Temer, o presidente que veio da roça (reportagem especial de VEJA)
Quem olha para a imagem elegante do homem de 1,70 metro de altura e 75 anos que acabou de assumir a Presidência da República não imagina que ele veio da roça. Na infância, bem mirradinho, Michel Miguel Elias Temer Lulia mantinha uma vida simples. Acordava com as galinhas, tomava café às pressas e percorria a pé os dois quilômetros que separam a chácara em que morava da escola pública Plínio Rodrigues de Moraes, onde cursou em meados da década de 1940 o equivalente ao ensino fundamental, na zona rural do município de Tietê, interior de São Paulo. A estrada era de chão batido e empoeirada. No trajeto, atravessava o cafezal que dava sustento à família de dez pessoas. No meio do caminho, encontrava-se com o amigo James Milanelo. Seguiam na maior galhofa. Só não havia algazarra quando tinham de enfrentar a temida professora de Matemática, Ossin José, mais conhecida na região como dona Linda. O nome doce não combinava em nada com a postura poderosa da mestra, que não tolerava conversa fiada em sala de aula. Ensinava sob o mais absoluto silêncio. Se alguém desse um pio, ela encarava o infrator com um olhar fulminante e perguntava em tom enfático: "Posso continuar?". "Ai de quem ousasse a responder", lembra Milanelo, hoje com 75 anos.
Passadas sessenta primaveras desde que saiu de Tietê, Michel Temer não esqueceu a professora, nem o amigo de infância. Muito menos a chácara que servia de cenário para a vida bucólica do passado. Todas as vezes que vai à cidade natal, mesmo depois de exercer a vice-presidência e andar cercado de seguranças, Temer corre para dar um abraço no velho amigo e trocar algumas horas de prosa. "Sempre falo para ele: 'Michel, você está velho e rico; casado com uma mulher linda e é pai de um garotinho. Larga esse negócio de ser presidente e vai curtir o resto da sua vida'. Ele ri e não me obedece", conta Milanelo, às gargalhadas. A professora chega a se emocionar quando fala do ex-aluno ilustre. Pelas suas lembranças, Temer era um aluno aplicado, apesar de ter certa dificuldade em fazer contas mais complexas. Sentava na primeira cadeira, bem perto do quadro de giz, lugar disputado por quem queria aprender. Quando Temer ocupou pela primeira vez o Palácio do Jaburu, em 2010, Linda enviou a ele uma carta escrita à mão, desejando boa sorte e pedindo que olhasse pelos professores aposentados. Hoje, ela não consegue esconder um fiapo de revolta por ter dado aula para uma criança que se tornou presidente da República e receber ao final do mês só 1 800 reais de aposentadoria. Doente, ela gasta 800 reais com uma acompanhante noturna e mais 600 com uma empregada. Sobram 400 reais para as demais despesas. "Agora ele assumiu o lugar da Dilma. Será que ele me consegue um aumento?", pergunta Linda, de 91 anos.
Filho de imigrantes libaneses que desembarcaram no Brasil em 1930 para beneficiar arroz e café, Temer é o caçula de oito irmãos. O terceiro, chamado Fued, já falecido, era doze anos mais velho e despertava nele um combinado de admiração e inveja branca. Formado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Fued já morava em São Paulo. Todas as vezes que visitava a família no interior, chegava em casa esbanjando refinamento. Era culto, usava ternos muito bem cortados, gravatas italianas e abotoaduras cintilantes, o que dava a ele um ar soberano sobre os irmãos. A elegância da roupa era potencializada por uma postura ereta, gestos contidos e fala suave, bem pausada, limpa do sotaque marcante do interior paulista, que carrega na pronúncia dos erres. Temer ficava tão encantado com toda aquela formalidade que fez de Fued o seu espelho. Aos 19 anos, já estava matriculado na mesma universidade que o irmão frequentou. Sem ter onde ficar na capital paulista, foi morar na casa do estudante, dividindo quarto com Homar Cais, hoje ex-presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região; Ralph Tórtima, que se tornaria um renomado criminalista. No mesmo cômodo, morava o advogado Luiz Chinaglia.
Certa vez, Cais, Temer e Tórtima resolveram pregar uma peça de gosto duvidoso no roommate. Chinaglia havia chegado ao quarto com uma arma de fogo carregada, que levaria para o pai no fim de semana seguinte, na cidade de Araçatuba. Cais pegou o revólver e atirou três vezes contra um livro de capa dura, dentro do banheiro. A atitude deixou Chinaglia nervoso, despertando risos nos colegas. Foi aí que o trio combinou a pegadinha. Eles trocaram a munição de verdade por balas de festim e esconderam uma pequena bexiga com líquido vermelho sob a roupa de Tórtima. Em seguida, simularam uma discussão por causa da música que tocava no volume máximo no rádio, incomodando quem queria estudar. Cais pegou a arma e se atracou com o amigo, representando uma luta corporal. No clímax da encenação, houve um disparo, ensopando a camisa de Tórtima com o sangue falso. Temer fingia estar apavorado, enquanto Chinaglia, assustado, saiu correndo pelos corredores da casa do estudante vestindo apenas uma cueca, anunciando o suposto assassinato. "Até hoje contamos essa história e damos muita risada", diz Tórtima.
Não eram só brincadeiras inconsequentes que levavam emoção à vida dos estudantes da Faculdade de Direito. Assim que pisou no pátio da instituição, em 1959, Temer descobriu que o local respirava política. Entre os estudantes, quem não pertencia ao Partido Acadêmico Renovador (PAR), com perfil mais de esquerda, estava no Partido Acadêmico Independente (PAI), com tendência de centro. Temer se filiou à segunda agremiação e concorreu à presidência do Centro Acadêmico, em 1962. Fazia campanha já defendendo independência na atuação dos advogados públicos e autonomia das universidades. A eleição ocorria em 11 de agosto, data de fundação da São Francisco - e que batiza o centro acadêmico. Temer se lançou com o lema "o destino do onze está em suas mãos". No final dos discursos, apontava o braço para frente para mostrar à plateia o M desenhando pelas linhas da palma da mão, que dizia ser de Michel. A criatividade não rendeu muitos votos e o seu adversário, Oscarlino Marçal, venceu o pleito.
No mesmo pátio em que de discutia política, também se falava de amor. Temer era considerado pelos amigos um galanteador nato. Como gostava de poesia e já incorporava aos poucos o traço cortês do irmão Fued, ele seduzia as meninas mais pela lábia do que pela beleza. Com essa estratégia, conquistou Maria Isabel, uma aluna bela e bastante popular na faculdade. Após alguns meses de namoro, noivou. Mas nem todos os amigos levaram muito a sério o status do casal, que vivia grudado. Tinham muita afinidade, mas ninguém acreditava que seria eterno. Quando ela se formou, foi morar nos Estados Unidos e Temer ficou solteiro novamente. Passou a investir mais na carreira para só depois pensar em casamento.
Com o diploma de advogado em mãos, Temer montou um escritório em sociedade com os amigos Celso Bandeira de Mello, Dalmo Dallari e Geraldo Nogueira, na década de 1960. Começou a ganhar dinheiro com causas genéricas - naquela época ainda não era comum os advogados atuarem em ramos específicos. Paralelamente, foi professor universitário, procurador-geral e depois secretário de Segurança de São Paulo. Filiou-se ao PMDB e se elegeu deputado federal por três mandatos, além de presidente do partido.
À medida que evoluía na vida pública, Temer assemelhava-se cada vez mais com o irmão Fued. Ele também conseguiu disfarçar o sotaque de caipira e passou a usar ternos clássicos feitos com exclusividade em uma alfaiataria de alta costura, em São Paulo. O traje completo custa entre 9 000 e 12 000 reais, mas o preço de algumas peças que ele encomenda cai pela metade porque Temer costuma levar os tecidos. Ele tem preferência por fios inglês e italiano, como o loro piana, nas cores azul marinho e cinza, que geralmente traz de viagens internacionais. "Justamente por ser de alto padrão, os seus ternos estão sempre bem passados, sem qualquer vinco, mesmo no final do expediente", diz o alfaiate Carlos Lopes.
Temer também é vaidoso com o cabelo, que está constantemente penteado para trás e fixado com gel moderador, o que passa a impressão que ele acabou de sair do banho a qualquer hora do dia. Ele corta as madeixas há 30 anos no salão do Jassa, em São Paulo, o mesmo cabeleireiro do cantor Ronnie Von e do apresentador Sílvio Santos. Para manter um certo ar jovial, faz reflexo masculino platinado no mesmo salão. No início do ano passado, Temer foi submetido a uma cirurgia para transplante de cabelos com o médico Milton Peruzzo, o mesmo que corrigiu as falhas capilares no tucano Aécio Neves. O peemedebista tirou fios das laterais e implantou na parte superior da cabeça. A pele é tratada pela dermatologista Ligia Kogos, que cobra 780 reais pela consulta. Segundo ela, o presidente tem uma pela muito boa e nunca fez aplicação de botox. "Ele náo é muito chegado a cremes e sai do meu consultório só com uma receita de vitamina C", entrega.
Sem nunca ter feito aulas de etiqueta, Temer virou referência em boas maneiras. Quando se senta, costuma cruzar as pernas e repousar as mãos sobrepostas ao joelho. A voz, que já era mansa, ficou aveludada. A postura excessivamente formal fez os marqueteiros classificarem o político de "esfinge acadêmica". "Como figura pública, ele parece opaco de tão fechado e sombrio", diz um ex-assessor. Temer já tinha algumas camadas de verniz, em 1964, quando foi trabalhar como oficial de gabinete de José Carlos de Ataliba Nogueira (PSD), que comandava a Secretaria de Educação do estado de São Paulo. Lá, conheceu a primeira mulher, Maria Célia, com quem teve as filhas Luciana, de 46 anos; Maristela, 43; e Clarissa, 41. Em seguida, casou-se com Neuza e não teve filhos. Namorou ainda a jornalista Erica Ferraz, em Brasília, na época que era deputado federal, e teve Eduardo, de 17 anos. Atualmente, está casado com Marcela, 42 anos mais jovem que ele, com quem teve Michelzinho, de 7 anos.
A projeção na vida pública cristalizou a sua maior característica: a de autoridade cerimoniosa, cada vez mais desprovida de calor humano. Quando divulgava o seu livro de poesias, Anônima Intimidade, em 2012, Temer fez uma revelação curiosa. Disse que resolveu publicar os escritos tão íntimos depois que o amigo Gaudêncio Torquato o convenceu de que era uma boa oportunidade para mostrar à população que ele não era uma criatura metálica, sem emoções. A publicação vendeu apenas 2 000 exemplares na primeira edição e a mácula de homem de lata continua até hoje. "Muita gente fala que Michel é um homem frio. Mas quem o conhece de perto sabe que, na verdade, ele permanece aquele garotinho excessivamente tímido que vivia lá no interior. É isso que fez dele um homem com excesso de reservas. Quando éramos criança e chegava visita lá em casa, ele corria para se esconder", revela o único irmão vivo, Adib Temer.
O mesmo manto que cobre a vida privada de Michel Temer se estende às filhas e ex-mulheres. A única que exerce função pública é Luciana Temer, secretária de Ação Social do petista Fernando Haddad, prefeito de São Paulo. Ela reitera a imagem de homem formal que o pai mantém até mesmo dentro de casa. As filhas, que nunca viram Temer usando chinelo de dedo, eram repreendidas quando falavam qualquer tipo de palavrão ou expressões chulas dentro de casa, até mesmo as mais brandas, como "ai que saco!". Luciana afirma que o pai sempre foi um homem simples, generoso e muito apegado à família. Quando as filhas eram crianças, por exemplo, ele as levava em um corcel laranja de São Paulo para Tietê, para a mesma chácara onde passou a infância. No trajeto de quase duas horas, recitava poemas, como O Navio Negreiro, de Castro Alves. De tanto ouvir repetidamente o clássico da literatura, as meninas chegavam a decorar o poema inteiro. Luciana diz que o pai é tão simples que ele chega a pedir comida pelo telefone no fim de semana, quando está em sua mansão em São Paulo e ir pessoalmente ao portão atender o motoboy, mesmo tendo seguranças ao seu dispor 24 horas por dia.
Vem de Gilda Sanchez, secretária de Temer há 51 anos, exemplos de como o novo presidente da República é protocolar. Mesmo trabalhando há tanto tempo com ele, nunca ousou entrar em sua sala sem primeiro ligar pedindo permissão, sem bater na porta duas vezes suavemente antes de abri-la e ainda pedir a tradicional licença quando já estiver chegando próximo à sua mesa. O excesso de educação é retribuído. Temer agradece tudo o que se faz e repete a expressão "por favor" como se fosse um mantra. Mas às vezes, dá provas de que tem sangue correndo nas veias. Certa vez, Gilda entregou a ele um ofício datilografado, ele reagiu com rigor. Mas, sem levantar a voz, perguntou: "Quem foi o burro que fez isso?". Gilda respondeu cabisbaixa que foi ela. Envergonhado por constranger a funcionária, ele se desculpou e pediu que refizesse o documento deixando uma margem branca de quatro dedos para cima para que pudesse receber carimbos e três dedos na esquerda, para que o papel pudesse ser furado e arquivado numa pasta classificadora.
Os amigos dizem que três coisas o deixam bastante irritado: incompetência, deselegância e traição. No final do ano passado, quando o governo de Dilma Rousseff acumulava uma sucessão de derrotas na Câmara dos Deputados, Temer estava jantando com amigos em sua casa, em São Paulo. No meio da refeição, o seu telefone tocou. Era Dilma aos berros dizendo que ele não conseguia nem conter o PMDB, que não vinha votando a favor do governo. Os gritos tinham tantos decibéis que todo mundo ouviu. Temer ouviu calado até Dilma bater o telefone na sua cara. Minutos depois, ela ligou de volta pedindo desculpas. Ele não disse que aceitava, nem que não aceitava. Falou apenas a seguinte frase: "Estou acostumado a tratar com vários presidentes da República e nenhum deles nunca falou assim comigo. Não vou mais aceitar esse tipo de descortesia". Desligou e continuou o jantar, que deu origem à famosa carta que Temer enviou à Dilma reclamando que ela o mantinha no governo como um adorno. Com a queda da mandatária, o vice decorativo virou a peça principal da República.
Caos e armadilhas, a herança de Dilma
Por: Robson Bonin e Bianca Alvarenga
No momento em que o ministro Henrique Meirelles anunciava os nomes de sua equipe, na última terça-feira, em Brasília, a economia real expunha uma de suas facetas mais cruéis a uns poucos quilômetros da sede do Ministério da Fazenda. Desde as 6 horas da manhã, jovens, muitos deles com diploma universitário, formavam uma fila quilométrica para candidatar-se a uma vaga de trabalho numa rede de restaurantes. Foram mais de doze horas de espera debaixo de sol, depois de chuva, apenas para entregar um currículo que os habilitaria a um salário que varia de 800 a 1 500 reais, dependendo da qualificação, mais plano de saúde. É um microexemplo da grave situação que o Brasil atravessa. Os jovens são parte de um contingente de 11 milhões de desempregados, vítimas de erros em série na economia, uma dose cavalar de incompetência e muita corrupção nos governos comandados pelo Partido dos Trabalhadores. Na cerimônia, o novo ministro disse que tem pressa. Há realmente muito que fazer e, antes disso, muito a ser desfeito. As primeiras auditorias oficiais mostram que o descontrole e a falta de transparência na governança da presidente afastada Dilma Rousseff não eram lendas criadas pela oposição, mas realidades amargas.
O exemplo mais evidente é o tamanho do rombo previsto para este ano nas contas públicas. Em apenas uma semana de inspeção, o buraco dobrou de tamanho. O governo Dilma pediu autorização ao Congresso para fechar o ano de 2016 com um rombo de 97 bilhões de reais. Esse descompasso assustador está na origem do caos econômico. A situação, porém, é muito pior. Primeiro, o governo estimou o rombo em 160 bilhões de reais (veja a tabela na pág. 53). Na sexta-feira, depois de novo cálculo, o rombo subiu para 170 bilhões de reais. Como se vê, Meirelles e sua equipe terão pela frente um desafio maiúsculo. O ministro já anunciou que pretende sanear as contas enfrentando as resistências a reformas importantes, como a da Previdência. As projeções do próprio governo mostram que, em trinta anos, o rombo do INSS, hoje de 133 bilhões de reais, vai aumentar quase vinte vezes, e deve superar a barreira dos 200 bilhões de reais já em 2020. Se nada for feito, os jovens de hoje, incluindo os 3 000 que disputam o emprego no restaurante em Brasília, poderão ficar sem os benefícios num futuro próximo.
Exemplos de má gestão estão emergindo em praticamente todos os órgãos federais. No Ministério das Relações Exteriores, a dívida ultrapassa os 800 milhões de reais. A conta inclui os repasses aos consulados, a ajuda de custo dos diplomatas (muitos tiveram de contrair dívidas para pagar aluguéis) e os pagamentos de organismos internacionais aos quais o Brasil é associado. Nos ministérios dos Transportes e das Cidades há bilhões de reais em despesas autorizadas sem os recursos em caixa para quitá-las. O governo petista também deixou bombas armadas nas principais empresas estatais. Dá-se como certo entre os analistas do mercado financeiro que as estatais precisarão receber uma injeção de dinheiro público. Do contrário, não terão condições de honrar suas dívidas. A agência de classificação de risco Moody's calcula que será necessário cobrir um rombo monumental, de valor estimado entre 300 bilhões e 600 bilhões de reais. Na semana passada, já como consequência do descontrole, a Bolsa de Valores de Nova York impediu a negociação de ações da Eletrobras. O balanço da estatal é tão nebuloso que a empresa contratada para auditá-lo se recusou a fazê-lo.
Há outros problemas a enfrentar a curtíssimo prazo. Ao perceber que o processo de impeachment era inevitável, Dilma Rousseff resolveu dar uma última contribuição à irresponsabilidade administrativa: demarcou terras indígenas em áreas de conflito, concedeu reajustes salariais impagáveis, nomeou aliados para cargos de confiança, liberou verbas a aliados do governo e anunciou medidas que ela própria sabia carecerem de financiamento. Ministros encontraram a contabilidade quebrada, com milhões de reais em dívidas com fornecedores, obras atrasadas e um emaranhado de nomeações de militantes petistas para cargos de terceiro escalão. "Estamos suspendendo um número absurdo de empenhos e de liberações que foram feitas nas últimas semanas. Há um punhado de nomeações que beiram a irresponsabilidade e uma série de outras coisas", diz o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, que, depois de vasculhar os arquivos da sua pasta, descobriu quase 1 000 cargos de confiança abertos pelo antecessor, o petista Ricardo Berzoini - metade dos quais, segundo ele, ocupada por fantasmas.
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Num espaço de dez dias que antecedeu o seu afastamento, a presidente anunciou o aumento do benefício do programa Bolsa Família, a construção de 11 000 moradias do programa Minha Casa, Minha Vida -Entidades e o reajuste salarial em massa para quase 75 000 servidores. A bandalheira é justificada pelos petistas como uma inteligente estratégia política - forçar os novos ministros a cancelar as medidas generosas e alimentar uma agenda negativa.
O deputado tucano Bruno Araújo teve de desarmar a armadilha. Assumiu o Ministério das Cidades tendo como primeiro ato a suspensão da construção de milhares de moradias populares anunciada - sem previsão orçamentária - por Dilma. No dia seguinte, os movimentos de sem-teto divulgaram protestos contra o governo. A mesma casca de banana foi deixada no caminho do ministro do Planejamento, Romero Jucá. Ele foi obrigado a comunicar a revisão de reajustes salariais concedidos por Dilma. Algumas categorias já planejam greves.
No Ministério da Justiça, Alexandre de Moraes, o novo ministro, assumiu o cargo enfrentando protestos de índios contra a revisão da demarcação de terras realizada pela Funai um dia depois do afastamento de Dilma. As arapucas também se estendem à desapropriação de fazendas para a reforma agrária decretada no apagar das luzes, o que, evidentemente, deu ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) argumentos para acusar o governo de ter se rendido aos latifundiários. As lideranças já organizam protestos e invasões. O amplo pacote de "bondades" também incluiu o reajuste na tabela do imposto de renda, algo que até pode ser considerado justo, mas, neste momento de arrocho, terá o efeito de sugar mais 5 bilhões de reais do combalido Tesouro Nacional. O presidente interino Michel Temer deve apresentar nesta semana a primeira radiografia do governo. Vai denunciar o que ele considera uma operação de sabotagem e anunciar as medidas que serão implementadas para reverter o caos.
A nova equipe econômica terá alguns dos maiores especialistas em finanças públicas do país - e, até recentemente, críticos impiedosos dos descaminhos do governo. Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central na administração Lula, já deixou evidente logo nos primeiros atos que fará uma assepsia nas empresas estatais. Para chefiar a Petrobras, o epicentro do maior escândalo de corrupção da história, o ministro nomeou o economista Pedro Parente, que ocupou o cargo de ministro do Planejamento e depois chefiou a Casa Civil no governo FHC. Ao aceitar o cargo na Petrobras, Parente reforçou a necessidade de uma gestão técnica e disse que não haverá mais indicações políticas para a diretoria da estatal. Foi a exigência do ex-ministro para aceitar o posto. O BNDES, um dos responsáveis pelo rombo nas contas públicas, será comandado por Maria Silvia Bastos Marques, ex-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). A executiva tem experiência em privatizações - e a venda de ativos do setor público, além do indesejado aumento de impostos, é uma das saídas estudadas para levantar recursos e abater a dívida pública.
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dario josé magnani pranchita - PR
O PMDB e o PSDB vão morrer abraçados e deixar o caminho livre para o LULA/MARINA em 2018... Quem mais depende do governo são os que mais vendem voto.
Peço desculpa mas essa ideia nao tem pe' nem cabeça---Se dependem do governo e o governo nao e' mais de Lula e nem da Marina onde esta' a sua logica?
Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR
Quando o Collor foi afastado, achávamos que era um marginal, mas vendo o que essa ex-terrorista está fazendo, fazendo uma comparação: Collor é uma noviça dos internatos religiosos.
PORQUE A DEMOCRACIA "CRIA" CONDIÇÕES PARA UM LULA OU UMA DILMA SE DAR BEM ??? Quando cito esses "dois" estou citando por extensão (Sarney, Collor, Renan, Cunha, Dirceu, Maluf & tantos outros...). Há uma corrente que julga a Democracia, embora venerada em muitos países, é uma: DITADURA DA MAIORIA !!! Em países onde a "sociedade organizada" é manipulada por governos populistas, essa arma é usada como o aríete que remove o "senso comum" e, quando a população se dá conta, os estragos demoram décadas para serem consertados. O BRASIL DEVE PARAR DE SER USADO COMO BALÃO DE ENSAIO DE "NOVOS MILAGRES"!!! VAMOS SER UM POVO CÉTICO & ANTISSÉPTICO !!!Enquanto num país em que os cabos eleitorais vão as casas do eleitor as três horas da madrugada comprar voto e compram nós jamais sairemos dessa situação .....nos primórdios da humanidade ja se dizia ...."todo povo tem o governo que é merece"
Ja' testemunhei cabo eleitoral do PMDB comprar votos----Isso vai depender muito das eleçoes de outubro pois os prefeitos eleitos terao poder de convencer.
Os hábitos da população não são mudados pela força da lei, mas sim pela cultura... AS BOAS LEIS SÃO AQUELAS QUE SÃO CUMPRIDAS !!! Eh! Para elas serem cumpridas, a população já a incorporou culturalmente em seus hábitos.