IPCA sobe mais que o esperado em dezembro mas termina 2023 abaixo do teto da meta
Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - A inflação ao consumidor brasileiro encerrou 2023 com alta acumulada de 4,62% e voltou a ficar abaixo do teto da meta depois de dois anos seguidos de estouro do objetivo, contrariando as expectativas do início do ano passado mas apontando pressão em dezembro.
O avanço acumulado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos 12 meses até dezembro de 2023, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou assim dentro do limite da faixa determinada como meta para o ano passado, de 3,25% com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
O resultado foi mais forte do que a expectativa em pesquisa da Reuters de um avanço de 4,54% nessa base de comparação, mas ainda ficou aquém do que se esperava no início de 2023 --a primeira pesquisa Focus divulgada naquele ano apontava que a expectativa do mercado era de que a inflação terminaria em 5,36%.
A alta do IPCA em dezembro também superou as expectativas ao acelerar a 0,56%, de 0,28% em novembro. A taxa esperada em pesquisa da Reuters era de 0,48%.
Ainda assim o avanço acumulado em 2023 ficou abaixo das taxas de 5,79% e 10,06% registradas respectivamente em 2022 e 2021, quando o avanço do IPCA ficou acima do limite máximo do objetivo e obrigou o Banco Central a divulgar cartas explicando os motivos.
Depois de levar a taxa básica de juros ao recorde de 13,75%, o BC embarcou a partir de agosto em um ciclo de afrouxamento monetário que reduziu a Selic ao atual patamar de 11,75%. A autoridade monetária volta a se reunir em 30 e 31 de janeiro, e o mercado prevê que a Selic terminará este ano a 9,0%, segundo a pesquisa Focus mais recente.
Para 2024, o centro da meta para a inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional cai a 3,0%, também com margem de 1,5 ponto percentual, com especialistas calculando que o IPCA fechará o ano com avanço de 3,9%.
TRANSPORTES E ALIMENTOS
Em 2023, o maior impacto foi exercido pelo grupo Transportes, cujos custos tiveram alta acumulada de 7,14%, depois de um recuo de 1,29% no ano anterior. Somente a gasolina subiu 12,09% no ano passado, dando a maior contribuição individual para o resultado geral, sob o impacto da reoneração dos tributos federais e de alterações nas cobranças do ICMS.
Já o grupo de Alimentação e bebidas, que tem o maior peso no IPCA, subiu 1,03% no ano, desacelerando com força de uma alta de 11,64% em 2022. O resultado, segundo o IBGE, deve-se à queda nos preços da alimentação no domicílio (-0,52%), com deflação do óleo de soja (-28,00%), do frango em pedaços (-10,12%) e das carnes (-9,37%).
"O grupo de produtos alimentícios ficou abaixo do resultado geral e ajudou a segurar o índice de 2023. A queda na alimentação no domicílio reflete as safras boas e a redução nos preços das principais commodities no mercado internacional, como a soja e o milho”, disse André Almeida, gerente do IPCA.
Mas foram exatamente os alimentos que pesaram no bolso do consumidor em dezembro ao acelerarem a alta a 1,11%, de 0,63% em novembro.
Com o aumento nos preços da batata-inglesa (19,09%), do feijão-carioca (13,79%), do arroz (5,81%) e das frutas (3,37%), a alimentação no domicílio subiu 1,34%, de acordo com o IBGE.
"O aumento da temperatura e o maior volume de chuvas em diversas regiões do país influenciaram a produção dos alimentos, principalmente dos in natura”, explicou o gerente do IPCA.
No grupo dos transportes, que teve avanço de 0,48% no mês, as passagens aéreas tiveram alta de 8,87%, representando o maior impacto individual sobre a inflação de dezembro. Por outro lado, todos os combustíveis pesquisados tiveram deflação -- óleo diesel (-1,96%), etanol (-1,24%), gasolina (-0,34%) e gás veicular (-0,21%), --levando o grupo a registrar recuo de 0,50% no mês.
A inflação de serviços, que o BC segue acompanhando de perto diante de um mercado de trabalho aquecido, desacelerou a 0,60% em dezembro, de 0,70% em novembro, e terminou o ano com alta acumulada de 6,22%.
No último mês do ano passado, o índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, subiu a 65%, de 52% em novembro.
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