Alta das Commodities: "Toda retomada econômica começa pelo setor alimentício", diz especialista
Embora a sexta-feira (26) esteja sendo de correção de preços e realizações de lucros em quase todos os ativos, depois de uma semana de bastante volatilidade, as commodities - do petróleo aos grãos e soft commodities - registram suas máximas desde 2013. O super ciclo de altas vem ganhando cada vez mais intensidade e é alimentado, principalmente, por uma retomada importante do consumo em diversos setores.
O Bloomberg Commodity Spot Index, índice que mede o desempenho de 23 matérias-primas, subiu 1,6% na última segunda-feira e registrou sua máxima em oito anos. Em março do ano passado marcou sua mínima em quatro anos e, de lá pra cá, já acumula um ganho superior a 60%.
Os fundamentos de oferta e demanda ganharam muita força nos últimos meses - entre as commodities agrícolas mais ainda durante a pandemia -, dando espaço a uma aposta forte e consistente dos fundos investidores. As posições compradas marcaram suas máximas em mais de uma década motivadas também pelos inúmeros estímulos que a situação inesperada do coronavírus impôs à economia global.
"Os fundos de hedge acumularam o que se tornou a maior aposta altista na classe de ativos em pelo menos uma década, uma aposta coletiva de que o estímulo do governo mais taxas de juros próximas a zero irão alimentar a demanda, gerar inflação e enfraquecer ainda mais o dólar, enquanto a economia se recupera da pandemia", resumem os especialistas ouvidos pela agência internacional de notícias.
Entre o caminho feito pelas commodities nos últimos meses, o petróleo se destaca.
PETRÓLEO X COMMODITIES AGRÍCOLAS
"Imagino que nem o melhor consultor da área de energia conseguiria imaginar um petróleo brent batendo os US$ 67,00 por barril enquanto estamos recém começando a vacinação (contra a Covid-19) em nível global. É uma recuperação muito forte mesmo. Todos diziam que ao longo de 2021 o petróleo recuperaria patamares entre US$ 50 e US$ 60 o barril, mas o ano já largou nesse patamar, avançou e quase já alcançou os US$ 70. Isso influencia tudo, puxa biocombustíveis como etanol de milho, biodiesel de soja, etanol de cana, açúcar, é um efeito em cadeia", explica Carlos Cogo, diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio.
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Cogo reforça o fato de que a movimentação do petróleo impacta não só diretamente em muitas commodities - como o complexo dos grãos, açúcar, algodão e biocombustíveis - como indiretamente em tantas outras, além de chegar ainda ao mercado de insumos e na cadeia logística, promovendo altas nos fertilizantes e fretes marítimos, por exemplo.
Mais do que isso, as altas do petróleo refletem também em importações maiores de alimentos por parte de países que têm suas economias diretamente ligadas ao mercado desta commodity.
"Tanto é verdade isso que uma das coisas que mais afetou as exportações de frango do Brasil em 2020 foi a queda dos preços do petróleo. Um dos piores desempenhos do agronegócio brasileiro no ano passado foi na carne de frango, porque dependia do Oriente Médio, da Liga Árabe e, consequentemente, dos preços do petróleo", diz.
O petróleo brent, negociado na Bolsa de Londres e que reflete melhor o mercado físico, ainda segundo Cogo, registrou suas mínimas em meados de abril, quando foi a US$ 18,00 por barril, no pico da pandemia. Mas, quando iniciou sua recuperação veio forte e rápida, sinalizando não só a melhora no mercado de commodities, mas da economia global de uma forma geral, que começa a dar sinais de uma retomada de fôlego depois de meses de um sufocamento severo promovida pelo coronavírus e seus inúmeros prejuízos de todas as naturezas.
"E isso já chegou refletindo um aumento das compras de alimentos por todos esses grandes importadores África, Oriente Médio, Japão, China, todo Sudeste Asiático, Índia. Uma coisa é importante: toda retomada econômica começa pelo setor alimentício", afirma o consultor e analista de mercado.
Nesta semana, os futuros do açúcar renovaram suas máximas em quase quatro anos, motivados não só por uma expressiva retomada da demanda, como por problemas logísticos no Brasil.
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"O gargalo estaria na questão rodoviária, com engarrafamento de caminhões, e alguma fila de navios nos portos brasileiros, mas tudo dentro de uma normalidade, nada que vá fazer com que o preço tenha uma volatilidade extrema que não está tendo agora", disse ao Notícias Agrícolas Maurício Muruci, analista da Safras & Mercado.
Oscilação do principal vencimento do açúcar na Bolsa de Nova York nos últimos cinco anos
Imagem: Barchart
"Profissionais que realmente ignoraram as commodities por um bom tempo estão começando a se posicionar e esse movimento pode durar, e se dá muito mais em função das expectativas de escassez", disse Bart Melek, chefe de estratégia de commodities da TD Securities à Bloomberg.
COMPLEXO GRÃOS
Entre os grãos, o destaque se dá entre a soja e o milho, ambos que carregam cenários de oferta menor do que o consumo, com ofertas já virtualmente esgotadas para a atual temporada. A China lidera as importações da oleaginosa, vem ganhando cada vez mais espaço no mercado internacional do cereal, adquirindo volumes recordes nos últimos meses - principalmente no mercado norte-americano - e tende a seguir ampliando suas compras.
"Hoje a produção mundial não é suficiente para atender toda a demanda", afirma Liones Severo, diretor do SIMConsult em entrevista ao Notícias Agrícolas.
A nova safra dos Estados Unidos deve começar a ser semeada na próxima semana e já começa com severos alertas climáticos, entre eles o frio extremo e o tempo seco em regiões importantes de produção, e não será suficiente, mesmo com o aumento de área, para equilibrar a relação de oferta e demanda. O fator é, portanto, mais um componente de suporte para os futuros dos grãos.
"A perspectiva para o próximo ano é ter estoques ainda menores do que os desse ano, e preços ainda maiores. O mundo cada vez mais aumenta o consumo e é uma amplitude de escassez que eu jamais assisti na minha vida", relata Severo. "Esse é o quinto ano para o milho que a produção mundial é menor do que o consumo, A China não tem o estoque que os americanos afirmam (...) Então, não tem milho, não tem soja, trigo tem apenas estoques razoáveis. E a soja é única, por isso que todo mundo quer comprar. O índice das commodities está subindo violentamente", completa.
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SUPERCICLO DAS COMMODITIES
Desde meados de 2020, os analistas e consultores ouvidos pelo Notícias Agrícolas já vinham alertando sobre esse superciclo das commodities, em especial para as agrícolas, e as condições vêm se confirmando. Na sequência, importantes instituições internacionais como o JPMorgan e o Goldman Sachs vieram ratificando esse quadro.
“As megatendências que vemos ocorrendo em torno do crescimento populacional global, a temática da eletrificação e a transição energética, tudo isso é um bom presságio para a demanda de commodities no médio a longo prazo”, Mike Henry, CEO da mineração gigante BHP Group também à Bloomberg, acrescentando outros fatores às análises que se focam nos fundamentos de oferta e demanda para commodities agrícolas.
Na análise de Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, movimentos de curto prazo de correções e reajustes - como o que foi registrado nesta sexta-feira (26), de aversão ao risco, deverão ainda ser registrados, mas a continuidade das altas entre as commodities permanece. A atenção, entretanto, deve se voltar às medidas tomadas pelas principais economias mundo afora.
"Um dos pontos são as taxas de juros norte-americanas, ou as expectativas crescendo da China retirar seus estímulos. Lembrando que na China, no acumulado de 12 meses até janeiro, a expansão foi recorde, chegou a 35 trilhões de yuans, ou US$ 5,4 trilhões, nada mais, nada menos, que três vezes o PIB brasileiro. Isso bombou a economia chinesa. E se a China retira esse excesso estímulo, podemos sentir o baque nas commodities mais a frente. Dentro de uma tendência de longo prazo de alta, pode ser um movimento de curto prazo de queda", diz o analista de mercado.
Veja sua entrevista ao Notícias Agrícolas na íntegra nesta sexta-feira:
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