Conflitos se agravam, mas comércio do agro do BR com Israel e Palestina não deve ser afetado
A escalada do conflito entre Israel e o grupo Hamas acontece de forma muito agressiva e rápida, com a guerra entrando em seu quarto dia com o saldo de mortos passando de 1600 nesta terça-feira (10). Os efeitos do atual momento continuam a ser monitorados, um balanço mais profundo continua sendo feito, inclusive sobre os mercados e as relações comerciais.
No petróleo, por exemplo, depois da disparada da sessão anterior de mais de 4%, uma leve correção é registrada, com baixas de pouco mais de 0,2% tanto no WTI, quanto no brent. Ao mesmo tempo, o dólar index cedia 0,3% para chegar a 105.549 pontos. No Brasil, a moeda americana cedia mais de 1% para voltar aos R$ 5,07.
"O movimento de forte depreciação da moeda norte-americana no Brasil segue o exterior, aonde o dólar também registra perdas significativas frente às divisas de países emergentes", explica o time da Agrinvest Commodities. "Assim como ocorrera ontem, o pano de fundo para a perda do valor do valor ddo dólar está na fala de membros do Federal Reserve".
Assim, o cenário que já era delicado, incerto e nebuloso - boa parte em função do atual momento da economia norte-americana bastante fragilizada - ficou ainda mais com as últimas notícias que chegam do Oriente Médio.
COMÉRCIO BRASIL X ISRAEL
Para o agronegócio brasileiro, há sinais de alerta tanto do setor como importador - em especial, de fertilizantes - como de exportador em termos de volumes e receita. O país é um parceiro comercial importante do Brasil e as atenções começam na logística e se estendem até a questão financeira, passando por negócios efetivos dado o estado oficial de guerra já declarado pelo premiê israelense, Benjamin Netanyahu.
"O confronto entre Israel e o grupo extremista Hamas não deve gerar impactos para o comércio agrícola entre Brasil e Israel. O principal efeito é indireto em virtude de o preço do petróleo poder subir ainda mais e refletir no custo de produção de fertilizantes, energia, diesel (em virtude da paridade de importação do petróleo) e dos fretes marítimos", explica o analista de mercado e sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo.
O executivo explica também que "no curto prazo, não haveria riscos quanto à disponibilidade de fertilizantes israelenses para a agricultura brasileira e nem efeitos nos embarques de produtos do agronegócio brasileiro a Israel".
Neste momento, afinal, o Brasil possui estoques de fertilizantes e não há problemas de abastecimento no momento presente. Do mesmo modo, ainda segundo Cogo, o país não deverá registrar interrupção das exportações de carnes, soja, e milho para Israel.
Um levantamento da Cogo Inteligência em Agronegócio mostra que, somente em 2022, as exportações brasileiras para Israel somaram US$ 727,4 milhões, em especial entre carnes, soja, milho, trigo, itens florestais, café e lácteos. Entre as
Entre as importações do ano passado, além de fertilizantes, sementes e defensivos também estiveram na lista, com um valor de US$ 1,454 bilhão. 9% do Cloreto de Potássio e 115 do DAP, em 2022, vieram de Israel. "O Brasil tem estoques de fertilizantes e não há problemas de abastecimento no momento", afirma Cogo.
Em suas redes sociais, o presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) também destacou as relações comerciais. "O mercado consumidor de Israel é um dos principais destinos do agronegócio brasileiro no Oriente Médio. Entre janeiro e agosto de 2023, por exemplo, o país comprou US$ 337 milhões em mercadorias do setor. Essa cifra coloca Israel como o sexto maior comprador do agronegócio brasileiro na região do Oriente Médio", afirma Pedro Lupion. "De acordo com os dados do governo federal, o Brasil mantém relações comerciais com 15 nações da região. A lista oficial inclui a Palestina, que aparece na 13ª posição, com R$ 20 milhões".
A consultoria também levantou os números do comércio do Brasil com a Palestina no ano passado e aponta que as importações deste país de produtos brasileiro somaram US$ 29,9, com carnes, cacau e outros itens alimentícios no topo da lista.
AGRAVAMENTOS
Enquanto esta matéria é produzida, os conflitos se intensificam no que já é noite de quarta-feira no Oriente Médio, em territórios israelense e palestino. Por isso, os especialistas reafirmam que os impactos para o agronegócio podem se intensificar, mesmo que mais a frente. O conflito já tem quase 80 anos, passa por um novo mau e agressivo momento, e pode apresentar mais surpresas desagradáveis. Por volta das 15h15 (horário de Brasília), novos ataques aéres israelenses, por exemplo, atingiam a Faixa de Gaza.
"Uma disparada do petróleo pode influenciar no custo de produção dos fertilizantes. Os custos de produção para a safra de verão 2023/2024 estão praticamente fechados. Porém, ainda estão em aberto os custos de produção para a 2ª safra de milho de 2024, em que há forte peso dos nitrogenados (ureia) e pode interferir na já desestimulada intenção de plantio por parte dos produtores brasileiros. Antes do início do confronto, os preços da ureia já vinham em alta. A ureia foi o nitrogenado que mais subiu em setembro, com alta acumulada de 15% no mês, atingindo a cotação de US$ 400 por tonelada CFR (cost and freight), enquanto os segmentos de fosfatados e potássicos seguem com cotações praticamente estáveis", explica Carlos Cogo.
Para o agronegócio, para mais mercados e setores, além da geopolítica, outra preocupação crescente é o ingresso de outros países no conflito e sua escalada podendo acontecer de forma mais rápida. O Irã e o Egito são as duas nações mais citadas neste momento.
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"Os países árabes são importantes destinos das exportações agropecuárias brasileiras e estão próximos a Israel. É uma região que produz muito petróleo, portanto, se escalar mais ainda, vai refletir nos custos da energia. Como o Brasil é um País “neutro” no confronto, não deve sofrer com embargos, mas caso a região entre em conflito haveria riscos logísticos, sobretudo com os
compradores árabes", conclui Cogo.
O especialista explica também que preocupa a reação internacional à guerra. "Vale lembrar que a geopolítica do Oriente Médio é marcada por conflitos árabes-israelenses desde o fim da década de 1940, com a fundação do Estado de Israel pela ONU. Os dois principais aspectos que será preciso estar atento acerca do conflito Israel x Hamas são a duração e a intensidade. Caso tenhamos um conflito que se estenda por
um longo período, podemos ver preços de algumas commodities subindo de patamar".
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