Conflito entre Hamas e Israel podem causar severos impactos ao agro global, mas ainda sendo avaliados
Além das notícias que já inundavam as manchetes dos noticiário sobre o fragilizado cenário econômico global, as últimas do final de semana sobre a guerra entre Israel e o Hamas deixaram os mercados ainda mais nervosos ea aversão ao risco ainda mais latente. Somente nesta segunda-feira (9), o petróleo - um dos mercados que mais sentiu com os últimos acontecimentos - disparou mais de 4%, levando o barril do brent - reflexo do quadro global de oferta e demanda - aos US$ 88,00. O gás natural chegou a testar mais de 15% de alta na Europa e foi levando mais commodities na carona.
As incertezas se multiplicaram e deixaram os investidores ainda mais cautelosos. Do pouco que se sabe, o consenso continua sendo de que o dólar deverá manter seu caminho de alta e as commodities poderão ficar mais sensíveis e vulneráveis. Todavia, no petróleo, por exemplo, o sinal inverso se deu pelas preocupações não só com a oferta, mas com a logística também para esta que é um das mais negociadas commodities do mundo.
"Qualquer aumento de tensão no Médio Oriente normalmente leva a um aumento nos preços do petróleo e desta vez não é diferente", disse para a agência de notícias Reuters Tamas Varga, analista da corretora petrolífera PVM.
Outro ponto de atenção fica ainda pelo alerta sobre a proximidade do Hamas com o Irã, e o presidente do país já estava em trativa e conversas com o chefe do grupo Islâmico-Palestino. "Se o conflito envolver o Irã... até 3% do abastecimento global de petróleo estará em risco. E se ocorrer um conflito mais amplo que acabe por afetar o trânsito através do Estreito de Ormuz, cerca de 20% do abastecimento global de petróleo poderá ficar refém ", disse o analista de energia Saul Kavonic à Reuters.
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Neste terceiro dia de guerra, o saldo de mortos passa de 1600, com o Hamas trazendo a informação de que estaria aberto a negociar um cessar-fogo com Israel, já "tendo alcançado seus objetivos". De outro lado, o o braço armado do grupo, Al Qassam, informou que caso novos bombardeios a "casas inocentes na Faixa de Gaza aconteçam, serão respondidos com a execução pública de um refém. “As execuções serão de reféns, civis, não militares, e serão transmitidas online".
O conflito é antigo, tem bases territorial e religiosa, e pode rapidamente se escalar, agredindo ainda mais os mercados, afirmam os especialistas. "O final de semana de conflito trouxe, mais uma vez, o sentimento de busca por proteção para os investidores e, neste cenário, quem ganha é o dólar e o ouro. O dólar registrou ganhos frente à grande maioria das moedas, em especial de países desenvolvidos. Contra as emergentes, a valorização é menor dado o movimento de alta do petróleo", explicam os analistas de mercado da Agrinvest Commodities.
Complementando a análise, a diretora de investismentos da UBS Global Wealth Management, Solita Marcelli, afirmou à Bloomberg que, "neste contexto, continuamos a preferir a renda fixa às ações. Vemos um melhor perfil de risco-recompensa para a renda fixa e recomendamos que os investidores considerem a compra de títulos de alta qualidade na faixa de vencimento de 5 a 10 anos. Prevemos um maior arrefecimento da inflação e um crescimento global mais lento".
Afinal, apesar do conflito Israel x Hamas ter dominado o noticiário nesta segunda-feira, as preocupações com o quadro fiscal norte-americano e toda a sensível condição da economia mundial não saíram do horizonte dos agentes do mercado. Desta forma, apesar da disparada do petróleo - em um mercado já muito sensível às notícias que chegam do Oriente Médio por natureza - a preocupação com dólar em alta e, consequentemente, commodities em queda, continua.
"Com o que está acontecendo nos Estados Unidos, na China e na Europa não tem como vermos as commodities subirem. Além de termos um dólar em alta", afirma o consultor em agronegócios, Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios. "E ainda temos dificuldade no controle da inflação. O mundo não cresce, o poder de compra fica comprometido, o consumo fica comprometido, a expectativa piora e envenena os mercados. Não seria surpresa vermos o petróleo nos US$ 100 o barril e o dólar se mantendo acima dos R$ 5,00", complementa.
A volatilidade também não deverá se dissipar. Nesta primeira sessão da semana, o dólar frente ao real testou os dois lados da tabela e vai caminhando para encerrar o dia, ainda assim, nos R$ 5,14.
MERCADO DE GRÃOS
Se uma guerra já muito ruim, duas são terríveis e pesam severamente sobre o preço dos alimentos. Os futuros do trigo negociados na Bolsa de Chicago fecharam o pregão desta segunda-feira em alta, com ganhos de até 1,06%, como foi o caso do julho/24, para US$ 6,40 por bushel. "A valorização do trigo, que acaba puxando também o milho na carona, é reflexo das tensões geopolíticas tanto no Oriente Médio, quanto no Mar Negro", explica a Agrinvest.
Entre os futuros do milho, o sinal foi revertido e o cereal não conseguiu sustentar os ganhos. Assim, o dia terminou com baixas de até 0,76%, como dezembro fechando os negócios com US$ 4,88 e o março com US$ 5,03 por bushel.
MERCADO DE FERTILIZANTES
Se os sinais se intensificaram para os grãos, para as commodities de uma forma geral e para o financeiro, para o mercado de fertilizantes soaram ainda fortes. Porém, Jeferson Souza, analista do mercado de fertilizantes da Agrinvest, é direto sobre os impactos sentidos até este momento. "Nada até agora". Porém, as preocupações são bastante legítimas, uma vez que Israel é um dos principais fornecedores de fertilizantes para o Brasil.
Os israelenses são o segundo maior fornecedores de Super Simples e o quarto de Cloreto de Potássio. Além disso, "há ainda uma questão ligada a outros países, como o envolvimento do Irã e, se isso poderia trazer impactos para as cotações dos nitrogenados, por exemplo", detalha Souza. O gás natural subiu forte nesta segunda, pode continuar nesta toada, porém, dificilmente pode causar um impacto muito agressivo sobre os preços ainda nesta semana.
Sobre a relação com o petróleo, o especialista reforça a atenção para os valores dos fretes marítimos, que podem subir e promover uma alta nos custos das importações.
"Temos, por enquanto, problemas que são indiretos. E temos que acompanhar o que vai acontecer", conclui.
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