Farsul, Embrapa e ABPA avançam na discussão do projeto de desenvolvimento da agropecuária gaúcha
O projeto para desenvolvimento da agropecuária gaúcha, uma parceria entre o sistema Farsul (Farsul, Senar-RS e Casa Rural), Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e Embrapa, deu mais um passo na manhã desta quarta-feira (24/03) para sua efetivação. Em reunião virtual que agregou diversas organizações do agro gaúcho, como cooperativas, instituições de representação, empresas públicas de pesquisa e assistência técnica e da iniciativa privada, foram discutidas e apresentadas tecnologias para solucionar o problema que deu origem ao projeto: a escassez da oferta de milho para a indústria de proteína animal, obrigando a importação do produto e, consequentemente, aumentando os custos de produção. Em 2020 a defasagem entre a produção e o consumo de milho no RS foi próxima a 2,15 milhões de toneladas, com as importações do grão correspondendo, caso fosse cultivado no Estado, a uma área próxima a 380 mil hectares.
Essas soluções, apresentadas por quatro Unidades da Embrapa – Clima Temperado (Pelotas, RS), Pecuária Sul (Bagé, RS), Suínos e Aves (Concórdia, SC) e Trigo (Passo Fundo, RS) – vão desde a produção e oportunidades no uso de grãos alternativos ao milho, como cereais de inverno, e a potencialização de cereais de verão, como o próprio milho e arroz, até a integração sustentável da pecuária com lavouras e a intensificação da produção de forrageiras.
O objetivo do projeto Duas Safras é ajudar no crescimento e desenvolvimento econômico do Rio Grande do Sul, a partir da produção agrícola em duas safras e a sincronização entre produção agrícola e pecuária, de modo que o RS volte a crescer, no mínimo, às taxas médias do país em produção de proteína animal. “O desafio é não suprimir ou excluir qualquer grão, mas sim potencializar”, ponderou o presidente do Sistema Farsul, Gedeão Pereira.
O Rio Grande do Sul possui particularidades climáticas e geográficas dentro do seu próprio território, com potencialidades específicas da metade Sul, que historicamente tem foco na pecuária de corte, arroz irrigado e recentemente a soja, e da metade Norte, com destaque para as lavouras de grãos. No entanto, a safra está focada basicamente no verão, com potencial ainda a ser explorado no inverno. A metade Sul apresenta outra particularidade. Considerada uma nova fronteira agrícola, conta com forte expansão da cultura da soja, que começa a subtrair rapidamente os hectares da pecuária de corte, e por isso a necessidade de integração sustentável das atividades.
Confira algumas das propostas apresentadas como alternativas iniciais já disponíveis para atender os objetivos do projeto:
Cereais de inverno na produção de proteína animal
O analista da Embrapa Trigo, Giovani Faé, apresentou alternativas para o Estado chegar nas duas safras anuais de grãos, trabalhando com sistemas de produção complementares no inverno e verão. “O inverno é a maior fronteira agrícola do Rio Grande do Sul. Apenas 17% das áreas com cultivo de soja são utilizadas para produzir grãos no inverno. Precisamos equilibrar essa proporção”, afirma Faé. Com foco em substituir o milho na indústria de proteína animal, Faé apresentou os resultados de pesquisas que avaliam o uso de cereais de inverno na alimentação de suínos, aves e bovinos.
“Pesquisadores da Embrapa Trigo e da Embrapa Suínos e Aves já estabeleceram indicadores agronômicos, econômicos e nutricionais em cereais como trigo, triticale e cevada, que foram disponibilizados ao setor produtivo e agroindustrial”, explicou ele, destacando que já estão previstos novos lançamentos em cultivares desenvolvidas para atender essa demanda de mercado. “Para manter a competitividade da produção de suínos e aves na Região Sul é preciso buscar alternativas de alimento e o RS tem espaço para produzir grãos com o melhor aproveitamento do inverno”, avalia a chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves, Janice Zanella.
Intensificação Sustentável da Pecuária
O pesquisador e supervisor do Setor de Gestão de Transferência de Tecnologia da Embrapa Pecuária Sul, Daniel Montardo, apresentou alternativas para intensificação sustentável da pecuária. O objetivo principal da proposta é avançar no aumento da capacidade de suporte e produtividade das pastagens, principalmente no período de verão, quando há o cultivo da soja. As ações foram divididas em quatro eixos: rotação de pastos de verão (anuais e perenes) com lavouras de verão; intensificação da produção forrageira dos sistemas pecuários; recuperação de áreas degradadas, principalmente, pelo capim-annoni; e planejamento forrageiro para ter pasto todo o ano, em sistemas integrados ou somente pecuários. Nesse contexto, diversas tecnologias já estão disponíveis, como, por exemplo, cultivares forrageiras adaptadas e produtivas, Método Integrado de Recuperação de Pastagens, aprimoramento dos sistemas de ILP e ILPF, e Pasto sobre Pasto, que trata do aumento da diversidade de plantas forrageiras de ciclos de produção diferentes em uma mesma área. “Temos as tecnologias, sabemos que isso funciona. Precisamos organizar as ações e amplificar isso para o Estado através dessa parceria”, ponderou Montardo.
Terras baixas
O pesquisador da Embrapa Clima Temperado Giovani Theisen destacou três tecnologias, focadas em terras baixas, que podem contribuir no contexto da demanda por milho. Inicialmente, citou o uso do arroz para a alimentação animal, aspecto que tem a vantagem de já se contar com o sistema de produção disponível; também apresentou o sistema sulco-camalhão, método de irrigação e drenagem que tem mostrado excelentes resultados, com alta produtividade, bom custo/benefício e área disponível para expansão; e por fim, o sistema de camalhões de base larga, que é um método simples e barato de drenagem, bem adaptado à integração lavoura-pecuária e ao plantio direto. O pesquisador ainda destacou algumas tecnologias transversais, que várias Unidades têm atuado e podem agir em conjunto nesse momento, como no caso dos sistemas de produção integrados, no manejo de pragas e na oferta do portifólio de forrageiras da Embrapa. “Aliado a isso, temos que pensar em treinamento, divulgações, e parcerias para amplificação dessas tecnologias”, disse.
Pela Embrapa, participaram da reunião, também, os chefes-gerais Fernando Flores Cardoso (Embrapa Pecuária Sul), Janice Zanella (Embrapa Suínos e Aves), Osvaldo Vasconcellos Vieira (Embrapa Trigo) e Roberto Pedroso (Embrapa Clima Temperado), além de outros representantes do corpo técnico das Unidades.
Ação
No encontro, ficaram elencados quatro temas a serem trabalhados dentro da ideia de respeitar as características geográficas e climáticas do Rio Grande do Sul: cereais de inverno, Integração Lavoura Pecuária, cereais de verão e qualidade dos grãos. Cada temática será trabalhada individualmente por um grupo formado por técnicos e pesquisadores dos participantes ao longo do mês do abril. O presidente do Sistema Farsul, Gedeão Pereira, reforçou que acredita no programa. “Quando tivermos todos os elementos na mão a ideia é utilizar fortemente o Senar-RS e Sindicatos Rurais na divulgação e qualificação. Não é um programa para este inverno. É só um começo, é um projeto para muitos anos. Um programa de curto, médio e longo prazo”, afirma.
Apoio do Senar e Sindicatos Rurais
O representante do Senar/RS, Eduardo Condorelli, já dispôs a instituição para assistência técnica e suporte à disseminação das informações do projeto aos produtores rurais gaúchos. “No que tange à possibilidade de passar esse conhecimento já acumulado pela Embrapa, a gente tem sim condições de multiplicar essas informações ao produtor na medida que nossos profissionais possam ser orientados”, disse. Os sindicatos rurais também devem ser estratégicos para a transferência das tecnologias.
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