"O mundo está em suspenso até novembro", diz professor. E o agro está no centro dos debates
"O mundo está em suspenso até novembro", afirma o professor de relações internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, em entrevista ao Notícias Agrícolas, referindo-se às mais de 40 eleições que acontecem mundo a fora somente em 2024. Algumas das principais economias do planeta registrarão pleitos neste ano, incluindo os Estados Unidos - a maior economia do mundo - o Parlamento Europeu, Índia, entre outras, como as de Rússia e Taiwan, que já aconteceram.
Tais eleições podem mudar de forma bastante profunda os cenários geopolíticos mundiais e trazer impactos ao agronegócio em diversos países, inclusive no Brasil. A recente passagem do presidente da França, Emmanuel Macron, ao Brasil deixa isso bastante claro, além de mostrar como apesar de parecerem distantes, estas situações são diversas entre si, porém, complementares.
![Lula e Macron](https://cdn.noticiasagricolas.com.br/dbimagens/thumbs/800x2000/lula-e-macron-XdAvx.jpeg)
"A viagem de Macron foi uma viagem de duplo interesse. Ele tinha interesse na viagem e Lula tinha interesse em recebê-lo. Macron estava em uma situação em que precisava desta viagem, a mesma situação de novembro de 2021, quando quem precisava era o Lula, que foi recebido de braços abertos e, literalmente, com tapete vermelho na porta do Eliseu, como se fosse um chefe de estado que não era. Mas, Macron o recebeu desta forma e Lula está pagando a gentileza", explica Trevisan.
![Lula na França em 2021](https://cdn.noticiasagricolas.com.br/dbimagens/thumbs/800x2000/lula-na-franca-em-2021-E8xwk.jpeg)
O atual momento político do presidente francês e de seu partido, o Renascimento, é bastante delicado, eles vêm perdendo força e espaço para sua principal opositora e líder da direita, Marine Le Pen, e o político buscava mais visibilidade de sua figura em atividade, como aconteceu no Brasil, onde três pautas já estavam bem definidas durante sua estada por aqui: uma agenda com os ambientalistas - com direito a uma parada no Pará -; os tratos sobre o acordo entre a União Europeia e o Mercosul, fazendo um aceno importante à indústria e ao agronegócio franceses; e as questões geopolíticas discutidas na capital federal Brasília.
"Os dois, cada um deles a seu modo, se complementavam. Macro se auto definiu como representante do G7, como um representante que não obece os Estados Unidos. E o Lula, por sua vez, uma espécie de reprsentante do sul global. 'Sou amigo dos Estados Unidos, mas sou autônomo em relação a eles', foi isso que ele quis trazer, esse era o clima em Brasília. E essa intenção foi muito bem percebida pelo fotógrafo da Presidência da República que capturou o clima da visita", diz.
Todavia, o professor destaca ainda que foi também em Brasília que a parte "menos comentada" da visita de Macron ao Brasil aconteceu, com as reuniões em que o chefe de estado tratou da necessidade de urânio pela França, que perdeu o fornecimento do Niger - até aqui seu maior fornecedor - e utiliza cerca de 70% de energia nuclear. E o Brasil é a 8ª reserva do mundo de urânio. "Assim, de alguma forma, foi interessante observar como os dois lados fizeram silêncio sobre o urânio. Houve uma convsersa forte com a Comissão de Energia Nuclear Brasileira, já que se trata de material sensível e isso pertence à União".
MACRON X AGRONEGÓCIO GLOBAL
Desta maneira, as notícias que se seguiram após a passagem de Emmanuel Macron por três dias pelo Brasil deixam pouco claro que seu futuro político está bastante ameaçado, o que exigiu do presidente, inclusive, não falar outra coisa do acordo entre União Europeia-Mercosul que não o que disse, que é um texto ultrapassado, discutido 20 anos atrás. O francês, no entanto, não traz em suas falas que boa parte das travas que vieram da União Europeia ao Mercosul vieram da própria França, em especial ao que se trata do competivivo e competente agronegócio brasileiro.
"A indústria francesa é como a indústria alemã, ela quer o acordo com o Mercosul, quem não quer é o agronegócio. São diferentes. O agronegócio francês morre de medo da produtividade do nosso agronegócio é isso", detalha Trevisan.
"E para sua sobrevivência política, Macron nem tem condições de dizer outra coisa sobre o acordo, por conta do agronegócio francês. Por outro lado, a França não é só agronegócio e tem outros interesses. E por isso que a diplomacia brasileira insistiu que o acordo não estava morto, porque o próprio Macron tem lados para contentar, do agronegócio, da indústria, da indústria francesa e do grupo de energia que precisa de urânio. E estes grupos formam um contrabalanço forte em relação ao agronegócio", complementa.
Assim, o acordo entre os dois blocos deverá ficar ainda mais distante, ao menos até o final deste ano, uma vez que em dois meses acontecem as eleições no Parlamento Europeu. "Todos os encarregados podem mudar, podem não mudar, então, tudo fica em 'banho-maria' até, pelo menos, as eleições do parlamento. Depois, conforme forem os sinais eleitorais, aí vamos ter uma melhor ideia do quanto será o restante do mandato de Macron. Porque se a direita ganhar muito forte, Macron se tornará aquela imagem que os americanos eternizaram de 'pato manco'".
Desde o início deste ano, uma série de manifestações de produtores rurais europeus vêm se registrando e os pleitos centrais são a manutenção de subsídios, a não imposição de agendas verdes, menos burocracia e uma barreira à entrada de produtos agrícolas mais baratos em países da União Europeia, como produtos de origem ucraniana ou até mesmo brasileira, por exemplo. E embora os protestos não estejam tão aquecidos como há alguns meses, os pedidos dos agricultores não se dissiparam.
Nesta quarta-feira, 3 de abril de 2024, a Reuters Internacional deu em manchete: "Incansáveis, produtores rurais da Europa forçam os responsáveis pelas políticas públicas a agir". Em 31 de março, o The New York Times, um dos mais importantes jornais do mundo, trouxe uma reportagem especial em que diz: "Agricultores irritados estão remodelando a Europa".
![WhatsApp Image 2024-04-03 at 2.14.19 PM](https://cdn.noticiasagricolas.com.br/dbimagens/thumbs/800x2000/whatsapp-image-2024-04-03-at-21419-pm-gci7c.jpeg)
"A revolta aumentou. O descontentamento, que leva os agricultores a desistirem e se manifestarem nos últimos meses, agora ameaçam fazer mais do que mudar a forma como a Europa produz os seus alimentos. Agricultores furiosos estão questionando e não aceitando as agendas climáticas. Estão remodelando a política antes das eleições para o Parlamento Europeu, em junho. Estão abalando a unidade europeia contra a Rússia à medida em que a guerra na Ucrânia aumenta os seus custos", traz um trecho da reportagem da publicação norte-americana.
![WhatsApp Image 2024-04-03 at 2.13.57 PM](https://cdn.noticiasagricolas.com.br/dbimagens/thumbs/800x2000/whatsapp-image-2024-04-03-at-21357-pm-pf30j.jpeg)
Em entrevista ao The New York Times, Arnaud Rousseau, presidente da FNSEA, o maior sindicato de agricultores da França, é taxativo. "É o fim do mundo versus o fim do mês. Não faz sentido falar sobre práticas agrícolas que ajudam a salvar o ambiente, se os agricultores não conseguem ganhar a vida. Ecologia sem economia não faz sentido".
As dores dos agricultores europeus não são diferentes daquelas sentidas pelos agricultores brasileiros. A única diferença, no entanto, é a de que as imposições e as cobranças - comerciais, políticas e ideológicas - feitas à produção do Brasil não vêm só dos governantes locais, mas de políticos como Emmanuel Macron. Ou questionadas pelo presidente americano Joe Biden.
A questão agora é entender se, a partir de novembro, a produção agropecuária brasileira e, acima de tudo, sua competitividade serão avaliadas de maneira mais racional e pragmática.
1 comentário
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Gracieli Tassotti Sorriso - MT
Não cuida o país dele direito quer cuidar o nosso. Passear no nosso, melhor dizendo.
Falar de meio ambiente, quanta hipocrisia…Vocês acham que se tivesse congresso e senado sério ia aceitar um hipócrita francês vir aqui dizer como se faz a coisa verta qdo ele mesmo nunca fez no terreiro dele.