Presidente da FAESP: agricultura não é a vilã da crise hídrica, mas a salvaguarda do país
Ao divulgar levantamento realizado pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo sobre o impacto da seca na agropecuária paulista, o Presidente da FAESP, Fábio Meirelles, afirmou ser necessário haver maior transparência e esclarecimento à população, pois há muitas críticas infundadas contra à agricultura, “que é colocada como vilã da crise hídrica, por pretenso consumo demasiado de água, da ordem de 70%”.
Segundo Meirelles é preciso esclarecer que existe um ciclo hidrológico e que cerca de 60 a 70% da água das chuvas passa pela evapotranspiração (evaporação do solo mais a transpiração das plantas) e é por isso que, equivocadamente, se diz que a agricultura é grande consumidora de água, “como se fosse possível efetivamente “consumir” 70% da água das precipitações”.
Meirelles ressalta que a água disponível para a utilização das plantas, excetuada a evapotranspiração, é de cerca de 10% da precipitação e o que é realmente consumido é muito menos que isso, a maior parte retorna ao ciclo hidrológico. E exemplifica: “Um hectare de soja com produtividade de 3.600 kg do grão carrega cerca de 18% de água ou o equivalente a 648 litros de água, toda água restante envolvida na produção, ou seja, a da evapotranspiração, a que escorre e acumula na superfície, a que infiltra e chega ao lençol freático e a dos restos culturais (matéria orgânica) pertence ao ciclo da água. Portanto, o consumo efetivo de 648 litros em um hectare representa apenas 0,005% da precipitação média anual de uma região com 1.200 mm”.
Destaca que a agricultura irrigada de alta produtividade consome mais água e tem sistemas que podem ser mais ou menos eficientes, dependendo do caso, mas ainda assim o “consumo efetivo” é pequeno.
Reitera que a agricultura não é a vilã, “mas a salvaguarda do país”, pois são nas áreas rurais que ocorrem os processos de infiltração, escorrimento superficial, recarga de lençóis e acumulação de água. “A agricultura contribui positivamente para o equilíbrio hídrico, gera excedentes para consumo nas cidades, presta outros serviços ecossistêmicos, sem receber por isso, e ainda garante a alimentação de milhares de brasileiros. E é sempre válido lembrar que, independentemente de inclinação política ou religião, diariamente, todos precisam se alimentar”.
Considerações
A grave situação hídrica tem merecido atenção permanente da FAESP, que vem conduzindo amplas consultas com sindicatos e dirigentes rurais para avaliar as perdas e consequências.
Em um momento em que se discute como lidar com as mudanças climáticas, a Federação destaca a importância de um seguro rural amplo e efetivo, capaz de assegurar renda aos empreendedores rurais.
Segundo Meirelles, eventos climáticos extremos têm sido cada vez mais frequentes. “Diante disso é preciso garantir linhas de crédito com taxas de juros acessíveis, a fim de possibilitar a implementação de novas tecnologias e a superação das dificuldades impostas pelo clima. A prorrogação das dívidas é fundamental para garantir a oportunidade de quitar débitos e manter as atividades produtivas. Somente assim os produtores poderão continuar dedicando-se às suas atividades, contribuindo para a segurança alimentar e a paz social”.
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