ENTREVISTA: Confira a entrevista com * - Piauí: Nova fronteira agrícola do país
A produção agropecuária no sul do Piauí não se restringe apenas às regiões de cerrado no alto das chapadas.No vale do rio Gurguéia é possível encontrar regiões férteis e muito ricas em água, onde estão as áreas dos poços jorrantes. Calcula-se que na região existam cerca de 600 poços e pelo menos metade deles nem precisa de bombeamento para a retirada da água. O Vale do rio Gurguéia tem potencial para ser uma área nobre de cultivo, no entanto, desde a sua colonização, ele vem sendo mal explorado.
A história conta que em meados do século XVII, fazendeiros do vale do rio São Francisco entraram pelo então desconhecido “Sertão de Dentro do Piagohy”, e iniciaram suas atividades pecuárias pelo sul do estado, às margens do rio Gurguéia. As primeiras concessões de terras (chamadas sesmarias) para a exploração da atividade agropastoril no Piauí datam de 1676.
Durante séculos, a agricultura e a pecuária de subsistência foram praticadas ao longo do Gurguéia. A tradição secular no cultivo e a falta de informação dos produtores acabaram trazendo conseqüências negativas para o meio ambiente, e já dá pra ver que o rio Gurguéia já se encontra assoreado em alguns pontos.
“O que a gente percebe aqui é que os órgãos ambientais aqui na região se preocupam com duas coisas: criação de parques e perseguição ao cerrado, mas o rio Gurguéia continua abandonado. Hoje, o que preserva o rio Gurguéia ainda é o produtor rural mais moderno, que recebeu essa terra já explorada e hoje busca tenta preservar de acordo com suas capacidades”, conta o produtor rural, Moisés Barjud.
Para entender porque ocorre essa exploração agropecuária às margens do Gurguéia é preciso conhecer um pouco mais sobre o fenômeno chamado vazante. No período chuvoso, que se estende de setembro a maio, o rio Gurguéia transborda e toda a área invadida tem uma reposição orgânica natural promovendo a fertilização do solo. Mas o cultivo tradicional de vazantes já não consegue mais competir com as altas produtividades das áreas de cerrado que estão cada vez mais tecnificadas. A saída para os produtores tem sido a diversificação das atividades. Na última década, a piscicultura e a criação intensiva de bovinos de corte e leite tem alcançado bons resultados.
A produção agropecuária no vale do Gurguéia vai além das áreas de vazantes. Uma grande região de caatinga, ainda não explorada será a nova fronteira da agricultura no Piauí, depois do cerrado. São investimentos para o futuro porque atualmente, o que vem tendo destaque mesmo são as áreas de baixões que ficam ao pé das serras que cortam a região e se constituem de terras extremamente férteis e com boa aptidão para a pecuária.
No condomínio Santa Inês, propriedade localizada numa dessas áreas de baixão da Serra do Calhaus, há cerca de 40 km do município de Bom Jesus. Com cerca de 700 hectares com pastagens e uma expectativa de receber 1400 animais, existe uma pecuária diferente daquela tradicional piauiense já começa a ser desenvolvida.
“Durante muito tempo, o espelho da região, apesar de todo esse tempo recente, foi o cerrado do Piauí. A pecuária tradicional do estado se mantinha apegada a alguns conceitos tradicionais e a nossa intenção é dar uma renovada em tudo isso e tentar conciliar o que há de moderno no cerrado com o que há de tradicional na pecuária e o que a gente tem nesse condomínio nosso, condomínio Santa Inês, é uma tentativa pioneira de fazer isso, uma pecuária mecanizada, com novas tecnologias, adequada a esse novo momento que a gente passa, de acordo com as normas ambientais e tudo mais, mas sempre pensando em produzir. O perfil dos solos destas áreas é adaptado para pastagens de maior rendimento protéico, no caso, a braquiária e a mombassa, que foram os pastos que eu adotei. Aqui é o mesmo princípio do vale do Gurguéia. Assim como o Gurguéia no período de chuva lava o vale e depois seca e todo aquele nutriente que vinha na água ficava no solo e tornava o solo muito fértil,aqui de igual forma esses baixões são lavados pela água que desce da serrae os nutrientes ficam todos no solo”, explica Moisés.
No entanto, os produtores já começaram a sentir aqui os problemas com o meio ambiente, principalmente porque existe uma campanha para tornar essa região um parque ecológico. “Há mais ou menos uns quatro anos, o instituto Chico Mendes e junto com a secretaria do meio ambiente do Piauí tem feito uma campanha para ampliar o parque das Serras das Confusões. É um parque de 504 mil hectares que já existe aqui próximo e eles visaram no começo criar o parque da Serra Vermelha, não conseguiram, e como meio termo quiseram fazer um corredor ecológico, que era pegar o parque da Serra das Confusões, que já existia, e fazer uma ampliação de aproximadamente 350 mil hectares. Com essa ampliação, infelizmente, área produtivas seriam prejudicadas, uma delas é o condomínio Santa Inés que vocês estão vendo aqui hoje e que é totalmente produtivo, totalmente beneficiado, que possui reserva legal averbada, que está de acordo com as normas ambientais, mas que nessa proposta de ampliação do parque, ele seria englobado e nós seríamos prejudicados”, relata.
Depois de várias negociações chegou-se a um acordo: os órgãos de defesa ambiental se comprometeram a excluir áreas beneficiadas do perímetro do parque, essas áreas formariam as chamadas zonas de amortecimento, mas poderiam ser normalmente exploradas para as atividades pecuárias. “Foram anos de muita aflição. Eu peguei todas as minhas economias, comprei este local, investi neste local e perder isso agora seria uma grande decepção, mas eu tenho fé em Deus que vai dar tudo certo, e que esse parque vai sair dentro do que foi combinado com o meio ambiente”.
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