É… Ciro Gomes foi cem por cento Ciro Gomes na entrevista ao SBT Brasil.
Repetiu tudo o que está no texto assinado por Eduardo Oinegue, publicado no iG, mas negou que tenha concedido uma entrevista ao portal… Vai ver o jornalista desenvolveu o dom da adivinhação. Atacou, como de hábito, José Serra — que trataria, segundo ele, os adversários como inimigos —, mas repetiu que o tucano está mais preparado para governar o Brasil. Num particular, e bastante relevante, Ciro avançou um tanto mais. Já chego lá.
Ciro admitiu que Lula e o PT atuaram para desidratar sua candidatura e voltou a criticar José Dirceu, que teria ido à casa de seu irmão, o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), para fazer ameaças: o PT retiraria o apoio a Cid caso Ciro fosse candidato. pelo PSB “Esse [José Dirceu], eu já mandei pastar”.
Dirceu ser um dos coordenadores da campanha de Dilma é, segundo Ciro, um dos erros cometidos pelo PT: “Um desacato ao Judiciário e à opinião pública”. Disse que os primeiros movimentos de Dilma o deixaram arrepiado: a visita ao túmulo de Tancredo e a ida ao Ceará, “sem nem um telefonema”. E emendou: “Não porque eu seja um coronel, mas porque eu sou candidato, caramba!”
Ciro não se disse ainda um não-candidato — já que seu partido toma a decisão oficial na terça-feira —, mas sabe que está fora do jogo. Foi ambíguo sobre o futuro: num dado momento, afirmou que obedecerá às diretrizes do partido; noutro, que vai cantar em outra freguesia, dando a entender que deixa o PSB.
Dossiê
Na “não-entrevista” (!!!) ao iG, Ciro afirmou que o PT recorreria de novo a coisas como o dossiê dos aloprados. Na entrevista ao SBT Brasil, ele se estendeu um pouco mais: deu a entender que o governo já mobilizou o Ministério da Justiça para tentar envolver o candidato do PSDB à Presidência com supostas irregularidades da Alstom.
MUDO
Lula, que sempre tem tanto a dizer, de frieira ao uso pacífico da energia nuclear, reagiu assim quando indagado sobre as críticas de Ciro Gomes:
“Estou mudo!”
Ciro frustra o Planalto e irrita Lula com elogio a tucano
Vera Rosa e Tânia Monteiro - O Estado de S.Paulo
De todas as estocadas do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), a que mais surpreendeu e irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o elogio feito pelo antigo aliado a José Serra, candidato do PSDB ao Palácio do Planalto. Furioso, Lula orientou Dilma Rousseff, concorrente do PT, a não entrar no bate-boca para não jogar mais combustível na crise.
Para Lula, o fato de Ciro ter dito que ele está “navegando na maionese” não passa de “bobagem”, mas a declaração referente a Serra - definido pelo deputado como “mais preparado, mais legítimo e mais capaz” do que Dilma - foi recebida como traição.Em público, Lula não comentou a entrevista de Ciro ao portal iG.
“Estou mudo”, disse ele, ao chegar ontem para a posse do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso. Longe dos holofotes, porém, não escondeu a contrariedade. No seu diagnóstico, Ciro quebrou o acordo de tudo fazer para ajudar Dilma.
O presidente qualificou a situação como “dolorosa”. A auxiliares, afirmou que não havia chamado Ciro para uma conversa a sós, até hoje, porque aguardava um sinal do PSB. Na prática, não sabia o que fazer. A certa altura, chegou mesmo a achar que ele aceitaria ser candidato ao governo de São Paulo, com o apoio do PT. Era o script combinado.
Depois, quando Ciro começou a bater cada vez mais duro, Lula recebeu da cúpula do PSB a garantia de que a desistência do cearense da disputa presidencial seria “administrada”. O ex-ministro, porém, fugiu do controle. Aqui
O golpe de graça do PSB
Leiam editorial do Estadão:
O Partido Socialista Brasileiro (PSB) marcou para terça-feira as exéquias da candidatura Ciro Gomes ao Planalto. Se dependesse da cúpula da legenda, as pretensões presidenciais do deputado pelo Ceará deveriam se desmanchar “espontaneamente”, em fogo brando, como já sugerem as pesquisas. Mas depois que - em um artigo tipicamente agressivo - ele chamou os socialistas às falas para se decidirem de uma vez por todas, o comando da agremiação resolveu antecipar o desenlace, mediante um golpe de graça para salvar a face de Ciro.
Em seguida a uma consulta aos diretórios regionais da sigla, neste fim de semana, a executiva socialista de 18 membros resolverá na terça o que de há muito resolvido está: o partido não terá candidato próprio à sucessão do presidente Lula e se integrará à caravana dilmista. Numa de suas exortações para que o PSB fizesse o contrário, indo consigo à disputa, o duas vezes ex-presidenciável argumentou que, de outro modo, a sigla estaria fadada a imitar o PC do B em matéria de subserviência ao governo. É verdade, mas não toda a verdade.
De um lado, o cacife político da legenda era e é notoriamente insuficiente para contrariar a estratégia eleitoral lulista do “nós e eles”, firmada depois que se dissiparam as dúvidas sobre a saúde da então ministra Dilma Rousseff. A sorte de Ciro foi, como se diz, selada a partir do momento em que o presidente e o PT concluíram que a entrada em cena de um segundo nome governista, embora garantisse que a sucessão só se decidirá no segundo tempo, representaria um risco incalculável para as chances de Dilma.
Não seria o lulismo que se exporia à eventualidade de ver migrar para ele parcela decisiva do eleitorado, à medida que as limitações da candidata se revelassem insuperáveis. No limite, melhor perder com Dilma - hipótese que Lula trataria de tornar inconcebível - do que ganhar na segunda rodada com o instável e boquirroto aliado, que ainda ontem acusou Lula de “navegar na maionese” ao se achar o “Todo-Poderoso”. Ciro detesta o PT quase tanto quanto o PSDB a que já esteve filiado, considerando ambos faces da mesma suposta hegemonia política paulista.
Além disso, no que dependesse do PMDB, Ciro morreria na praia. Não foi ele quem classificou a aliança PT-PMDB — neste caso coberto de razão — como um “roçado de escândalos”? (O que levou Dilma a atribuir-lhe o pecado da soberba.) De outro lado, com 28 deputados, formando a oitava bancada das 20 da Câmara, e apenas 3 governadores, o PSB precisa compor-se com o PT para não definhar no plano regional. Os socialistas têm 11 candidatos a governador, mas só 3 deles apoiados pelos petistas. E, correndo por fora, a anunciada aspiração do partido de “duplicar a bancada” federal se tornaria ainda mais despropositada do que já parece.
O próprio Ciro não tem moral para se queixar do presidente ou de seus correligionários. Afinal, ele aceitou prestar-se à ostensiva jogada de Lula para tirá-lo do pleito nacional, concordando em transferir do Ceará para São Paulo, seu Estado natal, o seu título de eleitor. Com isso, Ciro apequenou a sua alardeada imagem de altivez e independência, mesmo sabendo serem praticamente desprezíveis as chances de o PT paulista fechar com a sua candidatura ao governo estadual. Numa versão caridosa, ele teria querido dar uma prova de lealdade a Lula, na expectativa de que, ao fim e ao cabo, o “Todo-Poderoso” o deixasse competir no páreo principal. Se assim entendesse, agiria como um néscio - o que ele não é.
O esperado fim da quimera de Ciro privará a campanha de uma presença desejável, como desejável é a da ex-ministra Marina Silva, para, entre outras coisas, ampliar o debate das questões nacionais.
Por deploráveis que sejam os seu rompantes temperamentais e os estereótipos nos quais se enreda com frequência, é inegável que ele demonstra ter luz própria quando fala sobre o País - mais do que a escolhida de Lula, que outra coisa não diz a não ser que o seu padrinho é o máximo. Também por isso, talvez, Ciro julga o tucano José Serra “mais preparado, mais legítimo, mais capaz” do que ela.
O PREÇO DO PSB PARA ENTREGAR A CABEÇA DE CIRO
Leonêncio Nossa e Eugênia Lopes, no Estadão:
A três dias de negar a legenda para que Ciro Gomes se candidate à Presidência, o PSB se prepara agora para cobrar a fatura. Em troca da adesão à candidatura da petista Dilma Rousseff, o partido reivindica o apoio do PT nos Estados. Os socialistas querem que o PT libere partidos da base aliada, como o PR e o PC do B, para apoiar candidatos do PSB a governos estaduais. A Executiva Nacional do PSB se reúne na terça-feira, para bater o martelo sobre a candidatura de Ciro. A lista de pleitos foi entregue ontem à coordenação da campanha de Dilma pela cúpula do PSB.
O presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, reuniu-se ontem pela manhã, por mais de duas horas, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Saiu do encontro dizendo que Ciro terá de aceitar a decisão do partido sobre o destino de sua candidatura. “A decisão que ocorre na próxima terça-feira vai ser compactuada por Ciro e por todos os companheiros, pois isso foi compactuado com ele”, afirmou Campos, ao deixar o Palácio da Alvorada.
Uma das reivindicações do PSB é em relação a São Paulo, onde o partido disputará o governo do Estado com o empresário Paulo Skaf. Os socialistas querem que o PT libere o PC do B e o PR para fazer aliança em torno de seu candidato. No Espírito Santo e no Rio Grande do Sul também querem que o PT autorize o PC do B para apoiar seus candidatos ao governo do Estado - o senador Renato Casagrande e o deputado Beto Albuquerque, respectivamente.
Palanque. Ao mesmo tempo, a cúpula do PSB defende a tese de que nesses três Estados Dilma tenha palanque duplo. Ou seja, que ela e Lula também façam campanha para os candidatos do PSB e não só para os petistas. O PSB quer ainda garantia de “neutralidade” na Paraíba. O ex-prefeito Ricardo Coutinho é candidato ao governo do Estado, mas o PT decidiu apoiar a reeleição do governador José Maranhão (PMDB). Aqui