Softs commodities devem ter 2º semestre intenso, mas de oportunidades para o Brasil
Do algodão ao suco de laranja, o primeiro semestre foi intenso para os preços das softs commodities no mercado internacional. Dúvida em relação à demanda, oferta e conflitos políticos, além da inflação impactaram e devem continuar movimentando os preços nos mercados de algodão, cacau, café e suco de laranja.
O Notícias Agrícolas conversou com analistas de mercados para entender como o cenário deve se desenvolver para esses setores nos próximos seis meses do ano. É correto afirmar que as incertezas políticas e econômicas devem persistir, há muita dúvida em relação à oferta global dos produtos, mas também podem haver boas janelas de oportunidades para os produtores do Brasil
ALGODÃO
O mercado do algodão ainda sente os reflexos da pandemia da Covid-19 e os impactos da inflação e queda na renda. Considerado um produto que pode ser "deixado para depois", os próximos seis meses serão definidos por dados de compra da China e números da produção americana.
Segundo Pery Passotti Pedro, analista da StoneX Brasil, os reflexos do dinheiro injetado na economia global durante as incertezas da pendamia ainda são uma realidade para esse produtor.
Na época, a ação dos principais governos globais acabou resultando em uma explosão na demanda por têxtil, mas na sequência os resultados da inflação trouxeram certo "atraso" para a demanda do produto.
"O algodão reage de forma muito sensível a pressão da queda de renda, ninguém continua comprando uma camisa por mês quando a renda diminui", comenta.
Segundo o analista, para o segundo semestre de 2024 os produtores devem estar atentos com a produção dos Estados Unidos e os números de compra da China, que devem ser divulgados nas próximas semanas.
No caso dos americanos, é preciso destacar que já são dois anos de clima extremamente ruins para a produção de algodão no país. "Em 60 dias o mercado estará definindo a safra americana, o que pode mudar a dinâmica de preços no ponto de vista da oferta", afirma.
Já com relação à demanda, Pery explica que neste mesmo período no ano passado a China informou grande volume de compra. "Vai depender muito de como a China vai entrar novamente no mercado, ainda tem muito estoque, mas se entrar como no ano passado, pode dar um novo rumo ao mercado", destacou.
BRASIL MAIS COMPETITIVO
No mercado brasileiro, o cenário é de estabilidade para esse produtor. Exportando 80% da sua produção, o país soube aproveitar as boas oportunidades que surgiram no período.
Pery destaca que apesar da crise mundial, o Brasil foi muito rápido para ajustar o preço, produtores tomaram decisão na hora certa e deixou o produto nacional mais competitivo. "Hoje o algodão brasileiro é o que tem a melhor rastreabilidade do mundo, é reflexo de um trabalho bem feito que vem sendo feito por todo setor", afirma.
CACAU
Com problemas nas principais origens produtoras, o mercado do cacau atingiu níveis recordes na primeira etapa de 2024. As cotações chegaram a atingir preços não vistos nos últimos 50 anos e agora passa um por período de ajustes nos preços, mantendo a volatilidade acentuada.
Segundo Rafael Borges, da StoneX Brasil, com as altas dos últimos meses o setor já começou a observar mudanças por parte da indústria, que já estaria buscando por outros produtos para substituição do cacau, já que a matéria-prima ficou muito cara.
"Estamos aguardando agora para saber os dados de moagem da Europa, a demanda por ser impactada nem tanto pelo consumidor final, mas sim por parte da indústria", afirma.
O cenário no entanto, pode ser revertido pela oferta de cacau que continuará sendo mais restrita. O mercado trabalha com déficit há três anos e para o ciclo atual já é consolidado o déficit de 463 mil toneladas, de acordo com a Organização Internacional do Cacau.
Em relação à produção africana, os modelos registraram o retorno das chuvas na Costa do Marfim, mas ainda sem volumes significativos para garantir a recuperação da produção. Além disso, com a crise climática, muitos produtores migraram para outras atividades ou não realizaram renovação das lavouras.
Para o Brasil, o reflexo foi positivo e deve resultar em investimentos e área de expansão com a cultura. O setor é otimista e aproveita o bom momento em que multicionais apostam no cacau como ferramenta de sustentabilidade, investindo em tecnologia, ampliação de área, mas também busca por soluções e investimentos efetivos para garantir assistência técnica, linha de crédito e expansão segura para conquistar a autossuficiência.
CAFÉ
O primeiro semestre de 2024 foi marcado por exportação expressiva do Brasil quando o assunto é café. Mesmo com a dúvida em relação à safra em andamento, a expectativa é que o setor tenha recorde nos embarques.
Lúcio Dias, analista em mercado de café e em agronegócio, destaca, no entanto, que o segundo semestre será marcado pela exportação já que as novas regras de importação da União Europeia estão previstas para entrar em vigor em dezembro.
"Tenho certa preocupação com a demanda de café, o mercado pode ter se antecipado comprando muito café antes da nova legislação entrar em vigor", afirma.
Outro fator importante para os preços no médio prazo, segundo Lúcio, são as condições climáticas. A Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA) indica 60% de chance de um novo La Niña no segundo semestre, o que chama atenção do setor que tem preocupação já que nos últimos anos do fenômeno climático, as lavouras sentiram as altas temperaturas, chuvas abaixo do ideal e até mesmo geada.
Mesmo com a volatilidade, o cenário ainda é de bons preços para o produtor do Brasil. Há algumas semanas o mercado oscila bastante, mas segue operando acima de 220 cents/lbp em Nova York, refletindo também no físico, dando ritmo aos negócios. "O produtor precisa estar atento e bem participativo como fez até aqui. De agora em diante a janela de preço vai depender muito desses dois fatores, além do financeiro com os dados americanos, inflação e política de juros", complementa.
É importante ressaltar que além das incertezas climáticas para o Brasil, o mercado ainda observa as condições das lavouras na Colômbia - que tenta se recuperar das baixas dos últimos anos e principalmente dos problemas no Vietnã.
Nos últimos meses, os preços têm sido sustentados pelo volume mais baixo de produção na Ásia e as altas temperaturas e a seca do primeiro semestre no principal produtor de robusta do mundo elevaram as cotações para patamares históricos, abrindo oportunidades para o conilon do Brasil e
SUCO DE LARANJA
A safra de laranja do Brasil está estimada em 232 milhões de caixas, de acordo com os dados mais recentes do Fundecitrus. De acordo com análise de Andrés Padilla do Rabobank Brasil, a estimativa mais recente do Brasil surpreendeu de forma negativa o mercado.
"Como havíamos sinalizado, o consenso do mercado era para uma safra paulista de aproximadamente 250 a 270 milhões de sacas, considerando o clima seco e quente dos últimos 12 meses e os efeitos do greening", afirma no último relatório.
O mercado reagiu rápido e avançou após os dados serem divulgados, o que deve permanecer no médio prazo, segundo o analista. "Refletindo a situação de baixa disponibilidade e custos elevados da fruta no campo. O mercado entende que não haverá um alívio no curto nem no médio prazo do lado da oferta, e o possível ajuste terá que vir de menor demanda", acrescenta.
Diante deste cenário, a tendência é de boas oportunidades para os produtores que continuam vendo os contratos atingindo máximas históricas com valores superiores a R$ 70,00 a caixa. "Os preços da fruta devem se manter em patamares recorde ao longo da safra 2024/25 devido à baixa disponibilidade e à demanda constante da indústria", conclui o relatório.
0 comentário
Soja e milho em Chicago têm mais uma sessão de alta enquanto açúcar em NY consolida perda de quase 6% na semana
Agro e Prosa Episódio 914 - Como atingir máxima produtividades
Carta para o Papai Noel: Pedidos do Agro para 2025 | Ouça o Agro CNA/Senar #153
Prosa Agro Itaú BBA | Agro Semanal | Mercados de soja e açúcar e o planto de rastreabilidade da pecuária nacional
Safra 24/25 do Paraná pode chegar a 25,3 milhões de toneladas de grãos
As perspectivas para o agro em 2025, rumo à COP do Brasil