Incêndios que atingem o Pantanal já queimaram 380 mil hectares em Poconé e Barão de Melgaço
Seca acentuada, baixa umidade do ar e ventos fortes colaboram para o pior cenário dos últimos 22 anos no Pantanal, conforme o Instituto Centro Vida (ICV). Dos 380 mil hectares atingidos pelos incêndios que avançam no Pantanal mato-grossense, 47 mil se referem à área da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN Sesc Pantanal), o que representa 12,3% do total. Os outros 87,7% são a somatória de áreas como a Aldeia Indígena Perigara, fazendas localizadas no Distrito de São Pedro de Joselândia, na região da Estrada-parque Porto Cercado e Transpantaneira. As fazendas São Francisco, São José, Tutu, Cambará, Santa Tereza, Santa Elvira, Paraíso e Beleza estão entre as atingidas.
O fogo que entrou na RPPN Sesc Pantanal, a maior do país com 108 mil hectares, localizada em Barão de Melgaço, teve início em área vizinha na divisa norte, no dia 2 de agosto. Desde o início, toda a estrutura de combate aos incêndios da reserva foi acionada para evitar a entrada desse foco na RPPN, inclusive com apoio às comunidades no entorno com brigadistas, pá carregadeira e caminhões pipa. Mas, a intensidade do fogo, fortes ventos e altas temperatura dispersaram o fogo em uma extensa área da unidade de conservação em direção à divisa sul da reserva. Ao chegar na divisa sul, o fogo encontrou com outro incêndio que ocorria na Fazenda São Francisco do Perigara, desde o dia 30 de julho. O fogo que atingiu a fazenda teve início no dia 28 de julho, na Terra Indígena Perigara, vizinha da Fazenda e da RPPN Sesc Pantanal.
A aldeia foi o ponto da primeira ação da Operação Pantanal 2, em andamento desde o dia 7 de agosto. Mais de 100 pessoas acessam as áreas para prevenção e combate por terra, água e ar. De acordo com o coronel Gledson Bezerra, do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso, comandante da operação, já são quase duas semanas de operação buscando a contenção dessa região. “Boa parte do que fizemos em termos de controle só foi possível por conta da grande mobilização do Sesc Pantanal”, ressalta.
Até o momento, o fogo que entrou na RPPN tem sido combatido e não avançou seus limites, estando distante cerca de 100 km do ponto em que teve início os incêndios na Transpantaneira, outro ponto de referência da operação. O coronel afirma que não há um único incêndio no Pantanal, são centenas de focos, por isso há várias frentes que já colhem bons resultados, como a redução de linhas de fogo e áreas queimadas na região da Estrada-Parque Porto Cercado.
“Conseguimos preservar, numa infiltração emergencial, mais de 23 mil hectares da RPPN, bem como proteger a casa de um pantaneiro que vive há 79 anos na região. Esses são alguns exemplos de bons resultados que temos nesses dias de operação. Não tenho dúvida que eles representam a importância da união de esforços do poder público e da iniciativa privada”, completa coronel Gledson.
Dados do Ibama/Prevfogo indicam que 98% dos incêndios têm origem em ações humanas, acidentais ou criminosas. De acordo com o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, o Estado irá responsabilizar duramente quem, por má-fé, causou incêndios no Pantanal. O Estado detém a tecnologia do Sistema Planet, que permite acompanhar em tempo real incêndios ocorridos em solo mato-grossense.
Neste momento, a operação se prepara para ter uma base na região do Pixaim, na Transpantaneira. “Identificamos uma dificuldade de logística por conta das distâncias que o maquinário precisa percorrer. Um caminhão pipa chegou a quebrar numa ponte. Os produtores locais estão engajados nos combates”, ressalta o coronel, que também destaca as dificuldades de acesso às áreas na região e o apoio da comunidade local.
“O acesso é difícil e a própria diversidade do bioma dificulta a ação. Para ter efetividade no combate é importante que os aviões estejam próximos dos incêndios e esse é outro ponto. Poucas pistas na Transpantaneira dão condições para as aeronaves pousarem de maneira segura, por isso, estamos tentando melhorar uma pista e colocar os aviões numa condição operativa”, conclui Gledson Bezerra.
Maior planície alagável do mundo, o Pantanal está localizado nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que totalizam 15 milhões de hectares, dos quais, 1.750 milhão já foram atingidos pelo fogo. A operação teve início em Mato Grosso do Sul, em 24 de julho, após o estado decretar emergência ambiental no Pantanal sul-mato-grossense por 180 dias.
Com a significativa redução dos focos neste estado, as ações foram estendidas à porção norte do Pantanal, em Mato Grosso, que corresponde a um terço do bioma. De acordo com o mapeamento realizado por satélites, atualmente grande parte dos pontos de queimadas está concentrada na região de Poconé, Barão de Melgaço e uma área em Porto Jofre, na fronteira dos dois estados.
Operação Pantanal II
A Operação Pantanal II está instalada no Parque Sesc Baía das Pedras, unidade do Polo Socioambiental Sesc Pantanal, e é realizada pelo Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional Nacional (Ciman), Batalhão de Emergências Ambientais do Corpo de Bombeiros Militar do Mato Grosso, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Marinha do Brasil, Força Aérea Brasileira, Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Polo Socioambiental Sesc Pantanal e apoio da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Entre os recursos empregados na operação estão o Super Cougar (UH-15) da Marinha do Brasil, o Black Hawk (H-60) da FAB, duas aeronaves Air Tractor do Corpo de Bombeiros, aeronave do Sesc Pantanal, camionetes, vans, caminhões pipas, quadriciclos, abafadores, bombas costais, sopradores e Unidade de Resgate Móvel.
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