Brasil dá largada no G20 com ambição de reformas, mas pode esbarrar em conflitos globais
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil dá início formalmente nesta semana ao ano da cúpula do G20 no país com a intenção de chegar ao encontro de novembro com acordos para uma ampla reforma na governança global e colocar o combate à pobreza e às mudanças climáticas no centro do debate, mas a ambição brasileira pode esbarrar na falta de diálogo entre os principais atores em um período marcado por conflitos globais.
A agenda traçada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência brasileira do Grupo dos 20, que congrega as 20 maiores economias do mundo, é ambiciosa e traz para a mesa uma das suas principais obsessões no atual mandato: as mudanças no sistema internacional de governança, incluindo o Conselho de Segurança da ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, entre outros.
A avaliação feita pelos negociadores brasileiros é que as primeiras respostas dos países-membros foram, até agora, positivas para a agenda brasileira. Não há discordância em discutir os temas propostos pelo Brasil. Mas é a partir de agora que cada país colocará na mesa as suas posições, que dificilmente serão convergentes em meio a conflitos internacionais e disputas comerciais que opõe as principais potências.
Ainda assim, o governo brasileiro vê o ambiente internacional conflagrado como uma oportunidade.
"É o momento de maiores crises que pede mais reforma. Sei que é mais difícil, mas ao mesmo tempo o clamor, a necessidade de avançar nesses temas, faz com que nós tenhamos que agir, porque a deterioração em termos de conflitos geopolíticos é evidente", disse o negociador brasileiro, embaixador Maurício Lyrio, em entrevista a correspondentes internacionais.
"Então se chega a um ponto que é necessário agir justamente porque a situação atingiu um grau, eu diria, de conflagração geopolítica que exige que a ONU se fortaleça. É fácil? Não é fácil. Exige muito esforço diplomático e, eu diria, muito diálogo. É preciso investir nisso e investindo creio que há como obter avanços".
Nesta semana ocorre no Rio de Janeiro o primeiro encontro da trilha de sherpas -- as negociações políticas do grupo --, quando sentarão à mesma mesa os ministros das relações exteriores dos Estados Unidos, Antony Blinken, e da Rússia, Sergei Lavrov, em meio às tensões elevadas pela guerra da Rússia com a Ucrânia. Os dois antagonistas sentarão frente a frente, mas o que não se espera é uma facilidade de acordo entre as partes, que terá de ser mediada com muito cuidado pelo Brasil.
Na agenda, que se inicia na tarde de quarta com uma apresentação do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, a primeira sessão se dedicará justamente a falar de "tensões globais", enquanto a discussão sobre mudanças na governança será na quinta-feira.
Fontes disseram à Reuters que não se esperam resoluções nessa primeira reunião e nem, necessariamente, uma declaração final para um primeiro encontro dos 20 chanceleres do grupo para sessões de fala livre. Especialmente em relação à Ucrânia, a percepção é que não deve haver manifestações.
Já sobre a Faixa de Gaza existe alguma expectativa de posições comuns, com a mudança de posição norte-americana, que apresentou na segunda-feira uma resolução no Conselho de Segurança da ONU pedindo um cessar-fogo temporário nos ataques de Israel, depois de ter bloqueado proposta semelhante do Brasil em outubro.
A reunião também ocorrerá sob pano de fundo da crise diplomática entre Brasil e Israel depois que Lula comparou no domingo a campanha militar israelense em Gaza com o Holocausto promovido pela Alemanha nazista contra os judeus.
Na segunda-feira, Israel convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv para uma reprimenda no Memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, e anunciou que Lula não é bem-vindo em Israel até que se retrate de comentários. Em resposta, o Brasil também convocou o embaixador israelense para prestar esclarecimentos e ainda chamou de volta o enviado brasileiro em Israel.
As reuniões do G20 no Brasil seguirão, na próxima semana, com o encontro da chamada trilha financeira formada pelos ministros da Fazenda e presidentes de Bancos Centrais, e ao longo do ano outros encontros serão realizadas sobre diversas áreas, até a cúpula em novembro, no Rio de Janeiro.
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