Venezuela: Protesto em Caracas termina em confronto entre manifestantes e policiais
A Guarda Nacional Bolivariana (GNB) reprimiu no começo da noite deste sábado, 22, uma manifestação de estudantes na Praça Altamira, na zona leste de Caracas, na Venezuela. No fim da tarde, o clima pacífico das manifestações foi mais uma vez substituído pelo confronto e pela violência. Enquanto Maduro falava em rede nacional de rádio e TV um grupo de cerca de 500 estudantes entrou em confronto com a polícia.
Num primeiro momento, as forças do governo apenas impediam o avanço dos manifestantes para além da praça. Segundo manifestantes que estavam no local, ao contrário dos dias anteriores, quando a GNB isolava apenas uma das avenidas que saíam de Altamira, dessa vez cercaram todas as ruas que rodeiam a praça.
No começo da noite, os policiais avançaram sobre a praça. Balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo foram disparadas contra a multidão. Uma das bombas caiu perto de onde estava a reportagem do Estado fazendo uma entrevista.
"A repressão sempre é maior quando Maduro fala em cadeia. Na quarta-feira eu tive de me esconder num prédio com dois outros estudantes para não ser presa", disse ao Estado a estudante Aranxtsa Pomonty, de 18 anos. "Eles esperam a noite para reprimir."
A manifestação se dispersou e a GNB avançou pela Avenida Francisco de Miranda na direção do distrito de Chacao. Os estudantes responderam tentando erguer barricadas com lixo queimado na rua. A reportagem do Estado viu ao menos quatro manifestantes sendo presos pela polícia.
VEJA 1: Caracas tem noite de confrontos; Maduro convoca reunião
Enquanto manifestantes mais exaltados enfrentavam a polícia, na sede do governo, Maduro criticou os EUA e anunciou uma ‘conferência pela paz’
Observados pela polícia, manifestantes bloqueiam rua de Chacao (Diego Braga Norte/VEJA)
O clima de tranquilidade e civilidade durante as manifestações deste sábado em Caracas se dissipou na medida em que a noite foi caindo na capital venezuelana. Por volta do fim da tarde, quando a maioria dos milhares de manifestantes já tinha deixado a Avenida Francisco de Miranda, alguns retardatários mais exaltados fecharam alguns cruzamentos com entulho e lixo. Os opositores ao governo de Nicolás Maduro proibiram a passagem dos veículos e os obrigavam a dar meia volta. O trânsito ficou caótico, com buzinaço e gritaria. A polícia venezuelana entrou em ação e dispersou os manifestantes mais exaltados com balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. Os manifestantes atearam fogo em pilhas de lixo e entulho que se acumulavam em alguns cruzamentos.
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Enquanto a Polícia Nacional Bolivariana enfrentava os manifestantes nos arredores de Caracas, Maduro – mais uma vez – discursava em cadeia de rede nacional. De novo ele acusou os milhares de manifestantes de todas as classes sociais de serem de “extrema direita” e de estarem agindo para “dar um golpe de Estado”. E, como vem sendo a tônica em seus discursos, ele criticou os Estados Unidos. Mas dessa vez ele se dirigiu diretamente ao Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que recentemente havia dito que “observava com preocupação a situação política da Venezuela”. Maduro disse: "O que tem de ser observado na Venezuela? Observe a pobreza crescente nos Estados Unidos, a miséria que tira a casa dos trabalhadores e da classe média. Observe a prisão de Guantánamo, onde sequestraram mais de mil cidadãos do mundo, torturando-os. E vocês [os americanos] prometeram fechar Guantánamo. É isso que você, [Kerry] tem que prestar atenção".
Após a crítica aos americanos, Maduro também aproveitou seu tempo em rede nacional para convocar uma reunião para a próxima quarta-feira a fim de instalar "uma conferência de paz nacional com todos os setores políticos do país". Ele ressaltou que, depois de receber várias propostas, decidiu “que este é o caminho para a verdadeira e eterna paz". O presidente, no entanto, não forneceu mais detalhes sobre a reunião nem sobre quem o governo irá convidar. Há uma expectativa de que o governador opositor e ex-candidato presidencial Henrique Capriles seja convidado. Seria o primeiro encontro de Maduro e Capriles desde o recrudescimento dos protestos contra o governo, iniciados no último dia 12.
Confrontos – Os embates mais ríspidos estre as forças policiais e os manifestantes se concentraram em localidades mais ao leste de Caracas, principalmente nos municípios de Chacao (que já foi comandado por Leopoldo López) e Altamira, ambas cidades conurbadas com a capital venezuelana. Pelo Twitter, o prefeito de Chacao, Ramón Muchacho, comunicou que ao menos três manifestantes ficaram feridos, sendo um deles com um trauma na face. Em Altamira, município distante a apenas uma estação de metrô de Chacao, uma nuvem de gás lacrimogênio tomou conta da Praça Altamira e das ruas do entorno.
Em Chacao, área nobre da grande Caracas, se concentram muitos hotéis, sedes de multinacionais e o centro financeiro do país, com a Bolsa de Valores da Venezuela e muitos bancos – o mais imponente é o prédio cilíndrico e espelhado do Banco das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (Banfanb). Com o corre-corre nas ruas, com sirenes de polícia, barulhos de tiros e bombas, muitos hotéis fecharam suas portas para impedir que manifestantes entrassem. Com isso, muitos hóspedes também ficaram impossibilitados de saírem às ruas.
Estudantes ajudam a população – Por volta das 20:00 horas, com vassouras e pás, alguns manifestantes que estavam nos arredores da Praça França, começaram a remover as barricadas que interrompiam a passagem no movimentado cruzamento da Avenida Francisco de Miranda com a Avenida Luis Roche. Em menos de uma hora, o tráfego foi restabelecido. "Aqui estamos todos unidos, com nossas cabeças erguidas após essa luta. Na quarta-feira vieram aqui umas milícias e nos agrediram. Não voltaram hoje porque sabem que vamos nos defender. Vamos seguir em pé, exigindo justiça e segurança para a Venezuela", disse um estudante de Comunicação Social que se identificou como Hernández.
VEJA 2: Maior desafio da oposição na Venezuela é buscar união
Para líder comunitário, levar povo às ruas e conquistar maioria nas urnas vai demandar muito trabalho. Advogado diz haver saída constitucional para crise
Jesus Torrealba (Diego Braga Norte/VEJA.COM)
A oposição venezuelana, se quiser triunfar nas urnas, tem pela frente um desafio tão espinhoso quanto superar o número de votos dos apoiadores do bolivarianismo: precisa superar suas próprias distinções e unir-se em prol de um objetivo comum. O resultado da última eleição presidencial, em abril de 2013, dá uma boa medida da divisão existente na Venezuela: 50,6% para Nicolás Maduro contra 49,12% para o oposicionista Henrique Capriles. Porém, em menos um ano de governo Maduro, a oposição se fragmentou de tal forma que é preciso juntar os cacos para voltar a se organizar.
As manifestações que se iniciaram de forma espontânea e tímida com estudantes protestando no estado de Táchira, no Noroeste do país, ganharam corpo no último dia 12 – data em que é comemorada o Dia da Juventude. Após a adesão em massa dos jovens, os políticos opositores viram na força das ruas uma oportunidade de recuperarem o terreno perdido. O descontentamento dos estudantes advém de muitos fatores, mas os principais são: alta da inflação (fechou 2013 acima de 56%) e da criminalidade, e ausência de liberdade de expressão.
Carime Kafruni, estudante secundarista de 16 anos, disse estar cansada da violência interferindo em seu cotidiano. “Tenho que chegar em casa antes das sete horas. Tenho medo que me matem, que me roubem”. Seu medo não é sem razão: entre 1999 e 2013 a taxa de homicídios no país passou de 19 mortes por 100.000 habitantes para 79 mortes por 100.000 habitantes, de acordo com dados do Observatório da Violência da Venezuela (OVV), um grupo não-governamental dedicado ao registro de crimes violentos. O Ministério do Interior e Justiça rejeita os números da ONG e afirma que houve uma redução de 17% no número de homicídios no ano passado, com 39 pessoas mortas para cada 100.000 habitantes.
O líder comunitário Jesus Torrealba, dirigente da organização civil Radar de los Barrios, admite que o movimento opositor perde força por estar dividido em diferentes correntes. Ele, que atua na defesa de comunidades paupérrimas do entorno de Caracas, admite que é “preciso avançar para uma unidade mais homogênea”. Segundo Torrealba, há as reivindicações dos estudantes, dos partidos políticos, dos movimentos sociais, da classe média, dos intelectuais, com todos protestando muito, mas dialogando pouco. “Esse governo é extremamente repressor por ser órfão, carente da figura paternalista e inegavelmente popular de Hugo Chávez. Agora é a nossa chance de trabalhar para ser maioria nas ruas e nas urnas”, disse.
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A desunião é notada também entre os principais nomes opositores, o ex-candidato presidencial e atual governador de Miranda, Henrique Capriles, (do partido Primeiro Justiça) e o líder do partido Vontade Popular (VP), Leopoldo López. Enquanto López e a deputada independente Maria Corina Machado tomaram à frente das manifestações, Capriles se absteve. "Nossa agenda é social, a saída é social (...) não acreditamos nem em saídas violentas nem em saídas por golpes de Estado", disse Capriles ao se recusar participar das manifestações de 12 de outubro. Ele também critica a campanha 'A Saída', que pede a renúncia imediata de todos os principais políticos do Executivo do país, inclusive do presidente Nicolás Maduro.
As saídas – O dirigente do partido VP, Luís Florido, acha “impossível Maduro renunciar”. Para ele, pedir isso é desperdiçar força e queimar energia que poderia ser mais bem usada de outras formas. Além da renúncia, há ainda outras três possibilidades constitucionais para a Venezuela sair dessa crise política, explica Florido, que é advogado. As saídas seriam derrubar o artigo 340 da Constituição, que permite as reeleições ad aeternum; recorrer ao artigo 347 e convocar uma nova Assembleia Constituinte; ou ainda usar o artigo 72 e fazer um referendo para decidir o futuro de Maduro no cargo máximo do país.
“O referendo me parece o mais apropriado e possível de se alcançar com a pressão popular e o artigo 72 nos garante isso”, disse Florido. O artigo 72 da Constituição venezuelana prega que “todos os cargos e magistraturas de eleição popular são revogáveis” perante um referendo popular aprovado pela Assembleia Nacional. Mesmo com a situação dominando o Congresso, controlando dois terços do total de 165 cadeiras, Florido crê que haja margem de manobra para pressionar os deputados a aprovarem o referendo.
O ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill (1874 – 1865) disse certa vez que "A democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que já foram tentadas”. O ex-governador de Nova York Alfred E. Smith (1873 – 1944) não se elegeu presidente dos Estados Unidos em 1928, mas entrou para história por ter dito que “a cura para os males da democracia é mais democracia”. Ficam os exemplos para a Venezuela.
Blog Felipe Moura Brasil:
Maduro ameaça tirar CNN do ar na Venezuela. Já sei! Ele prefere assistir ao Jornal Nacional! E mais: almirante confirma atuação de cubanos em grupos assassinos
No duelo televisivo para ver qual cobertura é mais isenta, inclusive do dever de informar, o Jornal Nacional ganha de lavada até da esquerdista CNN, que pelo menos mostra os tanques de Maduro disparando nas ruas (em vez de apenas um deles incendiado, como o JN acaba de fazer) e questiona se o “presidente” vai mostrar isso na TV do Estado também. A pergunta irônica feita pelo apresentador Fernando Del Rincón, aliás, era o mínimo que o JN, sempre tão disposto a ouvir “o outro lado”, deveria ter mostrado agora, depois de expor a ameaça de Maduro de tirar a CNN do ar. Mas vai que Maduro resolve mudar de canal, não é mesmo?…
[Na Veja.com: Venezuela cassa visto de trabalho de jornalistas da CNN.]
Para quem não é tão neutro e isento assim diante de ditaduras assassinas que censuram a própria imprensa, o jeito é assistir a Jaime Bayly, “El francoatirador”, jornalista e escritor peruano, apresentador do programa “Bayly” na Mega TV dos Estados Unidos, que comenta na medida certa as imagens de terror do regime socialista apoiado por Lula e pelo PSOL e ainda traz, na memorável edição que decupo abaixo, uma entrevista com o almirante venezuelano Oscar Betancourt, cuja primeira parte transcrevo, traduzo e complemento em seguida.
Acompanhe você também o nosso Bayly de jornalismo no Jornal Nacional.
1:15 Tuítes de Lopez exortando o povo a continuar se manifestando;
1:28 Henrique Capriles fala que prender opositores políticos como Lopez não resolve os problemas do país;
2:46 Tuíte de Lopez para aqueles que ainda duvidam: “Se isto não é uma ditadura, digam-me então o que é”;
3:42 Visita da esposa de Leopoldo López, Lilian Tintori, a seu marido na prisão;
4:51 Lilian, sobre sua resposta aos filhos quando perguntam pelo pai: “Eu digo a meus filhos que ele está trabalhando pela Venezuela.”
5:40 “Funcionário medíocre do regime totalitário”, Elias Jaua diz que Lopez está preso por “cometer delitos” (que ninguém nunca viu);
6:50 Pronunciamento bonitinho mas ordinário de Barack Obama, pregando o diálogo etc.;
8:14 / 10:25 / 12:00 Ameaça de Maduro de cortar a CNN;
12:23 O jornalista Fernando Del Rincón, da CNN, mostra o vídeo oficial das “provas” apresentadas pelo governo dos ataques “fascistas” contra suas instalações;
14:36 Rincón mostra, em imagens exclusivas da CNN, os tanques do governo disparando em Táchira e pergunta: “[Este vídeo da] CNN sairá na televisão do Estado?”;
16:05 Bayly fala da modelo Génesis Carmona;
16:40 Matéria sobre a morte de Carmona, com as imagens já vistas neste Blog;
17:26 Maduro, com seu jeitinho psicopata de ser, fala do que teria restado do cérebro do opositor Henrique Capriles;
18:26 Capriles responde a Maduro, dizendo que o povo tem direito a pedir sua renúncia;
19:01 Capriles prega a manifestação pacífica e a renúncia de Maduro e Diosdado;
19:55 Carta manuscrita de Lopez, da prisão;
27:20 Entrevista com o almirante Oscar Betancourt:
[Transcrevo, traduzo e complemento a primeira parte.]
Que informações você tem, almirante, do que está acontecendo lá?
Durante todo o dia, estamos recebendo informações dos protestos que estão acontecendo e… Altamente preocupantes, porque há uma repressão quase brutal e desmedida contra os jovens que estão se manifestando.
Quem ordena essa repressão, almirante?
As ordens estão dadas definitivamente desde o mais alto escalão do governo e estão sendo executadas largamente pelos coletivos, pelas milícias e estão utilizando também agentes da Guarda Nacional. A situação se faz crítica e grave, porque recebemos informação de que estão sendo utilizados cubanos, vestidos e uniformizados de milicianos, e inclusive [a jornalista venezuelana] Berenice Gomez reportou recentemente que alguns deles foram detidos, e isto, na prática, Jaime, para que veja o quão grave é o que estamos falando, se converte em um ato de guerra.
Por quê? De que maneira, almirante?
Converte-se em um ato de guerra, porque há um pessoal estrangeiro fazendo uso de um uniforme inimigo para dominá-lo e estão atirando, estão matando jovens, estão disparando contra as pessoas, e isto faz a diferença entre um crime de lesa-humanidade [ou contra a humanidade] e um crime de guerra. Mas também há presença e atos de lesa-humanidade quando vemos os abusos, as violações que estão cometendo, e que definitivamente terão de enfrentar em algum momento o Estatuto de Roma, porque estes são atos para os quais não há prescrição.
Além do mais, você nos lembrou oportunamente em uma ocasião anterior que o próprio texto constitucional diz que as Forças Armadas têm de estar a serviço da nação. É assim?
Exatamente. Diz o artigo 328 que as Forças Armadas estão a serviço exclusivo da nação e nunca a serviço de parcialidade política ou pessoal alguma.
Isto está sendo respeitado agora, almirante?
Definitivamente, não. Estamos vivenciando os acontecimentos, [nos quais] estão utilizando as Forças Armadas ou estão utilizando grupos armados que nem sequer fazem parte da instituição para reprimir o povo. Para não somente reprimi-lo, mas para, mais ainda, violar seus direitos, estão menosprezando os princípios dos direitos humanos. É realmente brutal e horroroso o que se está vivenciando hoje na Venezuela. Comentei, no começo, desculpe, que estamos recebendo informação de Táchira, de San Diego (em Valencia), de Puerto Ordaz, do Oriente na Venezuela, onde estão sendo noticiados dezenas de feridos. Não sabemos o número de mortos, mas sabemos, sim, que há um alto número de feridos. Em San Diego, o prefeito Vicente Carano estava solicitando ajuda para que permitissem passar a ambulância. Ou seja: estamos falando de uma repressão que está sendo brutal, exagerada, de modo que, quando houver oportunidade, os responsáveis terão de enfrentar a Justiça. E na exortação que nós havíamos feito no documento, era muito importante o aspecto de chamar a atenção das Forças Armadas para que se pronuncie. Para que se pronuncie e para que atue em defesa do povo venezuelano.
De que maneira você sugere, com a autoridade moral de ser uma voz limpa das Forças Armadas venezuelanas no exílio, de que maneira você insta… exorta as Forças Armadas do país a pronunciar-se, almirante?
Nós, do grupo que trabalhou para fazer a exortação, estudamos vários cenários. Um delas é a necessidade de que o alto comando militar, de maneira imediata, evite o uso das bandas, dos grupos coletivos e das milícias para atacar o povo venezuelano, porque é isto que está acontecendo.
Seria uma medida destinada a proteger o povo indefeso.
O que estamos pedindo é que os defenda. Têm de defender os venezuelanos. Agora mesmo lhes fazemos uma exortação [olha de frente para a câmera] ao Ministro da Defesa e ao alto comando militar para que protejam os venezuelanos, para que os defendam! É um dever! É a sua obrigação! E há pessoal estrangeiro atacando os venezuelanos, matando os jovens.
Que outra exortação está contida neste documento que eu saúdo e respeito, assinado por um número bem elevado de altos oficiais das Forças Armadas venezuelanas, não é verdade, almirante?
Sim. Este documento está subscrito por um grupo de oficiais de todos os graus, generais, almirantes que ocuparam os mais altos escalões da instituição, oficiais superiores e subalternos, e nele também refletimos a necessidade… [o vídeo aqui é cortado por um anúncio, de modo que o almirante não chega a responder a pergunta].
Eu lhe agradeço por lembrar estes nomes que talvez não estejam no olho do furacão, mas que também foram injustamente presos e humilhados nestes últimos tempos. Agora, você sabe melhor que eu, quando você diz que as Forças Armadas têm de intervir para proteger a nação, os que estão do outro lado, os que não defendem a democracia e a liberdade, irão dizer: “O almirante Oscar Betancourt está defendendo um golpe de Estado”. Isto é o que você está pedindo, almirante?
Não, nem um pouco. Primeiro que, se lembrarmos do documento anterior, “El Clarín de la Patria llama” [do qual o almirante já favia falado a Bayly - aqui], aí víamos ou dizíamos claramente como havia elementos que protegiam constitucionalmente a atuação dos militares para recompor a ordem constitucional e precisamente para evitar o que está acontecendo agora mesmo.
Você citou dois artigos: o 328 e o 350…
Correto. E o 350.
São dois artigos do texto constitucional, uma Constituição que foi escrita à medida de Chávez…
Correto.
E esses artigos, o que eles resumem, o que sugerem, qual é o espírito da letra?
[Colo aqui o artigo que o almirante resume, com negrito nos trechos que ele menciona:]
Artículo 350. El pueblo de Venezuela, fiel a su tradición republicana, a su lucha por la independencia, la paz y la libertad, desconocerá cualquier régimen, legislación o autoridad que contrarie los valores, principios y garantías democráticas o menoscabe los derechos humanos.
É um mandato?
É um mandato. É um dever. [O almirante então resume este outro:]
Artículo 328. La Fuerza Armada Nacional constituye una institución esencialmente profesional, sin militancia política, organizada por el Estado para garantizar la independencia y soberanía de la Nación y asegurar la integridad del espacio geográfico, mediante la defensa militar, la cooperación en el mantenimiento del orden interno y la participación activa en el desarrollo nacional, de acuerdo con esta Constitución y con la ley. En el cumplimiento de sus funciones, está al servicio exclusivo de la Nación y en ningún caso al de persona o parcialidad política alguna. Sus pilares fundamentales son la disciplina, la obediencia y la subordinación. La Fuerza Armada Nacional está integrada por el Ejército, la Armada, la Aviación y la Guardia Nacional, que funcionan de manera integral dentro del marco de su competencia para el cumplimiento de su misión, con un régimen de seguridad social integral propio, según lo establezca su respectiva ley orgánica.
Mas também havíamos dito no documento… e acredito que é importante que mencionemos… a censura que existe hoje em dia nos meios de comunicação e a autocensura que também, de alguma maneira, acreditamos que está causando muitos danos. Estão acontecendo muitas manifestações pelo país e nada disso está saindo à luz pública [o almirante se refere aos órgãos de mídia controlados pelo Estado]. Graças a Deus e à tecnologia, estamos recebendo informação de tudo que está acontecendo, mas certamente o mundo precisa entrar [nessa história]. E vai entrar, porque hoje em dia cada pessoa com um telefone faz um vídeo, saca uma prova, e é impressionante a quantidade de informação que está chegando.
Almirante, com todo o respeito, se um grupo de cidadãos venezuelanos uniformizados e patriotas decidem pôr um fim nesta situação de abuso, qual é o caminho que teriam de seguir para não transgredir o quadro constitucional?
Certamente é uma pergunta complicada. E uma resposta também complicada, porque não se trata, como você mesmo mencionou antes, de tirar Maduro e colocar Diosdado [Cabello, presidente da Asamblea Nacional]. Não, não se trata disso. Em princípio, o que estamos pedindo na exortação às Forças Armadas é que saiam a defender os venezuelanos, porque, diante do que está acontecendo, isto é de extrema necessidade. Isto é preciso fazer já. Em segundo lugar, como você menciona, tem de haver uma volta à democracia, porque hoje em dia se está vivendo em uma ditadura na Venezuela. Há um artigo importante na Constituição nacional que diz que nós, os venezuelanos, a República Bolivariana da Venezuela… é irrevogavelmente livre e independente. E [a Constituição] sustenta isso como um dos direitos também, como são os direitos à liberdade, à soberania e à independência. Mas somos livres, independentes e soberanos quando vivemos em uma ditadura, quando estamos submetidos ao controle castro-comunista [de Cuba] e quando estamos sustentando um governo que foi eleito ilegitimamente e de modo fraudulento? Eu creio que não. E estou seguro de que dentro das Forças Armadas há muita gente que sabe que não.
por Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
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