MERCADO DO AÇÚCAR: Estamos todos no mesmo barco
Na semana, o mercado caiu quase que em paralelo comparativamente aos meses de vencimento. As baixas ficaram entre 14 e 20 dólares por tonelada. O cenário macro mundial continua deteriorando enquanto os mercados de ações e de commodities despencam. Existe uma preocupação crescente de que mais instituições financeiras estejam usando dinheiro dos clientes e o que ocorreu com a Man Financial Global (nada a ver com a trading EDF Man) seja apenas a ponta do iceberg. A máxima agora é “Conheças teu corretor e teu membro de compensação como a ti mesmo”. Um IB americano (IB é um corretor de futuros, que tem uma relação direta com um cliente, mas delega o trabalho de negociação e execução/compensação das operações para outra casa corretora) postou em seu blog esta semana que estava fechando sua empresa porque não podia ter certeza se o dinheiro depositado pelos clientes junto a casa corretora e as posições que eles tinham em futuros estavam devidamente protegidas. E ele continua: “E isso não vale apenas para meus clientes, mas para todas as contas de futuros e opções nos Estados Unidos. Todo o sistema foi totalmente destruído pelo colapso da MF Global. Dada esta triste realidade, eu não poderia, em sã consciência, dar mais um passo como corretor de commodities, sugerindo operações que sejam inseguras ou cujos recursos financeiros estejam em perigo”. A que ponto nós chegamos.
O problema pode ser sistêmico e não restrito a apenas uma empresa. Isso é preocupante. Alguns analistas creem que a MFG estava alavancada em 100:1. A primeira coisa que nos vem a cabeça é sobre o significado da palavra “segregado”. Se a grana é realmente separada como é que chegamos nesse imbróglio?
A posição em aberto do açúcar está minguando, menos de 500.000 lotes para um mercado que chegou a ter pouco mais de 1,1 milhão de contratos em aberto. Menos contratos significam que muita gente liquida posições, evidentemente, mas que os especuladores estão saindo. Menos contratos também significam aumento da volatilidade numa situação de estresse. Um conceituado corretor de NY lembrou que a posição em aberto das puts (opções de venda) até o preço de exercício de 20 centavos de dólar por libra-peso é de mais de 80.000 lotes. Se der um susto nesse mercado, embora ainda seja cedo para isso haja vista que estamos ainda há 3 meses da expiração, pode ser um estresse daqueles.
A volatilidade do mercado desliza. A média da volatilidade histórica de 20 dias há um mês era 39,40%, agora está 23,78%. A de 50 dias, caiu para 37,50% (há um mês 41,21%) e a de 100 e 200, 38,29% e 43,11% ( eram 41,89% e 44,72%), respectivamente.
Um trader comenta que dever-se-ia olhar “a questão da alta carga tributária incidente sobre o etanol, descrevendo a incidência de impostos diretos e indiretos de toda a cadeia produtiva desde a matéria prima até o produto final indicando o percentual sobre os preços de venda na usina bem como no preço ao consumidor final”, para termos uma clara ideia de como esse quesito ”impacta diretamente na margem operacional do setor, limitando a capacidade de investimento para atender a expansão da demanda interna”.
Outro leitor, executivo de uma usina, comentando sobre o número da próxima safra, observou que “no nosso caso, de nossos vizinhos, e de outras usinas com as quais conversamos, em nenhuma hipótese, a próxima safra será maior do que a atual”. Ele argumenta que muitas usinas “com receio de ter suas linhas de crédito reduzidas pelos bancos, não abrem a terceiros o que está acontecendo. Assim, acho que estes números provavelmente não serão compartilhados num primeiro momento, mas refletirão em breve a real e geral situação”.
Essa opinião tem outro lado importante. Quando o mercado se der conta de que o número de produção uma vez mais não vai ser adequado às necessidades, os preços e principalmente a curva, vão inverter novamente, fortalecendo os spreads. 24 centavos de dólar por libra-peso, ainda parece ser um excelente nível de compra. Mas quem tem peito?
A manchete desse comentário foi tomada emprestado do presidente do Sugar Club, Alexandre Aidar, que promove no dia 24 novembro, a 6ª edição do Sugar Dinner Brasil, que este ano será celebrado a bordo de um navio zarpando do porto de Santos. Não apenas grande parte do mundo sucroalcooleiro vai literalmente estar no mesmo barco, mas também a frase de Aidar é um alerta de que o setor precisa unir esforços para vencer as pedras de vários tamanhos no meio do caminho. Que as águas sejam calmas.
Tenham todos uma excelente Semana do Açúcar, com muitos negócios, mas não abuse do etanol!!
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