‘É o campo que paga a conta das importações urbanas’, afirma Xico Graziano
O agronegócio respondeu por 45,2% das exportações brasileiras em março de 2018. Vendeu mais e importou menos. Resultado: a balança comercial do agro registrou um saldo mensal, positivo, de US$ 7,79 bilhões. Sensacional.
É o campo que paga a conta das importações urbanas. Em 2017, no ano todo, o superavit agrícola trouxe US$ 81,9 bilhões do exterior. Sem as divisas geradas pelo agro, a indústria e o comércio estariam capengas, mais do que se encontram. Nessa crise econômica, é a força da agricultura que segura o país em pé. No interior, então, nem se fala.
Cinco setores se destacaram, representando 84,4% das exportações de origem rural neste mês de março: complexo soja (grãos, farelo e óleo), com 44,3%; carnes (bovina, aves e suína), com 14,8%; produtos florestais (madeira, celulose e papel), com 13,9%; complexo sucroalcooleiro (açúcar e etanol), com 7,0%; e café, com 4,5%.
Existe uma “esquerda” atrasada que gosta de atacar o agronegócio nacional. Uma das suas críticas diz que o nosso modelo de produção favorece os grandes produtores, privilegia o mercado externo e se esquece do abastecimento popular. Pura bobagem.
Vamos aos números. Na soja, 45% dos grãos colhidos segue para fora, sendo 55% processado internamente. Esmagado, o grão da oleaginosa fornece o óleo de cozinha utilizado na maioria dos lares. A classe rica consome óleo de girassol, de canola e que tais. Os mais pobres vão de óleo de soja na panela. Bom e barato.
Do farelo de soja resultante no processamento, a maior parte vira ração animal, servida no cocho das nossas granjas avícolas e suínas. Os brasileiros não comeriam frango assado nem linguiça de porco sem o farelo de soja. E tem gente politizada que acha que soja serve somente para exportação.
Na carne bovina, as exportações representam apenas 20% do total da boiada abatida, ou seja, 80% da carne de vaca, ou de boi, serve aos brasileiros; no frango, apenas 33% é exportado e, nos suínos, somente 18%. Risco zero para a segurança alimentar.
No passado não muito distante, aí sim havia enorme risco no abastecimento do país. Hoje, as importações agrícolas mantêm-se sistematicamente baixas. Nossa maior conta, neste março de 2018, adveio da compra de pescado, salmão chileno, principalmente. Foram adquiridos US$ 142,72 milhões, quase o dobro do valor gasto com as importações de trigo (US$ 87,73 milhões). Quem diria.
A realidade mostra que o modelo capitalista e tecnológico que impera no agro superou o clássico dilema, típico da antiga economia agrário-exportadora, batizada de “latifundiária”, entre exportar ou abastecer o povo. Hoje atende-se, simultaneamente, aos dois mercados, global e nacional. Um puxa o outro.
Pouco importa, também, nessa equação virtuosa, o tamanho da terra. Os produtores familiares de soja no Paraná, com área até 100 hectares, representam a maioria. Eles mantêm alto nível tecnológico e, consequentemente, excelente produtividade tanto quanto os grandes fazendeiros do Mato Grosso. Qual o segredo? O cooperativismo, essa solução maravilhosa que aglutina os pequenos, fornecendo-os assistência técnica, comercializando sua safra. Pequenos, juntos, tornam-se fortes e competitivos.
Erra feio quem analisa o agro brasileiro com as teorias, ou as ideologias, do passado. O modelo tropical de agronegócio ajudou a vencer a fome secular do povo brasileiro. E o nosso agricultor passou agora, orgulhosamente, a ser peça-chave no combate à miséria rincões afora.
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