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Diversificação de forrageiras no Semiárido aumenta a produtividade e a resiliência à seca

Publicado em 12/04/2022 09:43 e atualizado em 13/04/2022 09:49

Pesquisa desenvolvida pela Embrapa em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com experimentos nos nove estados da Região Nordeste e na região norte de Minas Gerais, evidenciou benefícios de se diversificar a oferta de plantas forrageiras no Semiárido brasileiro. O projeto Forrageiras para o Semiárido, ao longo de três anos de atividade, mostrou resultados de produtividade e resiliência de espécies forrageiras testadas em 12 diferentes unidades de referência tecnológica (URTs).

No projeto, foram testadas 26 espécies, entre gramíneas perenes, gramíneas anuais, cactáceas e lenhosas. Entre as gramíneas perenes, os capins Buffel Aridus, Massai e BRS Tamani apresentaram melhor desempenho médio, com produtividade variando entre 15 e 20 toneladas de matéria seca por hectare a cada ano e resistência para formação de pastos. 

Entre as gramíneas anuais, usadas para compor reserva alimentar em forma de silagem, o sorgo BRS Ponta Negra produziu forragem para encher dois silos de 40 toneladas, em unidades onde a precipitação média foi de 600 mm anuais – uma silagem suficiente para ser fornecida a um rebanho de sete vacas durante 180 dias. O milheto BRS 1501, por sua vez, teve bom desempenho em condições ainda mais adversas: em regiões com precipitações anuais abaixo de 400 mm, ele chegou a produzir 18 toneladas de massa verde, reserva capaz de alimentar um rebanho de 33 cabras durante 180 dias.

Nas espécies lenhosas, usadas para compor bancos de proteína, leucena e gliricídia tiveram produtividade de 3 toneladas de matéria seca por ano. Já nas cactáceas, além de boa produtividade, os experimentos mostraram capacidade de resiliência: 99% dos materiais testados sobreviveram a condições adversas no Semiárido durante os três anos de projeto. 

De acordo com a pesquisadora Ana Clara Cavalcante, chefe-geral da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE), todos esses indicadores são muito positivos, especialmente porque foram obtidos em condições de sequeiro – em locais com precipitação acumulada média menor que 600 mm por ano e onde as plantas forrageiras contam somente com água das chuvas como recurso hídrico – semelhantes à realidade da maioria dos produtores rurais no Semiárido brasileiro.

“Essa resposta tem essa magnitude porque foi utilizada tecnologia em práticas que permitem manter mais água de chuva no solo e na planta. A implantação de espécies lenhosas fez uso de hidrogel (quando adicionado às mudas, serve como uma reserva de água em períodos de estiagem). Para cactáceas, tivemos o uso de técnica de plantio em camaleão, que evita o contato direto da planta com a água e, ao mesmo tempo, permite o acúmulo de água no solo entre as linhas de palma”, destaca a pesquisadora.

Ingrediente-surpresa no cardápio: espécies lenhosas são fontes de proteína

Para além dos bons resultados de produtividade, os experimentos evidenciam a vantagem para os produtores rurais de diversificarem o uso de espécies em suas propriedades, mesclando plantas forrageiras para formação de pasto, reserva alimentar e silagem nos períodos de estiagem que, no Semiárido brasileiro, podem durar de seis a oito meses ao ano. Essa é a estratégia do chamado cardápio forrageiro, que combina diferentes plantas, de modo a aproveitar ao máximo o recurso hídrico para armazenamento em forma de forragem para os diversos usos pelos rebanhos e otimizar o uso da área disponível na propriedade para a produção de forragem.

Ana Clara ressalta que a estratégia de diversificação das plantas forrageiras nas propriedades é importante por garantir uma oferta de forragem mais estável ao longo do ano, evitando riscos de sazonalidade por conta da irregularidade das chuvas. Outra vantagem é reduzir o risco de perda de recursos alimentares por pragas e doenças, o que tem mais chances de acontecer nos monocultivos.

“O cardápio forrageiro possui plantas que mantêm a qualidade da forragem no campo, sem necessidade de colheita, como é o caso da palma. Outro ingrediente, o cultivo de gramíneas anuais em sequeiro, permite guardar água de chuva na forma de forragem como silagem, que não tem prazo de validade. Por fim, a base de produção está no pasto, nativo e cultivado, sendo esse último incrementado por espécies produtivas e adaptadas que têm poder de aumentar em até cinco vezes a oferta de forragem. O ingrediente-surpresa do cardápio são as espécies lenhosas que podem ser fonte de proteína, de sombra e até melhorar a qualidade do solo”, destaca.

Segundo a assessora técnica do Instituto CNA, Ana Carolina Mera, a experiência do projeto trouxe lições sobre o uso da diversidade de plantas forrageiras para minimizar os riscos das secas para os produtores rurais. “Estudar diferentes espécies de plantas forrageiras, considerando suas especificidades, e combiná-las de forma estratégica é fundamental para garantir o desenvolvimento sustentável da pecuária no Semiárido”, afirma ela.

Forrageiras adaptadas a realidades locais

Os experimentos nas 12 unidades de referência tecnológicas evidenciaram que é necessário observar com atenção as realidades locais, pois o Semiárido brasileiro não é homogêneo, apresentando diversidade de condições ambientais em suas regiões. “As espécies avaliadas, materiais provenientes dos programas de melhoramento vegetal da Embrapa e de parceiros, foram testadas em diversos ambientes e comprovaram que determinadas características genéticas se manifestam melhor em condições específicas de solo e precipitação”, frisa a pesquisadora.

Com os trabalhos nas URTs, é possível indicar forrageiras mais adaptadas a realidades locais para implementação nas propriedades rurais, como alternativas para compor o cardápio forrageiro. Na URT em Tenório (PB), os testes indicaram bons resultados para espécies como o sorgo Ponta Negra (foto abaixo, 15,6 toneladas de matéria seca MS/hectare/ano), o capim BRS Piatã (18,6 toneladas MS/hectare/ano) e a cactácea Orelha de Elefante Mexicana (26,6 toneladas MS/hectare/ano).

“São resultados muito significativos. É perfeitamente possível alcançar produtividades até maiores. Nas visitas feitas à URT, em dias de campo ou a partir de lives, os produtores começaram a ver a importância da diversidade de plantas na propriedade, pois, com planejamento, obedecendo as janelas de plantio, e observando as culturas mais resistentes é perfeitamente possível ter várias opções de forragens na propriedade”, avalia Humberto Gonçalves, licenciado em Ciências Agrárias e técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural da Paraíba (Senar/PB) que acompanhou os trabalhos na URT. 

Já na URT de Montes Claros (MG), região do Semiárido mineiro, tiveram destaque, em termos de produtividade, o sorgo BRS 658 (24 toneladas de MS/hectare/ano), o capim Andropogon (10 toneladas MS/hectare/ano) e também a Orelha de Elefante Mexicana (19 toneladas MS/hectare/ano). Segundo a engenheira agrônoma Inez Silva, técnica do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Administração Regional de Minas Gerais (Senar/MG) que acompanhou os experimentos, são indicadores positivos para uma região com chuvas escassas e mal distribuídas, com longos períodos de estiagem e altas temperaturas. Esse desempenho traz, segundo ela, boas opções para a diversificação da oferta de forragem em âmbito local.

“A diversificação de forrageiras ajuda a minimizar os riscos. Com o melhor aproveitamento de cada grupo de plantas, cujas potencialidades se somam e permitem a autonomia dos produtores no processo de produção do alimento, conseguimos uma contribuição mais relevante para viabilizar a pecuária em qualquer sistema de produção do Semiárido, independentemente do tamanho da propriedade”, afirma Inez.

Com a palavra, os produtores

Ao longo dos três anos de projeto, produtores rurais do Semiárido brasileiro, ao visitar as URTs e acompanhar as experiências, passaram a introduzir a proposta do cardápio forrageiro em suas propriedades, sob acompanhamento de extensionistas do projeto. Vinícius Leite, criador de ovinos, suínos e aves da zona rural de Riacho das Almas (PE), conheceu o projeto Forrageiras para o Semiárido a partir de informações do portal da Embrapa e visitou a URT em São João (PE). A partir do contato, promoveu mudanças no manejo e inseriu novas culturas em sua propriedade.

“Comecei a tratar a palma forrageira como uma cultura, melhorando o seu manejo, implementei o Massai e montei um banco de proteínas, com gliricídia e leucena. A palma melhorou consideravelmente a sua produção, o capim Massai teve uma excelente rebrota e serviu como forrageira num sistema de piquetes e as leguminosas foram a suplementação necessária de proteínas”, destaca ele.

Em Sumé (PB), o produtor rural Luciano Sousa já produzia para reserva alimentar, com silagem à base de sorgo, palha de milho e cana que garante fornecimento para seu rebanho de cabras e vacas leiteiras durante o período seco. Mas a introdução da moringa e da gliricídia foi uma novidade recente, a partir do contato com equipe da Embrapa. “Aqui a gente conhecia bem a leucena, mas a gliricídia e a moringa são excelentes. Com elas, reduzi a necessidade de comprar alimento concentrado. A produtividade é muito boa. Você faz um corte agora, daqui a 15 dias já tem material novamente”, ressalta Luciano.

Cooperação para continuidade das ações

Para a continuidade do projeto Forrageiras para o Semiárido nos próximos três anos, foi firmada uma cooperação técnica entre a Embrapa e a CNA que iniciou em novembro de 2021 uma nova fase, com futura participação de animais em novas URTs. Lá, está sendo estudada a capacidade de resiliência de plantas forrageiras sob condições de pastejo de ovinos, bovinos de corte e novilhas de leite.

Nas URT’s da primeira fase do projeto, já instaladas, será iniciada uma nova etapa de estudos onde serão inseridos materiais inéditos para avaliação. Essas forrageiras serão selecionadas pelas equipes da Embrapa e técnicos do Senar/CNA. Também nessa segunda fase do projeto, as opções do cardápio forrageiro serão incluídas em um módulo do aplicativo Orçamento Forrageiro, para ajudar os produtores do Semiárido na escolha das espécies mais adequadas às suas condições climáticas.

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Fonte:
Embrapa

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