Crise afeta indústrias de celulose e papel, mas exportação equilibra a balança
Desde o início do ano, diversos setores produtivos vêm sofrendo uma desaceleração por conta da crise na economia brasileira. Um dos termômetros que reforçam este cenário é a demanda por papelão ondulado, que deve recuar 3% em 2015, segundo a Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO). Por isso, também existe a preocupação no setor de papel e celulose, já que além da redução da demanda, houve aumento nos custos essenciais para a produção e os industriais não conseguem repassar esta diferença aos compradores.
“Além do aumento significativo nos custos, não temos, hoje, dinheiro acessível para financiar o estoque e o dinheiro disponível está caro. Por tudo isso, o cenário é preocupante. O mês de agosto não sinalizou nada diferente do que aconteceu nos meses anteriores e não apresentou a curva da sazonalidade, em que o segundo semestre é melhor que o primeiro”, ressalta Rui Gerson Brandt, presidente do Sinpacel. Um dos grandes indicativos apresentado por Brandt é o aumento do desemprego, o que gera, consequentemente, uma queda no consumo. Segundo dados do IBGE, a taxa de desemprego em julho chegou a 7,5%.
Mas apesar deste cenário de crise, parte das indústrias atingiu resultados positivos. Isso é o que afirma a presidente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Elizabeth de Carvalhaes. De acordo com ela, houve um forte crescimento nas exportações no primeiro semestre deste ano, beneficiado pela recuperação da economia dos Estados Unidos e da Europa. A demanda da China também se mantém em alta.
No balanço dos primeiros seis meses, divulgado recentemente pela instituição, o volume de exportações de celulose totalizou 5,5 milhões de toneladas, crescimento de 7,1% em relação ao mesmo período de 2014, enquanto as exportações de papel atingiram 987 mil toneladas de janeiro a junho de 2015, crescimento de 3,9% em relação ao mesmo período de 2014. Para Elizabeth, a variação cambial tem ajudado o setor em 2015 e fortaleceu as exportações.
Por conta disso, a produção de celulose teve um crescimento de 3,5% em comparação com o primeiro semestre de 2014. Já com relação ao papel, houve leve queda de 0,8%, impactada, de acordo com a presidente da Ibá, pela situação atual da economia brasileira, pois “a menor atividade econômica reduz a demanda por papéis de embalagens, por exemplo, o que impacta diretamente o setor”.
Na avaliação do presidente do Sinpacel, as indústrias que exportam têm uma válvula de escape hoje. “Isso reforça a ideia de que toda empresa precisa ter um pé fora do Brasil, até para ajudar a equilibrar a balança. Se o dólar está forte, prioriza a exportação; se o dólar está fraco, volta-se para o mercado interno”, sugere.
Oportunidades
Segundo Rui Brandt, o industrial hoje está reduzindo turnos de trabalho ou parando as máquinas em alguns dias do mês até conseguir formar uma nova carteira e dar sequência à produção. No entanto, esta não pode ser uma situação definitiva. O caminho apontado por ele para que o industrial se mantenha competitivo é fazer a administração de custos, como investir em eficiência energética. “Se o empresário conseguir alterar sua matriz de custo, diminuindo os principais impactos, como celulose, salário e energia, ele pode manter sua atividade até um momento de recuperação da economia”, declara.
Para Elizabeth de Carvalhaes, inovação é a palavra de ordem. “Em momentos de crise, aquelas menos eficientes e também menos sustentáveis acabam sendo prejudicadas e ficam para trás. Por isso, melhorar o processo produtivo, de forma não apenas a elevar a produção, mas torná-la mais sustentável, coloca a indústria em posição de destaque e de manutenção do crescimento”, garante.
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