Financial Times alerta para 'fanfarronice' em recuperação econômica do Brasil
Em um artigo intitulado precisamente assim ("Latin swagger"), o jornal avalia a maré de boas notícias econômicas sobre a região e, em especial, sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, escolhido pela revista americana "Time" na semana passada como o primeiro de uma lista de personalidades mais influentes do mundo.
Embora reconheça que haja motivos reais para celebrar sua situação econômica, o "Financial Times" faz uma alerta para o que chama de "complacência" latino-americana, e brasileira em especial, em relação ao seu próprio futuro.
"O maior perigo financeiro que a América Latina enfrenta agora é a complacência, especialmente no Brasil", diz o jornal. "As piores quedas normalmente ocorrem justo quando se está cantando de galo." A argumentação do jornal é a de que a região contou com uma boa dose de "sorte" na última década.
Primeiro porque, calejados por crises anteriores, os bancos latino-americanos preferiram olhar para o mercado interno e evitar embarcar no risco de se expor aos empréstimos do tipo "subprime", que terminaram contaminando as economias mais avançadas.
Além disso, diz o editorial, a demanda por commodities na Ásia puxou as economias latino-americanas mesmo durante a tempestade econômica nos países ricos.
Por fim, argumenta o "FT", as baixas taxas de juros americanas, próxima do zero, fizeram a região receber um influxo de recursos em busca de retorno mais alto.
"Qualquer um desses fatores sozinhos seria capaz de sustentar um boom. Mas a América Latina está desfrutando de todos ao mesmo tempo. Como alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI), se trata de uma bonança sem precedentes." Para o "FT", os países da região devem procurar olhar para além da bonança e tomar medidas como evitar a apreciação exagerada do câmbio - o jornal menciona especificamente o Brasil e a Colômbia - e investir em obras de longo prazo, como no setor de infraestrutura.
"Ainda assim, pode haver um excesso de capital", avalia o editorial. "O crédito brasileiro tem saltado a uma taxa de 47% e os preços de imóveis no Rio de Janeiro têm subido cerca de 50% ao ano." Para o diário, esses são "apenas dois sinais de alertas de uma dor-de-cabeça pós-boom que ainda está por vir".
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