Lula chama Dilma e pede mudança de discurso na TV
O presidente Lula decidiu intervir e pedir ajustes na campanha de Dilma Rousseff. Chamada para uma conversa na sexta-feira, Lula reclamou que a pré-candidata do PT está sendo muito "técnica", precisa ser "direta e simples" nas entrevistas para a TV e falar frases mais sintéticas, evitando deixar raciocínios sem conclusão.
Dois dias antes, Dilma havia participado do "Brasil Urgente", na TV Bandeirantes. Lula não viu o programa, mas foi informado que Dilma estava muito nervosa e, em vários momentos, deu respostas longas, sem concluir seu raciocínio. Em sua avaliação, nada grave nessa fase, mas um tipo de erro que não pode se repetir durante a campanha, principalmente nos debates eleitorais.
A conversa entre Lula e Dilma ocorreu no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, na sexta pela manhã. O presidente segue confiante de que vai eleger Dilma sua sucessora, mas confidenciou a aliados que ela precisa melhorar seu desempenho nas entrevistas a TV e rádio.
Lula orientou sua ex-ministra a, nesse período da campanha, dedicar mais tempo a treinamentos para entrevistas como a concedida na semana passada ao jornalista José Luiz Datena, da TV Bandeirantes.
O presidente defende que, se for preciso, Dilma reduza suas agendas regionais e dê preferência aos treinamentos com sua equipe de campanha. Na avaliação de Lula, nesse momento, as entrevistas têm muito mais eficácia do que as viagens a Estados, principalmente naqueles em que ainda não há definições sobre os candidatos aliados a governador.
Apesar dos reparos feitos por Lula na fala de Dilma no programa da Band, o presidente foi informado de que pesquisa feita pela equipe de campanha com grupos de mulheres apontou que o desempenho da petista foi considerado mais positivo do que negativo.
Nessas pesquisas, a avaliação das mulheres foi que Dilma passou uma imagem de "humildade", "simpatia", "capaz de se emocionar", em contraste com sua fama de "autoritária" e "durona" citada diversas vezes pelo jornalista da Band.Experiência
Acertar o tom de suas entrevistas e discursos é considerado, por seus assessores, essencial também para que Dilma demonstre algo que ela tem: segurança. E, com isso, demonstrar que tem experiência administrativa e está preparada para ocupar o lugar de Lula.
Aliados da ex-ministra dizem que, nessa fase de pré-campanha, é preciso fazer não só ajuste no tom, mas também no conteúdo. Na avaliação de governistas, nesse período quem está se saindo melhor é o pré-candidato tucano, José Serra.
Nas palavras de um aliado da ministra, que não quis ser identificado, "a experiência de Serra em campanhas está fazendo a diferença, ele está deixando a impressão de que é mais experiente, falando serenamente, fazendo uma campanha mais governista do que a Dilma".
Do outro lado, a petista tem se desgastado mais, entrando em mais polêmicas, batendo demais na tecla da comparação entre os governos FHC e Lula e deixando em segundo plano a apresentação de propostas que possam entusiasmar o eleitor.
Diante dessa avaliação, a equipe de campanha está preparando agendas e material para que Dilma desenvolva temas relacionados a mulheres, crianças e juventude, com propostas que seriam implementadas em um eventual governo seu.
Petista rebate Ciro e diz ter "todas as credenciais'
A pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, afirmou ontem que tem "todas as credenciais" para disputar o cargo. Ela listou as funções que já ocupou em diferentes governos ao comentar as críticas feitas pelo deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), que ainda postula concorrer à sucessão do presidente Lula.
Na semana passada, Ciro disse que o pré-candidato tucano, José Serra, era mais preparado do que ela por já ter sido governador, prefeito e ministro.
"Reitero tudo o que disse do Ciro Gomes. Eu o respeito, eu tenho admiração, tenho amizade pelo Ciro Gomes. Opinião dele é opinião dele. No que se refere à posição do Ciro Gomes, não tenho o que comentar. Da minha parte, acho que tenho todas as credenciais para ser candidata a presidente", disse.
Dilma deu entrevista durante o Encontro Estadual do PT, na quadra da Portela, na zona norte do Rio. Ao ser perguntada sobre as declarações de Ciro, ela afirmou ter "experiência nos três níveis da Federação".
Citou ter sido secretária da Fazenda de Porto Alegre, duas vezes secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, ministra de Minas e Energia e ministra-chefe da Casa Civil.
Ela ainda ressaltou ter coordenado "os principais programas de governo do presidente Lula". "Então, eu tenho a minha experiência política. (...) É assim que vou me apresentar ao eleitorado na campanha."
Governo e líderes do PSB ainda acreditam numa reaproximação de Ciro com Dilma. A confiança se baseia na promessa que ele havia feito, antes de disparar suas críticas, de se envolver na campanha da petista.
Na semana passada, antes de suas entrevistas com alfinetadas no presidente Lula e elogios ao tucano José Serra, Ciro prometeu ao seu partido que, tomada a decisão de apoiar a candidata petista, ele iria dar uma "mergulhada" e, depois, faria questão de receber Dilma no Ceará para declarar seu apoio.
"Não esperamos uma imediata adesão, mas creio que ele agirá como um soldado do partido", disse o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral.
Seguindo o cronograma traçado na semana passada, hoje, dirigentes do PSB recebem dos diretórios estaduais respostas sobre a política de alianças.
Também devem receber de Fernando Pimentel, um dos coordenadores da campanha de Dilma, respostas aos pedidos feitos pelo PSB sobre apoio do PT em alguns Estados.
Sobre a definição de qual palanque ocupará no Rio, Dilma disse que será o do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), candidato à reeleição com o apoio do PT, confirmado ontem no encontro da sigla. O pré-candidato Anthony Garotinho (PR) também a apoia.
Em discurso no evento, a ex-ministra ainda criticou os dois governos do ex-presidente Fernando Henrique (PSDB), referindo-se de modo indireto às privatizações, e sempre buscou vincular sua imagem à de Lula.
Presidenciáveis disputam voto evangélico
De olho num rebanho que já representa um quarto do eleitorado brasileiro, os pré-candidatos à Presidência iniciaram uma guerra de bastidores pelo apoio das igrejas evangélicas. A disputa para engajar bispos e pastores nas campanhas promete ser a mais acirrada desde a explosão do segmento religioso, na década de 1990.
À frente nas pesquisas de intenção de voto, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) investem na aproximação com as gigantes Assembleia de Deus e Universal, respectivamente.
Única evangélica na disputa, Marina Silva (PV) enfrenta dificuldade para fechar alianças formais, mas dedica parte expressiva da agenda a encontros com fiéis e líderes religiosos.
Desde outubro passado, os três concorrentes já bateram à porta do presidente da Convenção Geral da Assembleia de Deus, pastor José Wellington Bezerra da Costa. Ele lidera cerca de 10 milhões de seguidores, o equivalente à população do Rio Grande do Sul. Pouco conhecido fora dos templos, é considerado mais próximo de Serra, a quem apoiou no segundo turno de 2002.
"Serra sempre teve um canal muito forte conosco e mantém contato direto com o pastor José Wellington. Os dois conversam muito por telefone", afirma o pastor Lélis Marinho, relator do conselho político da Assembleia e responsável por negociar com os partidos.
Apesar do flerte tucano, o líder da igreja também tem sido cortejado pelos outros concorrentes. Há seis meses, ainda como chefe da Casa Civil, Dilma participou de sua festa de 75 anos, num templo em São Paulo. Orou com os fiéis e disse, no púlpito, que o governo Lula defendia "valores cristãos".
Fiel da Assembleia, Marina se reuniu com o conselho da igreja em março, em Brasília. Mas o fato de ser considerada um azarão deve impedir uma aliança. "Por ser da igreja, Marina seria nossa candidata de coração. Mas precisamos saber se sua candidatura foi lançada só para atender a interesses do partido", diz Lélis. "Vamos nos definir em junho, perto das convenções [partidárias]."
Vista com reservas em setores do meio evangélico, Dilma tem recorrido à ajuda de aliados como o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), bispo da Igreja Universal, e o ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PR), presbiteriano.
"Dilma tem posições pouco claras em questões sensíveis aos evangélicos, como a defesa da família e o aborto. Ela ainda precisa ser reconhecida como defensora das causas cristãs", disse Garotinho na noite de sexta-feira, quando chegava a um encontro com evangélicos na Baixada Fluminense.
A ex-ministra busca o apoio da Convenção Nacional da Assembleia de Deus, que contabiliza 5 milhões de seguidores. Seu líder é o deputado pastor Manoel Ferreira (PR-RJ), pré-candidato ao Senado na chapa de Garotinho. Ele simboliza a volatilidade das alianças "de fé": em 2002, quando o PSDB era governo, apoiou Serra no segundo turno. Em 2006, com o PT no poder, esteve com Lula.
Aliada do presidente em suas duas vitórias, a Universal é tida como certa na campanha de Dilma. O PRB, ligado à igreja, deve integrar a coligação. "A tendência é apoiar Dilma", diz o presidente do partido, bispo Vitor Paulo, que divide com Crivella a função de articulador político do bispo Edir Macedo.
Para a equipe de Marina, a identificação com os evangélicos será um de seus maiores trunfos na eleição. Ela tem aproveitado as viagens da pré-campanha para encontrar pastores, orar com grupos de fiéis e dar entrevistas a emissoras de rádio e sites religiosos.
"Não temos cacife para disputar a cúpula das maiores igrejas, mas a Marina tem comunicação direta com a base cristã. Por mais que o pastor mande votar na Dilma, os fiéis vão saber quem tem fé", alfineta o coordenador da campanha do PV, Alfredo Sirkis.
Em março, a senadora ouviu promessa de apoio de Silas Menezes, número dois da hierarquia da Igreja Presbiteriana, com 1 milhão de seguidores. O reverendo declarou que ela merecia o voto dos cristãos por ser uma "doméstica da fé".
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