Pressão de chineses para queda de preços de celulose não reflete mercado, diz Fibria
Por Priscila Jordão
SÃO PAULO (Reuters) - A Fibria disse nesta quinta-feira que a pressão de clientes chineses, inciada em outubro do ano passado, para que os preços da celulose caiam não tem suporte nos fundamentos do mercado, depois de ter reduzido sua exposição à Ásia durante o último trimestre.
O diretor comercial e de logística internacional da Fibria, Henri Philippe van Keer, afirmou em teleconferência que o movimento dos clientes foi apoiado pelo uso de estoques e pela substituição de fibra curta, produzida pela empresa, por fibra longa. Contudo, a Fibria continua vendo boa demanda por celulose, pois não enxerga redução na produção de papel na China, além de não ver excesso de oferta.
"Acreditamos que os chineses voltarão a comprar pesadamente após o Ano-Novo chinês", afirmou.
Sem aceitar vendas por preços menores, a Fibria aumentou o direcionamento de volumes de produção para a Europa e Estados Unidos no quarto trimestre. "Os descontos (na Europa e Estados Unidos) são maiores, mas são menos do que se a gente tivesse vendido mais para a Ásia", afirmou van Keer. Isso contribuiu para proteger a margem da companhia, maior produtora de celulose de eucalipto do mundo.
O volume de vendas da Fibria no período de outubro a dezembro foi 7 por cento inferior ao do quarto trimestre de 2014 devido às menores vendas para a Ásia.
Mantendo o tom otimista, a companhia também disse a analistas que a desvalorização do iuan pode ser um problema no curto prazo, mas deve dar competitividade às produtoras de papel chinesas e fazer com que elas exportem mais. Isso seria uma oportunidade para aumentar as vendas em 2016.
"Continuamos a ter uma perspectiva boa para o ano", disse van Keer, acrescentando que os mercados europeu e norte-americano estão com boa performance.
CUSTO-CAIXA
Apesar das menores vendas no quarto trimestre, o dólar forte ajudou a Fibria a registrar resultado operacional sólido, com Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado no período de 1,62 bilhão de reais, alta de 79 por cento sobre o resultado nos três últimos meses de 2014.
Porém, analistas ressaltaram o aumento do custo-caixa de produção da celulose, que subiu 40 por cento no quarto trimestre na comparação anual. A empresa atribuiu o resultado a uma conjuntura pontual, devido ao maior custo da madeira não recorrente, maior impacto de paradas programadas para manutenção e menor venda de energia, entre outros fatores. Além disso, apontou que, no ano, houve alta de 19 por cento no custo, principalmente relacionada ao efeito da inflação e da alta do dólar.
"Se permanecermos com esse efeito, vamos revisar contratos denominados em dólares e revisar a estratégia global para voltar a comprar insumos no Brasil", disse o presidente da Fibria, Marcelo Castelli. Investir em modernização para consumir menos químicos é outra estratégia.
DIVIDENDOS
Questionada sobre a perspectiva para a remuneração a acionistas neste ano, depois de distribuir 2 bilhões de reais em dividendos extraordinários em dezembro, a Fibria disse que pode pagar novamente "dividendos relevantes", mas isso dependerá do seu desempenho em 2016.
"O volume de investimento não importa, já temos fechadas as linhas (de financiamento) para o projeto de expansão (em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul)", disse o diretor de finanças da Fibria, Guilherme Cavalcanti.
Um aumento da alavancagem medida pela relação dívida líquida sobre Ebitda também não seria um impeditivo. A companhia acredita que o indicador provavelmente deve ficar estável, já que, apesar do aumento de captações para o projeto de expansão, o dólar mais elevado impulsionará a geração de caixa da empresa ao longo do ano.
A relação dívida líquida sobre Ebitda medida em dólares da Fibria subiu de 1,58 vez no fim de setembro para 1,78 vez no fim de dezembro.
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