Brasil atrai 90% dos investimentos em Agtechs na América Latina
O Brasil está na vanguarda da digitalização do agronegócio e o aumento dos investimentos em Agtechs, startups que oferecem soluções inovadoras e tecnológicas para todas as etapas da cadeia produtiva do campo. O número de startups do agro apresentou crescimento de 40%, entre 2019 e 2021, passando de 1.124 para 1.574, segundo o estudo Radar Agtech, realizado pela empresa de consultoria e pesquisa Homo Ludens Research & Consulting, em parceria com a Embrapa e o fundo de investimento em soluções de tecnologia para agricultura e alimentos em toda a América Latina, SP Ventures. Somente em 2020, esse tipo de iniciativa atraiu investimentos da ordem de US$ 70 milhões, frente aos US$ 165 milhões captados desde 2009, de acordo com dados da plataforma de inovação Distrito.
Por meio do Programa de Internacionalização de Startups, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) tem ajudado as empresas do setor não só a ampliar a captação de recursos, mas a estabelecer operações no exterior, garantindo maior relevância ao ecossistema brasileiro. Em 2021, mais de 14.500 empresas participaram das iniciativas promovidas pela Agência, que apoia cerca de 1.600 empresas do agro, o que confere um amplo know-how para o setor, tanto para startups como para companhias já consolidadas de diversos portes.
Neste ano, a agenda de oportunidades para o setor do agronegócio tem início em fevereiro, quando a ApexBrasil organizará mais duas edições do Agritalks, nos dias 9, em Londres, e 23, em Dubai. A iniciativa consiste em uma série de debates com a participação de porta-vozes de alto nível brasileiros e estrangeiros, como ministros, representantes de câmaras de comércio, influenciadores e CEOs. Nos Emirados Árabes Unidos (EAU), o evento ocorre durante a semana temática “Comida, agricultura e meios de vida” da Expo 2020 Dubai, potencializando o alcance devido à visibilidade do megaevento. Ainda nos EAU, nos dias 14 e 15 de fevereiro, a ApexBrasil garante a presença de 67 empresas brasileiras na 25ª edição da maior feira B2B da indústria de alimentos e bebidas, a Gulfood. A Agência prevê um total de US$ 415 milhões em negócios fechados in loco e nos 12 meses subsequentes.
Uma das agtechs beneficiadas com apoio da ApexBrasil é a Raks, que produz sistemas inteligentes para o controle das irrigações, diminuindo o uso de recursos hídricos e elétricos nas plantações. Em 2021, por meio da ApexBrasil, a Raks participou da Gitex Future Stars, em Dubai, um dos maiores eventos de inovação empresarial e governamental do mundo, que reúne compradores de mercados ávidos por tecnologia, como o Oriente Médio, o Norte da África e a Ásia. De acordo com a CEO e co-fundadora da startup, Fabiane Kuhn, a capacitação os ajudou a ter maior assertividade e qualidade em suas apresentações e pitchs durante o evento.
O retorno foi certo: a Raks foi a única empresa brasileira selecionada para a final do Supernova, um concurso realizado com as participantes da Gitex, com premiações em diversas categorias. Ao todo, eram mais de 500 startups inscritas, das quais 120 foram selecionadas para a semifinal e apenas 22 escolhidas para a grande final. “O apoio prestado pela Apex foi ótimo, nos permitiu conhecer um novo mercado, com novas regras e comportamentos, além de nos possibilitar grandes avanços no pitch da Raks. Durante o evento, também iniciamos as negociações de um projeto no Egito, que visa atuar em mais de um milhão de hectares agrícolas”, comenta ela.
Outro case de sucesso é a Krilltechs, que já participou de várias atividades com a ApexBrasil, incluindo a Gitex 2021, e a WebSummit, realizada em Lisboa, também no ano passado. A empresa produz o Arbolin Biogenesis, produto derivado do princípio ativo arbolina, que acelera o metabolismo vegetal, aumenta a fotossíntese e absorção de nutrientes, com ganhos de produtividade e da qualidade nutricional dos cultivos. Por ser uma nanotecnologia que atua diretamente na planta, por aspersão, o produto se adequa a qualquer ambiente e não necessita de adaptações para mercados externos. Além dos Emirados Árabes Unidos (EAU), a empresa também está em negociação com compradores no Egito, Sudão, Irã e na Armênia.
Segundo o CEO da empresa, Diego Stone, a participação na Gitex, também facilitou a interação com o Hub 71, um polo de inovação em Abu Dhabi, que oferece diversos benefícios para as participantes. “Além da alta do dólar, que faz com que o mercado externo seja bem promissor, nós oferecemos uma tecnologia que é disruptiva não só no Brasil, mas em todo o mundo e, por isso, queremos agilizar o nosso processo de internacionalização, de modo que mais pessoas tenham acesso aos nossos produtos”, comenta. A tecnologia é tão inovadora, que a Krilltech venceu a final global da competição Private Enterprise Tech Innovator, da auditoria internacional KPMG, que reuniu iniciativas de 17 países das mais diversas áreas.
Internacionalização
Com o apoio de agências de promoção internacional, como a ApexBrasil, e iniciativas de governos, fundos de investimento e empresas para a promoção de soluções tecnológicas, inovadoras e sustentáveis, o processo de internacionalização das agtechs tende a ser simplificado. Segundo Fabiane Kuhn, para uma empresa expandir os negócios externos, o mais importante é se conectar com o mercado local do outro país, entendendo o perfil de comportamento do público e as características regionais do setor. “Um passo importante é buscar uma rede de apoio que possa ajudar a empresa a acelerar a curva de aprendizado e de entrada no novo mercado, a partir das experiências já mapeadas, para que tenha um softlanding (aterrisagem suave)”, conclui.
Softwares, aplicativos e sistemas, como o da Raks, por exemplo, podem ser adaptados com maior facilidade, muitas vezes, necessitando apenas de uma atualização de idioma. Já o processo para produtos, como os da Krilltech, pode ser mais elaborado, devido à necessidade de licenças e adequação às medidas sanitárias do país ou região. Segundo a coordenadora de Expansão Internacional da ApexBrasil, Karina Regina Vieira Bazuchi, “a agência está preparada para auxiliar as agtechs a levar suas soluções para outros mercados, ainda que seja preciso adaptá-las. Aproveitando a participação do Brasil na Expo 2020 Dubai, no Distrito da Sustentabilidade, a Apex-Brasil traz, para 2022, o objeto de consolidar a reputação do Brasil e de toda a cadeia do agro como referência em segurança alimentar e produção sustentável”, destaca.
Tecnologia sustentável
Segundo o sócio da Homo Ludens Research & Consulting e co-coordenador do Radar Agtech Brasil, Luiz Ojima Sakuda, as Agtechs brasileiras também ajudam a consolidar a imagem de um agronegócio mais moderno e sustentável nos outros países. “Apresentamos o Radar Agtech Brasil 2019 em um evento da Plug and Play China realizado com a ApexBrasil, na qual algumas agtechs brasileiras fizeram pitches para investidores chineses. Também teremos uma edição em mandarim do Radar Agtech Brasil 2020/2021", conta.
Estudo da consultoria McKinsey mostra que o agricultor brasileiro é um dos que, em média, mais utiliza recursos digitais para as suas transações. Entre 2019 e 2020, o percentual de agricultores que utilizam algum meio digital em seus negócios subiu de 36% para 46%, bem à frente de norte-americanos e europeus, com 31% e 22%, respectivamente. E pode-se dizer que tecnologia é, praticamente, sinônimo de sustentabilidade. Segundo Diego, da Krilltech, essa já não é mais uma escolha e, sim, uma necessidade. “As soluções precisam ser sustentáveis. É uma característica básica do mercado e boa parte dos investidores apostam na lógica das cleantechs, ou seja, investir em tecnologias ecologicamente corretas, verdes e limpas”, afirma.
A Raks também aposta na sustentabilidade. No final de 2021, foi uma das 78 empresas escolhidas pela Innovation Latam e pela Fundação Dom Cabral para receber o Selo lmpact 2021. A avaliação reconhece os negócios que promovem soluções em acordo com os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). O sistema desenvolvido pela empresa contribui diretamente para os objetivos de fome zero, de consumo e produção responsáveis e de combate às alterações climáticas. “As certificações de sustentabilidade estão ajudando a abrir as portas para as exportações da empresa para a América Latina, Estados Unidos e para o Oriente Médio”, comenta Fabiane.
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