Focos de queimadas atingiram número recorde em áreas de matas em 2024
O mapeamento feito pela Embrapa das áreas impactadas pelas queimadas durante o período de seca no Brasil em 2024 revela que os principais focos ocorreram em áreas de formação florestal, principalmente na Amazônia e no Pantanal matogrossense. “O levantamento das áreas de matas impactadas pelo fogo mostra que os estados de Mato Grosso, Pará e Amazonas foram os mais atingidos. O município de São Félix do Xingu, no Pará, com 3.846 queimadas em áreas de mata ( imagem acima, extraída do Google Earth ), foi o que registrou o maior número de focos no País. Os municípios paraenses de Altamira e Novo Progresso, e o amazonense Apuí também registraram mais de 2 mil focos de queimadas em 2024”, expõe o pesquisador da área de Agrometeorologia da Embrapa Milho e Sorgo (MG) Daniel Pereira Guimarães.
Durante a estimativa de 2023, foram registrados cerca de 90 mil focos de calor no País. Em 2024, esse número foi superior a 200 mil entre os meses de maio até o fim de setembro, com forte intensificação da incidência de queimadas em agosto, segundo o pesquisador ( Figura 4 ). “Identificados pelo sensor Modis, embarcados nos satélites Aqua e Terra, seis municípios brasileiros tiveram mais de 5 mil focos de calor, dentro e fora de áreas de matas”, informa Guimarães. São eles: São Félix do Xingu (PA), com 7.657 focos de queimadas; Altamira (PA), com 6.687 focos no mesmo período; Apuí (AM), com 5.906 focos; Corumbá (MS), totalizando 5.860 registros; Novo Progresso (PA), com 5.498 queimadas; e Lábrea (AM), chegando a 5.205 focos ( Figura 3 ). As imagens do sensor Modis, o Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer, são comprovadas pelo Programa Earth Science Data Systems (ESDS) da agência espacial norte-americana ( Nasa ) e distribuídas em diferentes formatos em seu site . “Os pontos com núcleos quentes vistos nas imagens são as queimadas”, explica o cientista da Embrapa.
Na visão de Guimarães, o cenário de forte estimativa visto em 2024, em que as queimadas atingiram com maior intensidade as áreas com formação florestal no Brasil, apresenta lesões e desafios para a recuperação desses biomas. “A vegetação florestal não está adaptada aos impactos das queimadas e tende a perecer, enquanto as áreas de campo, como as de Cerrado e pastagens, se recuperam mais facilmente com a chegada do período chuvoso. Outra questão diz respeito ao grande volume de matéria seca existente nas áreas de mata cuja queima provocou os altos índices de poluição atmosférica no País”, pondera. “Essas mudanças também são percebidas nas alterações dos índices de levantamento obtidos das imagens de satélite. Os resultados foram os altos índices de queimadas e a escassez de água nos rios da região”, completa.
Impacto na agricultura
As áreas agrícolas também foram muito afetadas, e os canaviais os mais impactados, com a ocorrência de mais de quatro mil focos de queimadas em 2024 ( Figura 5 ) – em 2023, foram registrados 650 focos, segundo o pesquisador. “Veremos perdas tanto pela ação do fogo quanto pela queda de produtividade causada pelo estresse hídrico”, apresenta. Segundo Guimarães, uma forte estimativa terá impactos na próxima safra. “As áreas de cultivo de soja se encontram na época de pousio e as perdas estão relacionadas com a queima da matéria orgânica e a cobertura do solo. Já as lavagens de café tiveram baixa incidência de queimadas, mas terão forte impacto devido à deficiência de água na zona radicular. Condição semelhante ocorre nas áreas de fruticultura”, relata Guimarães.
Eventos extremos
A chegada do período chuvoso em grande parte do País na segunda semana de outubro marcou o fim da estimativa que causou a maior incidência de queimadas no Brasil, com prejuízos enormes econômicos e danos ambientais incalculáveis. De acordo com Guimarães, a intensidade das estimativas está sendo avaliada com base na extensão do período sem chuvas e na atuação da incidência do El Niño Oscilação Sul (Enso). “Isso leva a erros de interpretação e atrasos na tomada de ações para mitigar os danos causados pela seca, conforme verificado nessa última estação de estimativa. As chuvas ocorridas nas regiões Sudeste e Nordeste ocorreram próximas às normais climatológicas; na Região Sul foram maiores que as médias históricas; já na Região Norte ficou abaixo da média. Essas variações sazonais e a condição de neutralidade da temperatura do Pacífico desde o início de maio não serviram de alerta para a tragédia que se avizinhava”, explica Guimarães ( veja a Figura 1 ).
Segundo o pesquisador, uma forte estimativa foi ocasionada pela perda de água dos solos em razão das altas temperaturas, dos baixíssimos índices de umidade relativa do ar e da ação dos ventos, causando uma estação de inverno atípica, com secagem precoce das gramíneas e uma perda excesso de folhagem nas áreas florestais. “Esses impactos já eram claramente observáveis em agosto de 2024 ( Figura 2, ), quando vários estados já apresentavam excesso de escassez hídrica nos solos. Essas mudanças também são percebidas nas alterações dos índices de telhado obtidos das imagens de satélite. A forte estimativa na região amazônica foi prevista com antecedência pelos modelos de previsão climática. Os resultados foram os altos índices de queimadas e a escassez de água nos rios da região”, apresenta.
Medidas de prevenção
Daniel Guimarães comenta que os eventos climáticos extremos são cada vez mais frequentes, com desastres causados pelas chuvas como as ocorridas na Região Sul do País, e as estiagens, que atingem áreas enormes. “Porém, nossas bases de informações, principalmente as obtidas a partir de sensores orbitais, são suficientes para o monitoramento em tempo real e orientar as tomadas de decisões mais assertivas”, diz.
O pesquisador reforça que as condições de umidade dos solos e os níveis de estresse da permissão permitem que ações sejam tomadas, como campanhas educativas, fiscalização do uso de queimadas e ações de fiscalização, com pelo menos dois meses antes do período crítico. “A mitigação desse problema nacional depende do monitoramento e da previsão das condições climáticas, da análise da geolocalização dos focos de incêndio em tempo real em integração com as bases de relevância, uso do solo e Cadastro Ambiental Rural (CAR), além da fiscalização das áreas de risco com o apoio de sensores remotos”, conclui.
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