Onde ficou a pecuária brasileira no PAC? (Artigo)
A sanidade animal em nível continental continua sendo um desafio para a América do Sul. Sermos barrados de alguns mercados por motivos sanitários, começar 2010 ainda com a União Europeia de portas fechadas, à espera de uma nova missão que possa nos dar um parecer de boa conduta, é emblemático e mostra o quanto a pecuária brasileira precisa ser repensada pelo setor.
Como é possível que o Brasil, com o maior rebanho bovino do mundo explorado comercialmente, com faturamento líquido que se mede na casa dos bilhões de dólares, desde 2002 continue refém da falta de competência para implantar um sistema de rastreabilidade? Como é possível que uma doença chamada aftosa possa paralisar as exportações, gerar enorme desemprego nos frigoríficos e complicar o abastecimento interno pelo acúmulo de oferta? Enfim, como é possível o Brasil continuar refém dessa situação por falta de investimento em defesa sanitária com um orçamento atual depauperado?
A pecuária brasileira, como segmento estratégico na produção alimentar e na interiorização da economia de forma produtiva, merece uma defesa sanitária altamente eficiente e, mais do que isso, tem condições de alavancar a erradicação da febre aftosa na América do Sul por meio de ações diplomáticas e de sanidade pró-ativas e compartilhadas. Não podemos continuar à mercê de uma doença já erradicada em boa parte do mundo civilizado, sendo que se detém tecnologia para isso. É difícil acreditar que faltem recursos. Um país que não dá prioridade à sanidade animal não enxerga esse segmento no prisma real da sua importância.
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não contemplou até hoje a agropecuária diretamente. Apesar de o governo declarar que o setor agrícola será beneficiado pelos investimentos anunciados em infraestrutura, a realidade é que continuamos sem um programa estratégico de crescimento das exportações do agronegócio e da transformação do Centro-Oeste num celeiro mundial. Não temos planejamento estratégico de desenvolvimento da agropecuária e, tal como o programa de rastreabilidade continua uma colcha de retalhos, o PAC não passa de um remendo de estradas e de um anúncio de ideias. A infraestrutura tem de ser tratada num projeto macroeconômico e estratégico, para o Brasil realmente vir a crescer.
O Ministério da Agricultura não é tratado como prioritário pelo governo. Na verdade, esse comportamento tem sido praxe de todos os governos nos últimos 30 anos, que sempre subestimaram a agricultura. Em ano eleitoral os projetos aparentemente visam a entusiasmar a população para um novo Brasil com crescimento acelerado, mas o governo se esquece novamente da agricultura. As áreas que engendraram essas ideias são nitidamente urbanas e representam outros interesses políticos. O que falta à pecuária brasileira é repensar uma agenda de retomada do setor.
O PAC é uma lista de intenções, em que a pecuária não foi contemplada. Os governantes confundem a imagem do setor com os interesses pessoais do pecuarista e deixam de pensar em interesses nacionais e projetos que envolvem empregos e competitividade internacional, que amealham dólares e recursos para financiar nosso desenvolvimento.
Se o País tivesse uma agenda de crescimento real para a pecuária, não estaríamos procurando clientes na África, estaríamos apresentando ao mundo um projeto de produção de carne bovina com sustentabilidade. Esse é o Brasil grande com que sonhamos e que certamente não está no PAC nem nas intenções de governo forte, centralizador e social de dona Dilma Rousseff.
PECUARISTA, ENGENHEIRO QUÍMICO, É MEMBRO DA CÂMARA SETORIAL DA CARNE DO ESTADO DA BAHIA
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