forte momento da demanda pela carne bovina brasileira, o consumidor tende agora a buscar outras alternativas de consumo, sem deixar de garantir que sua demanda deixe de ser atendida.
"Estamos vivendo um momento favorável em termos de demanda pela nossa carne, então temos uma demanda externa muito forte e, se tratando de demanda interna, também. O brasileiro está com renda, está com emprego, então temos um mercado interno bem aquecido e isso vai fazer com que o consumidor vá buscar carne em outro estabelecimento. Em outro supermercado, no açougue, em boutiques de carne, em casas de carne. Então, a dinâmica do consumo tende a continuar. Assim, que quem vai sofrer os impactos negativos é o Carrefour sem a carne", afirma o pesquisador do Cepea, Thiago Bernardino, ao Notícias Agrícolas.
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