Precificando uma recessão, mercado de commodities tem despencada generalizada nesta 3ª feira
O dia 5 de julho, terça-feira, é mais um dia marcado por uma despencada no mercado de commodities. Agrícolas, metálicas e energéticas amargam baixas muito agressivas, lideradas pelo petróleo que recuava mais de 9%, tendo perdido US$ 10,00 por barril no WTI, que voltou a operar abaixo dos US$ 100,00. Além das commodities, índices acionários também despencaram.
"Este é um mercado de recessão. Não há outra maneira de descrevê-lo", afirmou à agência internacional de notícias BLoomberg, o chefe de economia da Renaissance Macro Research, Neil Dutta. O executivo destaca ainda o recuo dos rendimentos do tesouro e a disparada do dólar. O index subia 1,53%, enquanto o comercial frente ao real tinha ganho de 1,36%, alcançando os R$ 5,40 nesta sessão.
O foco do mercado financeiro global, embora pulverizado entre outros vetores mundo a fora, está sob a economia norte-americana e à grande probabilidade de uma recessão. Embora o cenário da recessão ainda não esteja definitiva e completamente estabelecido, o mercado há algumas semanas já vem precificando o quadro, com os investidores se desfazendo - no chamado efeito manada - de suas posições em ativos mais sensíveis, como as commodities, e migrando para outros mais seguros, como o dólar.
"Não estamos em um quadro de recessão agora, mas os mercados têm um 'mecanismo de descontos' e, acredito, já esperando que este cenário esteja próximo. Avançamos na precificação deste quadro, porém, acho que ainda não chegamos lá", diz Dutta. O economista ainda chama a atenção para as próximas medidas que serão adotadas pelo Federal Reserve, principalmente nas ações em que ainda deverá continuar adotando para buscar controlar a inflação, que é as mais alta desde a década de 1980 nos Estados Unidos.
Frente a todo este quadro, que ainda segundo ele, carrega muita incerteza e nebulosisidade, a volatilidade de todos os mercados deverá seguir se mostrando cada vez mais latente. Afinal, será desafiador entender em que período este cenário de recessão pode ser estabelecido, principalmente diante do fato da economia norte-americana, mesmo que trancos e barrancos, estar ainda criando novas vagas de emprego.
Projeções do modelo Bloomberg Economics mostrou que as chances de uma recessão nos EUA são agora, aproximadamente, de uma em três. O sentimento do consumidro marcou uma baixa recorde e as taxas de juros subiram. Ou seja, a probilidade agora é de que a recessão se estabelece nos próximos 12 meses é de 38%.
"O risco de uma recessão auto-realizável – e que pode acontecer já no início do próximo ano – é maior do que antes. Embora os balanços das famílias e das empresas sejam fortes, as preocupações com o futuro podem fazer com que os consumidores recuem, o que, por sua vez, levaria as empresas a contratar e investir menos", disse Anna Wong, economista-chefe da Bloomberg Economics. "O risco de uma recessão no início de 2023 aumentou substancialmente", completa.
O modelo da agência internacional mostrou ainda que a força do processo inflacionário pesou agressivamente sobre a confiança do consumidor, que têm - como em todos os outros cantos do planeta - seu poder de compra corroído, atigindo, consequentemente, o coração da demanda por matérias-primas, ajudando na pressão substancial sobre os preços das commodities.
Ao observar a tela dos futuros na tarde desta terça-feira, as baixas entre as princpais commodities agrícolas variavam de 1,44% a 8,4%. Na Bolsa de Chicago, perdas de 7,10% na soja; 6,6% no milho; 8,3% no trigo, 8,02% no óleo de soja e 3,4% no farelo. Na Bolsa de Nova York, o café arábica cedia 1,71%; o açúcar 1,44%; o algodão 4,10%. Para as commodities energéticas, peda de 9,5% no petróleo WTI; 10,26% no brent - ainda acima dos US$ 100,00 - 7,10% no g´s natural. Entre as metálicas, 2,01% no ouro; 2,95% na prata e 4,4% no cobre.
No mesmo momento, "o dólar sobe para seu mais forte patamar em mais de dois anos, deixando as commodities precificadas nesta moeda menos atrativas", explicam os especialistas ouvidos pela Bloomberg.
"Os futuros do óleo de soja estão travados no limite de baixa, com os oito primeiros contratos sendo negociados com estas perdas. Os futuros do óleo na CBOT acumulam queda de mais de 30% em relação às máximas atingidas no final de abril. A queda do petróleo de quase 10% e a queda de mais de 45% do óleo de palma em relação ao pico do ano são os motivos desse selloff", explica o time da Agrinvest Commodities. "Investidores estão precificando recessão, cenário em que as commodities tendem a perder valor".
Leia mais:
Para o consultor em agronegócios Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios, a atenção se redobra para o movimento e o caminhar dos preços das commodities com uma interferência tão intensa como esta do macrocenário. Ao lado destes vetores, fundamentos importantes ainda precisam ser considerados para as principais agrícolas.
"A soja precisa ser produzida. E vamos terminar a safra 2021/22 com estoques bem apertados nos Estados Unidos", lembra o consultor. "Não consigo ver esse corte da demanda diante de uma crise de alimentos que estamos passando no mundo. Então, a demanda não me preocupa tanto e eu imagino que, sobre isso, logo vamos encontrar um ponto de equilíbrio".
Diante das perdas generalizadas entre bolsas, índices acionários, títulos do tesouro e, principalmente, as commodities - agrícolas, metálicas e energéticas - e a dispara do dólar, é a confirmação do "movimento completamente financeiro" e afirma ainda que, mesmo que os cortes de demanda se efetivem diante dos quadros de recessão, "a demanda por alimentos deverá ser a última a ser cortada", explica o consultor.
0 comentário
Soja e milho em Chicago têm mais uma sessão de alta enquanto açúcar em NY consolida perda de quase 6% na semana
Agro e Prosa Episódio 914 - Como atingir máxima produtividades
Carta para o Papai Noel: Pedidos do Agro para 2025 | Ouça o Agro CNA/Senar #153
Prosa Agro Itaú BBA | Agro Semanal | Mercados de soja e açúcar e o planto de rastreabilidade da pecuária nacional
Safra 24/25 do Paraná pode chegar a 25,3 milhões de toneladas de grãos
As perspectivas para o agro em 2025, rumo à COP do Brasil