Coamo avalia que maiores estoques podem amenizar queda de preços e de safra em 2024
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A Coamo Agroindustrial, maior cooperativa de agricultores do Brasil, avalia que a comercialização de seus elevados estoques de grãos pode compensar parte do impacto negativo da queda na safra 2023/24 e dos preços baixos para seus resultados neste ano.
A cooperativa entrou em 2024 com estoques 50% maiores de grãos do que em 2023, após uma safra recorde no ciclo passado e lentas vendas dos cooperados devido a cotações pouco interessantes para negócios dos agricultores, disseram à Reuters representantes da Coamo nesta quinta-feira, quando os resultados da instituição de 2023 foram aprovados pelos associados.
Se as vendas dos estoques de soja, milho e trigo podem amenizar uma possível queda no faturamento em 2024 para a Coamo, de outro lado sinaliza para o mercado que a cooperativa com sede em Campo Mourão (PR) e atuação em Mato Grosso do Sul e Santa Catarina dispõe de volumes para fazer frente à quebra da colheita de soja neste ano, que pode chegar a cair cerca de 20% após um clima desfavorável.
"Tendo volume menor de produção, isso leva a crer uma queda de faturamento. Só que tem um componente do estoque... com a velocidade mais lenta de fixação por parte do produtor, cresceu na Coamo em 50% o estoque de passagem... Se o produtor vier a comercializar isso este ano... então pode ser que haja uma compensação da queda de safra", disse o presidente-executivo da cooperativa, Airton Galinari, à Reuters.
"Mas isso (a fixação da venda) é decisão do produtor, vai da necessidade de caixa", disse Galinari, lembrando que o cooperado pode deixar o produto armazenado na Coamo por um ano sem custos extras.
Ele disse que a Coamo passou de 2023 para 2024 com 3,66 milhões de toneladas de grãos em estoques, volume que representa mais de 36% do total de 10 milhões de toneladas recebido pela cooperativa no ano passado.
Para 2024, inicialmente havia expectativa de a cooperativa receber volumes semelhantes de soja em relação ao ano passado, algo em torno de 6 milhões de toneladas, mas os problemas climáticos trouxeram as perspectivas de recebimento do principal grão da Coamo mais próximas de 4,8 milhões a 5,1 milhões de toneladas.
"Estamos com uma expectativa de 20% a menos do que o planejado de soja", afirmou.
Galinari estima que em geral o produtor tenha travado vendas de menos de 10% da sua safra nova de soja por meio de contratos a termo, um percentual que já chegou a variar entre 30% e 40% em anos anteriores, quando o mercado estava mais favorável.
Além dos estoques da safra passada, a cooperativa está lidando com recebimentos de uma colheita antecipada de soja, que já atingiram mais de 30% do que a cooperativa espera receber.
PRESSÃO DE PREÇOS
As negociações podem ganhar força quando começarem a vencer as principais parcelas de empréstimos, entre abril e maio, admitiu o executivo, lembrando que no ano passado esse movimento gerou um pressão de preços.
"Temos preocupação grande, começamos o ano com preços bem mais baixos", disse ele, lembrando que as cotações despencaram ao longo do ano passado.
Ele disse é prematuro falar em projeções para o milho segunda safra, que está sendo plantado, mas disse que uma expectativa inicial indica que o recebimento de milho da segunda safra pode girar em torno de 3,3 milhões de toneladas, praticamente o mesmo número de 2023.
Ele comentou que a antecipação do ciclo da soja melhorou a janela para produtores de milho, que deverá ser preferido em relação ao trigo, cujos preços "não fecham a conta".
Os preços de produtos agrícolas estão refletindo uma maior oferta mundial, apesar de uma quebra de safra no Brasil, que deve ser compensada por um aumento da produção de soja e milho na Argentina.
O presidente do Conselho de Administração da Coamo, José Aroldo Gallassini, foi reconduzido ao cargo em assembleia de cooperados nesta quinta-feira, disse que o produtor está perdendo o "fôlego" desde 2023, e destacou que o setor tem procurado o governo para obter prorrogação de parcelas de empréstimos.
"Já tivemos contatos com o governo para um possível plano para favorecer o custeio e o investimento, mas por enquanto está muito em conversa", disse, citando que em função da queda de preços alguns produtores não estão conseguindo pagar contas de insumos e máquinas, o que gera inadimplência.
Na assembleia desta quinta-feira, a Coamo aprovou resultados de 2023 que incluíram a distribuição de 850 milhões de reais em "sobras" aos mais de 31 mil cooperados. Isso após dedução estatutária da sobra líquida no montante de 2,324 bilhões de reais, com alta de 2,9% ante 2022.
Os dados da assembleia também confirmaram dados preliminares que indicaram que a receita global da Coamo somou mais de 30 bilhões de reais em 2023, com um crescimento de 7,6%.
(Por Roberto Samora)
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