FAO: A produção mundial de pesca e aquicultura atinge novo recorde histórico

Publicado em 10/06/2024 09:11

A produção mundial de pesca e aquicultura atingiu um recorde na produção aquícola de animais aquáticos, superando pela primeira vez a pesca de captura, de acordo com um novo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicado dia 7 de junho (sexta). 

A última edição do relatório "O Estado Mundial da Pesca e Aquicultura" (SOFIA, na sigla em inglês) indica que a produção mundial de pesca e aquicultura em 2022 elevou-se a 223,2 milhões de toneladas, 4,4% a mais que em 2020. A produção incluiu 185,4 milhões de toneladas de animais aquáticos e 37,8 milhões de toneladas de algas. 

América Latina e o Caribe produziram 17,7 milhões de toneladas de produção pesqueira e aquícola, 8% do total mundial, crescendo para 9% quando considerada apenas a produção de animais aquáticos.

“A FAO valoriza as importantes conquistas alcançadas até agora, mas são necessárias mais ações transformadoras e adaptativas para fortalecer a eficiência, inclusividade, resiliência e sustentabilidade dos sistemas alimentares aquáticos e consolidar seu papel na luta contra a insegurança alimentar, mitigação da pobreza e governança sustentável”, afirmou o Diretor-Geral da FAO, QU Dongyu. “Por isso, a FAO defende a Transformação Azul, para atender aos requisitos gerais de uma melhor produção, melhor nutrição, melhor meio ambiente e uma vida melhor, sem deixar ninguém para trás”. 

O relatório SOFIA foi apresentado no sábado dia 8 de junho, no evento de alto nível sobre ação oceânica "Imersos na Mudança" em San José, Costa Rica. 

Aquicultura mundial atinge quantidade recorde

Em 2022, pela primeira vez na história, a aquicultura superou a pesca de captura como principal produtora de animais aquáticos. A produção aquícola mundial alcançou a cifra inédita de 130,9 milhões de toneladas, das quais 94,4 milhões são animais aquáticos, representando 51% da produção total de animais aquáticos. 

América Latina e o Caribe registraram 4,3 milhões de toneladas de produção aquícola, o que se traduz em cerca de 3,3% do total mundial. Isso torna a região a segunda maior produtora de aquicultura, embora significativamente atrás da Ásia (91,4% do total mundial). 

Atualmente, um pequeno número de países domina a aquicultura na região. Chile e Equador representam 53% da produção aquícola total de animais aquáticos da América Latina e o Caribe, e ambos estão entre os dez principais países do mundo. 

“As políticas específicas, a transferência de tecnologia, o desenvolvimento de capacidades e o investimento responsável são cruciais para impulsionar a aquicultura sustentável onde mais é necessário”, afirmou o Subdiretor-Geral e Representante Regional para América Latina e o Caribe, Mario Lubetkin. 

“Devemos promover a gestão eficaz e sustentável de todas as pescarias, e a intensificação e expansão sustentáveis da aquicultura, para potencializar a contribuição dos sistemas alimentares aquáticos para a segurança alimentar, erradicação da pobreza e uso sustentável dos recursos naturais, em linha com o debatido na última Conferência Regional da FAO”, sublinhou Lubetkin. 

Consumo mundial de alimentos de origem aquática aumenta novamente, mas a região está atrás da média mundial

A produção recorde de alimentos de origem aquática destaca o potencial do setor para combater a insegurança alimentar e a má nutrição. O consumo aparente mundial de alimentos (estimativa da quantidade total de um produto disponível para consumo em um período) de origem aquática alcançou 162,5 milhões de toneladas em 2021. Esta cifra aumentou a um ritmo quase duas vezes superior ao da população mundial desde 1961, com um consumo mundial anual per capita que passou de 9,1 kg em 1961 para 20,7 kg em 2022. 

Na América Latina e no Caribe, o consumo aparente de alimentos foi de 7 milhões de toneladas, refletindo um consumo per capita de 10,7 kg. Embora haja grande variabilidade entre os países, a média regional é inferior apenas à da África, e está muito atrás da média mundial. 

Apoiar um maior consumo de fontes sustentáveis na região é crucial para promover dietas saudáveis e melhorar a nutrição em todo o mundo. Os alimentos de animais aquáticos fornecem proteínas de alta qualidade - 15% das proteínas animais e 6% das proteínas totais no mundo - e nutrientes essenciais como ácidos graxos ômega-3, minerais e vitaminas. Em 2021, forneceram pelo menos 20% do suprimento per capita de proteínas de todas as fontes animais para 3,2 bilhões de pessoas no mundo. 

A maior parte da produção mundial de pesca de captura provém de populações sustentáveis

A produção mundial de pesca de captura tem se mantido estável desde o final dos anos 1980. Em 2022, o setor produziu 92,3 milhões de toneladas, das quais 11,3 milhões foram de pesca continental e 81 milhões de pesca marinha. Apesar do crescimento da aquicultura, a pesca de captura continua sendo uma fonte essencial de produção de animais aquáticos. 

A produção de pesca de captura de animais aquáticos na América Latina e no Caribe foi de cerca de 12,8 milhões de toneladas, representando 14% do total mundial. O Peru, que contribui com quase 6% da produção mundial de animais aquáticos de captura, é o único país da região que figura entre os dez principais produtores mundiais de pesca de captura. 

Em nível mundial, a proporção de populações marinhas pescadas dentro de níveis biologicamente sustentáveis diminuiu para 62,3% em 2021, uma redução de 2,3% em relação a 2019. Quando ponderado pelo nível de produção, estima-se que 76,9% dos desembarques de 2021 das populações monitoradas pela FAO provieram de populações biologicamente sustentáveis. Isso destaca o papel que a gestão eficaz da pesca pode desempenhar para facilitar a recuperação das populações e o aumento das capturas, sublinhando a necessidade urgente de replicar as políticas bem-sucedidas para reverter a atual tendência de declínio. 

FAO prevê aumento da produção e do consumo

O relatório SOFIA prevê que a produção de animais aquáticos aumentará 10% até 2032, alcançando 205 milhões de toneladas, enquanto o consumo aparente aumentará 12% para fornecer uma média de 21,3 kg per capita em 2032. Espera-se que o aumento da renda e da urbanização, melhorias nas práticas pós-colheita e tendências de distribuição e alimentação impulsionem a maior parte desse incremento. 

O relatório também mostra as possíveis implicações da dinâmica demográfica no fornecimento de alimentos de animais aquáticos até 2050. Apenas para manter as taxas atuais de consumo per capita de alimentos de origem aquática em 2050, América Latina e Caribe precisariam aumentar sua oferta em 13% adicional, e ainda mais se a região quiser se aproximar da média mundial anual de 20,7 kg per capita. Isso evidencia a necessidade de acelerar as ações prioritárias de Transformação Azul em um mundo onde os alimentos aquáticos desempenhem um papel mais significativo para acabar com a fome, má nutrição e pobreza. 

Emprego no setor é vital para milhões de pessoas

Além da nutrição e segurança alimentar, a pesca e a aquicultura são uma importante fonte de meios de subsistência. Segundo os últimos dados, estima-se que, em 2022, 61,8 milhões de pessoas estavam empregadas no setor primário de pesca e aquicultura, em comparação com 62,8 milhões em 2020. 

Na América Latina, estima-se que 2,3 milhões de pessoas estavam empregadas no setor primário, representando 4% do total mundial. 

Os dados desagregados por sexo indicam que as mulheres representam 24% da força de trabalho mundial no setor primário, mas 62% no subsetor de processamento. O relatório aponta que continuam a existir problemas de desigualdade de gênero, como diferenças salariais, reconhecimento insuficiente da contribuição das mulheres ao setor e violência de gênero. 

SOFIA é uma publicação insígnia da FAO que analisa o estado e a saúde das populações mundiais de peixes, bem como as tendências da pesca e aquicultura a nível mundial e regional. A edição de 2024 destaca os avanços concretos da Transformação Azul em ação, mostrando o papel da FAO, em colaboração com os membros e parceiros, no impulso da mudança para a expansão e intensificação sustentáveis da aquicultura, a gestão eficaz da pesca e as cadeias de valor que priorizam a eficiência, segurança e equidade. 

SOFIA 2024 em números

Todas as cifras correspondem a 2022, salvo indicação em contrário.  

Produção

Produção mundial de pesca e aquicultura: 223,2 milhões de toneladas 
América Latina e o Caribe: 17,7 milhões de toneladas (8%) 
Produção mundial de animais aquáticos: 185,4 milhões de toneladas 
América Latina e o Caribe: 17,1 milhões de toneladas (9%) 
Produção mundial de algas: 37,8 milhões de toneladas 
América Latina e o Caribe: 540.368 toneladas (1,4%) 
Produção mundial de aquicultura: 130,9 milhões de toneladas 
América Latina e o Caribe: 4,3 milhões de toneladas (3%) 
Pesca de captura mundial: 91,0 milhões de toneladas de animais aquáticos; 1,3 milhões de toneladas de algas 
América Latina e o Caribe: 12,8 milhões de toneladas de animais aquáticos (14%) 
Produção de animais aquáticos por regiões: Ásia (70%), Europa (9%), América Latina e o Caribe (9%), África (7%), América do Norte (3%) e Oceania (1%) 
Principais produtores de animais aquáticos por países: China (36%), Índia (8%), Indonésia (7%), Vietnã (5%) e Peru (3%) 
Valor total estimado da primeira venda da produção pesqueira e aquícola (a nível mundial): 472 bilhões de USD 
Valor total estimado da primeira venda da produção aquícola (a nível mundial): 313 bilhões de USD 

Sustentabilidade (em nível mundial)

Proporção de populações marinhas de pesca sustentável monitoradas pela FAO (2021): 62,3%  

Proporção do nível de populações marinhas pescadas de forma sustentável monitoradas pela FAO ponderada pela produção (2021): 78,9%  

Consumo aparente

Consumo aparente mundial de alimentos de animais aquáticos (2021): 162,5 milhões de toneladas  

América Latina e o Caribe: 7,0 milhões de toneladas 

Consumo aparente mundial de alimentos de origem animal aquático per capita (2021): 20,6 kg 

América Latina e o Caribe: 10,7 kg 

Aumento do consumo aparente mundial de alimentos de origem animal aquático per capita: de 9,1 kg em 1961 para 20,6 kg em 2021 

Emprego

Pessoas empregadas na produção primária: 61,8 milhões 

América Latina e o Caribe: 2,3 milhões (4%) 

Trabalhadores por setor: pesca (54%), aquicultura (36%), setor não especificado (10%) 

Porcentagem de empregos por região: Ásia (85%), África (10%), América Latina e o Caribe (4%), Europa, Oceania e América do Norte juntas (1%) 

Comércio (em nível mundial)

Principais exportadores de produtos de animais aquáticos: China, Noruega, Vietnã, Equador, Chile 
Principais importadores de produtos de animais aquáticos: Estados Unidos, China, Japão, Espanha, França 
Valor do comércio internacional de produtos aquáticos: 195 bilhões de USD 

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Fonte:
FAO

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